Susana Baca
Centro Cultural Vila Flor, Guimarães
07 Abr 2007
É um facto que o fascínio das sociedades europeias e ocidentas pelas músicas da América Latina se exponenciou após o fenómeno “Buena Vista Social Club”. Se bem que antes já havia nichos estabelecidos de cultores de world music, depois do filme realizado por Wim Wenders a curiosidade com as músicas cubanas e, adicionalmente, com as musicalidades latinas em geral, cresceu de forma galopante. A peruana Susana Baca dificilmente se pode enquadrar neste fenómeno, mas também viu a sua popularidade crescer quado a meio dos 90’s David Byrne editou a colectânea The Soul of Black Peru.

Susana Baca © Márcia Lessa

Com a exposição mediática oferecida pela editora Luaka Lop, Susana Baca tem percorrido diversos palcos por todo o mundo e no fim-de-semana de Páscoa apresentou-se para dois espectáculos em Portugal: primeiro no cinema São Jorge, em Lisboa, no dia seguinte no Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães. Foi a este segundo espectáculo que tivemos oportunidade de assistir. Acompanhada por um quarteto instrumental, a cantora da mestiçagem afro-peruana confirmou as suas credenciais.

O tapete instrumental que apoiava a cantora foi demonstrando extrema competência, tendo no triângulo rítmico - David Pinto (baixo), Hugo Bravo (percussão) e Juan Medrano, (”cajón”, instrumento tradicional de percussão)– uma base sólida para a música festiva da peruana. Quando chamado a intervir, o guitarrista Sérgio Valdeos desenvolvia um belo trabalho melódico e dava espaço para a voz da cantora brilhar. E Susana Baca demonstrou porque é considerada uma das grandes vozes da América Latina.

Susana Baca © Márcia Lessa

Perante um auditório bem composto, mas não esgotado, a intensidade da música da peruana foi crescendo ao longo do espectáculo. Tornou-se evidente a importância que os ritmos importados de África, disfarçados de caribenhos, têm na sua música. É sobre estes ritmos que Susana Baca canta, aproximando-se algumas vezes do Brasil – pelo meio do concerto há mesmo uma música brasileira, a mostrar que a fronteira geográfica que separa os dois países pode ser mais ténue do que imaginámos. O entusiasmo mostrado no final, com grande parte do público numa ovação em pé, confirmou a merecida reverência por esta grande voz sul-americana.
· 07 Abr 2007 · 08:00 ·
Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com

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