Bonnie ‘Prince’ Billy / Faun Fables
Theatro Circo, Braga
04 Abr 2007
Impossível entrar na sala principal do Theatro Circo sem ficar boquiaberto. Os dourados e os vermelhos, a grandiosidade e dimensões da sala, toda aquela beleza. Quando se fizer um concurso para se determinar as 7 Maravilhas das salas de concertos portuguesas o Theatro Circo será uma delas. Por enquanto vai recebendo algumas das melhores propostas musicais do norte do país e de Portugal. Recebia em noite de sala cheia Bonnie ‘Prince’ Billy, escritor de canções de profissão. É certo que Will Oldham nunca voltou a gravar um disco como I see a darkness (1999) - apesar de quase o conseguir em Master and Everyone (2003). Mas também é certo que o seu passado lhe permite ainda hoje segurar a faixa de um dos melhores escritores de canções dos últimos muitos anos.

Entrou em palco de forma algo caótica, barafustando, montando calmamente os pedais e ligando a guitarra como se não tivesse à sua frente toda uma plateia. Enquanto isso falava distante do microfone e tornava-se impossível entender o que dizia. Quando começou com as canções fizeram-se laços imediatos; aquela voz servida por aquela guitarra eléctrica (outra que não a sua, que se estragou recentemente) vêm cheias de conhecimento e alguma carregam pedaços do mundo e de vida. À partida seria de esperar que The Letting Go, editado em 2006 na Drag City, fosse prato central, mas o ziguezaguear foi constante.

Bonnie ‘Prince’ Billy © Angela Costa

Interpretou canções escritas por outras pessoas para si e canções em que roubou letras de outras canções. Não houve pausa nenhuma que não aproveitasse para tecer comentários mais ou menos apropriados ao momento. Falou de Braga e de camisas, de como foi bom ter passado uns dias em Espanha mas como era incrível voltar a Portugal, calou o indivíduo que insistia em assobiar durante canções com piadas e com a maior classe do mundo. Momento bonito da noite quando “Love Comes to Me” está a ganhar vida e Dawn McCarthy (dos Faun Fables), vinda do escuro, entra em palco durante o refrão. A partir daí formaram longa parceria durante o concerto (tal como acontece em The Letting Go), na maior parte das vezes com sucesso. Momento mais do que mágico quando Will Oldham interpreta a canção maior que a vida, maior que o mundo que é “I see a darkness”: “And then I see a darkness / And did you know how much I love you / Is a hope that somehow you, you / Can save me from this darkness”. Apetece dizer que Bonnie ‘Prince’ Billy não é um génio, mas tem momentos geniais. E o mesmo se pode dizer da actuação no Theatro Circo.

Na primeira parte actuaram os Faun Fables, a dupla improvável formada por Dawn McCarthy e Nils Frykdahl. Ela uma menina vinda da pradaria de vestidinho campestre e com mala da moda; ele com a aparência nu-metal (a fazer lembrar o baixista de System of a Down). Fazem música igualmente provável. Dawn McCarthy entrou na sala vinda do fundo e foi até ao palco entoando cânticos de países longínquos. A encenação continuou no palco: Dawn McCarthy é a passageira de um comboio e Nils Frykdahl é a voz que lhe molda os comportamentos, que lhe impede de beber água e outros líquidos durante a viagem. Pouco depois começam as canções com Dawn McCarthy e Nils Frykdahl a dividirem tarefas nas guitarras acústicas, e o último a completar na flauta transversal. A voz de Dawn McCarthy tem uma força que afecta, na sua forma de conduzir canções por florestas escuras, pela melodia da sua voz em temas anti-melódicos (foi assim que interpretaram Led Zeppelin). Começaram taciturnos, tornaram-se luminosos e acabaram com festa e danças tontas celebradas por Dawn McCarthy. Estes Faun Fables mostraram-se bem mais interessantes ao vivo do que aquilo que são em disco.
· 04 Abr 2007 · 08:00 ·
André Gomes
andregomes@bodyspace.net
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