Tuxedomoon
Fórum Lisboa, Lisboa
13 Abr 2005

Uma banda, com mais de 25 anos de carreira, com fama de dar bons concertos. Uma noite em Lisboa. Um Fórum Lisboa algo composto, com fãs e curiosos. Quatro bons músicos. O que é que correu mal? Porque é que é impossível existir quem não se sentisse defraudado?
Para começar, os Tuxedomoon existiram durante pouco mais de uma década, do final dos anos 70 até ao final dos anos 80. Algures no final dos anos 90 – sim, sempre no final das décadas – voltaram a juntar-se, para um concerto em Tel Aviv. Em 2004 lançaram um novo disco, Cabin in The Sky, e vieram a Portugal, a Aveiro, para um concerto aparentemente memorável. Em 2005 voltam a Portugal, para duas datas, uma em Famalicão e outra em Lisboa.

Cinco homens em palco. Três deles os mesmos que em 1977 começaram a banda em São Francisco. Blaine Reininger, Steven Brown e Peter Principle são os nomes a recordar. Os dois primeiros cantam e escrevem canções, e estão em lados opostos do palco. Canções ora românticas e bonitas, algo como as de uns Blue Nile americanos, ora absurdistas, com letras que não passam de jogos de palavras ou trocadilhos simples, com um jogo de vozes parecido com aquele dos They Might Be Giants. Para além disto, Reininger e Brown são versados, respectivamente, nos teclados, saxofones e clarinetes e no violino e guitarra eléctrica. Peter Principle, homem forte com cabelo à Steven Seagal mas mais careca, fica no meio, mais atrás, a tocar no seu baixo. Está demasiado ocupado a tocar para dar um concerto. É como se nem fosse humano.
Ainda no meio do palco existem Luc Van Lieshout, no trompete e no fliscorne, bem como na harmónica, e um tal de Bruce Geduldig, que brinca com uma câmara de filmar projectada em tempo real, bem como com alguns objectos espalhados estrategicamente pelo palco. Totalmente dispensável, um homem de barba e cabelo grande com ar de quem não toma banho há vários meses a mostrar o seu traseiro em cima do palco. Para além dos músicos, há batidas e acordeões disparados por alguém de fora, adições totalmente supérfluas.

© Luís Bento

E foi basicamente esse o problema dos Tuxedomoon ao vivo. É que só existem dois. Fisicamente estão lá cinco homens, mas só dois deles é que existem. Cantam, dizem piadas, mas só começam a aquecer após a segunda metade do concerto. Como foi um concerto curto, pouco tempo houve para desfrutar do mesmo, o que não invalida alguns momentos entediantes, especialmente em alguns instrumentais dos últimos tempos. Estes são demasiado baseados nos riffs que se repetem de Peter Principle, com melodias cinemáticas a saírem do trompete, do fliscorne ou da harmónica de Lieshout e melodias klezmer a sairem do violino de Reininger e do clarinete de Brown. Às vezes existem paisagens sonoras belíssimas, ou momentos que não ficariam mal numa qualquer banda sonora de Angelo Badalamenti.

Às vezes, em vez do clarinete há um saxofone alto ou um teclado, e aí duvida-se seriamente do bom gosto. ”Good taste knows no bounds”, ou algo parecido, diz Reininger enquanto mostra ao público um isqueiro que um qualquer vendedor de rua de Lisboa lhe vendeu entre flores. Tem luzinhas vermelhas. O público ri. É o primeiro momento de interacção com o público do concerto inteiro. É aí que os Tuxedomoon ganham vida. Talvez seja esse o problema, não haver limites para o bom gosto.

© Luís Bento

Após uma mera hora de concerto, os Tuxedomoon vão-se embora. O público fica 10 minutos a bater palmas, a pedir mais. Lá voltam os cinco homens, fazem o frete de tocar mais um bocado. Após 3 temas, pousam os instrumentos e levantam-se. O Fórum Lisboa levanta-se e aplaude. Afinal os Tuxedomoon levantaram-se apenas para ver se o público estava a prestar atenção. O público pede vários temas, Reininger brinca, dizendo que adoraria tocar todos esses temas, mas não o vai fazer. Fazem o frete de tocar mais um tema e vão-se embora.

O público aplaude, mas aplaudiu o quê? O concerto? A banda? Por respeito? Por ter gostado do concerto? Talvez estivessem a aplaudir a máscara de super-herói que Steve Brown pôs a dado momento do concerto. Ninguém sabe donde veio ou para onde foi, nem o que estava lá a fazer. Supostamente os Tuxedomoon são uma grande banda ao vivo. No Fórum Lisboa não o foram. Uma história, um passado, bons músicos, algumas canções, composições irrepreensíveis e pouco mais de uma hora não chegam para fazer um concerto. E infelizmente, porque isto não devia ser assim. Mas é.

· 13 Abr 2005 · 08:00 ·
Rodrigo Nogueira
rodrigo.nogueira@bodyspace.net

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