Cocorosie
Aula Magna, Lisboa
14 Abr 2007
Quem julgasse que o perfil público das irmãs Casady teria diminuído com os lançamentos que se seguiram à estreia que lhes deu notoriedade, La Maison De Mon Reve, viu tais ideias serem esmagadas pelo peso inegável de uma Aula Magna extremamente bem composta, e por séries de aplausos ruidosos que chegaram mesmo ao nível da ovação de pé ao fim da hora e meia de actuação das Cocorosie.

A noite, no entanto, não começou ao som de Sierra e Bianca, mas do “human beatboxer” Tez. Durante vinte minutos, Tez entreteve a assistência com um set de gira-disquista feito unicamente com a voz, incluindo todos as batidas e cortes. Um forte aplauso foi a sua recompensa antes da entrada em palco das artistas principais da noite.

Em disco, as Cocorosie praticam uma indie-pop que vai até à folk mais etérea, misturada com experiências com sons de brinquedos, o que lhes dá iguais possibilidades de serem amadas ou odiadas pelo lado infantil daquilo que fazem. As projecções d’”O Meu Pequeno Pónei” e dos “Ursinhos Carinhosos” que usaram é prova mais que suficiente. Ao vivo, porém, os brinquedos são usados mas mais resguardados. Bianca Casady tem o direito à maior parte das vocalizações, utilizando um registo que faz, a espaços, lembrar uma Bjork menos viajada. Sierra, que, para além da voz, teve também direito a usar uma guitarra acústica e uma harpa em algumas canções, tem a oportunidade frequente de demonstrar a sua bela voz de treino operático. Tudo bem até aí. Mas é nos arranjos que as Cocorosie ganham o concerto.

Com o regressado Tez, um baixista e um pianista, as Cocorosie elaboram um ambiente para as suas músicas que lhes retira do ambiente de creche, e lhes dá uma renovada tensão e robustez, sobretudo quando cantam as suas melodias acompanhadas pelas teclas do piano. Quando os sons ouvidos se assemelham a batidas vindas do hip-hop, Bianca e Siera estão à beira de um híbrido onde a sua pop indie está a um passo de virar para o R&B, mostrando que as fronteiras entre géneros são uma definição que corre o risco de mudança a toda a altura.

Vocalizações seguras, uma boa interacção entre as irmãs com bonitos contrapontos, canções que fazem Sierra dançar enquanto Bianca canta, muitas canções a merecerem aplausos de reconhecimento logo aos primeiros sons, pianos de brincar, uma versão truncado do hino americano com um brinquedo a dizer “Danger” em “Rainbowarrior” valeram reacções constantemente positivas e ruidosas da assistência. Encore muito pedido, com três músicas onde se ouviu Siera a cantar ao piano, harpa, o beatboxing a virar para o techno, e um final com harpa e voz onde as Cocorosie chegaram à pop. No final, o já referido aplauso de pé. As Cocorosie têm uma dedicação especial de um público que se reuniu nesta noite. Se correm riscos pelo formato musical por que optaram, são, ao mesmo tempo, um abraço íntimo aos neurónios, capaz de gerar altos níveis de empatia.
· 14 Abr 2007 · 08:00 ·
Nuno Proença
nunoproenca@gmail.com
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