Micah P. Hinson / Will Johnson
Theatro Circo, Braga
25 Jan 2007
A dicotomia Lisboa-Porto, no que respeita a anfitriões de espectáculos, já era. Ainda que se mantenha o equilíbrio Norte-Sul, a concentração de eventos musicais nas duas grandes cidades deixou de ser tão previsível. Num raio de relativa proximidade com o Porto, encontraram-se novos locais de recolhimento para melómanos e gente curiosa e atenta. Este nicho de, também eles, consumidores passou a rumar a Vila Nova de Famalicão, Guimarães, Arcos de Valdevez e mais frequentemente nos últimos tempos, Braga. A recuperação e reabertura do Theatro Circo assim o dita. Contudo, o factor que determina de forma mais eficaz essa peregrinação não deixa de ser o leque de boas opções que preenchem a programação da casa. Para esta noite, estava agendado o regresso de um dos mais promissores e elogiados songwriters norte-americanos, que havia já pisado palcos portugueses por duas vezes, curiosamente ambas em Famalicão. Micah P. Hinson ainda não desfez a bagagem que transporta o seu último disco Micah P. Hinson and the Opera Circuit, lançado no ano passado. Daí o mote para o encontrarmos novamente entre nós.
Já passava das 22h30 quando o músico fez a sua entrada em palco. Atendendo ao seu aspecto, alguns poderão lembrar-se de um Erlend Øye. Só que, Micah não é o choninhas que aparenta à primeira vista. Não são bem os episódios que se contam acerca do seu passado que legitimam essa conclusão, mesmo que um percurso que inclua consumo de narcóticos e prisão aos 19 anos não se encontre ao virar de cada esquina. O que acontece com Micah é que nos deixa desconcertados com o à vontade com que enfrenta o público. Mais ou menos humorísticos, mais ou menos boçais, os comentários que lhe saem da boca constituem manobras de diversão fáceis que o público acolhe com simpatia. E dão sempre jeito para desviar a atenção dos problemas que a passagem dos discos para as actuações ao vivo vai colocando. Em Braga, o músico optou por se fazer acompanhar de Nick Phelps, que se desdobra entre a lapsteel, o banjo e a bateria, tentando evitar o inevitável: a simplificação em demasia de composições que conhecemos bem mais arranjadas.
Imperturbável, Micah vai alternando o desfile de temas mais antigos (a que não arrisco designar de clássicos) com amostras do seu mais recente lançamento. Pelo meio das incursões aos anteriores discos, o público manifesta agrado mal ouve os primeiros acordes de “Beneath the Rose”, tema forte retirado do álbum de estreia Micah P. Hinson & The Gospel of Progress. Perante a escassez de recursos potenciadores de maiores malabarismos instrumentais, valeu a Micah P. Hinson a honestidade da interpretação, assente no portento da sua voz, grave e precocemente amadurecida. De resto, os momentos de maior colorido surgiam com a introdução do banjo, elemento propulsor em temas como “Diggin’ a Grave” ou “Don’t Leave Me Now”. Ao cabo de aproximadamente uma hora e meia, Micah P. Hinson dava por terminado o alinhamento escolhido para o serão, ao qual havia imposto a disciplina da redução de tempo para cada tema. As escolhas para encore revelaram-se demasiado evidentes: “Patience” – obviamente muito esperado pela audiência, e “This Old Guitar”, um original de John Denver. Esta última poderia ter sido uma escolha original, não fosse o facto de Micah ter optado pelo mesmo fecho em Famalicão, onde incluiu igualmente dedicatória ao pai.
O músico que abriu as hostilidades, e que dá pelo nome de Will Johnson, não é, também ele, um estreante em Portugal. No ano passado, num contexto bem diferente, havia actuado na Casa da Música. Isto porque, o músico texano que esta noite se apresenta a solo é também parte integrante dos projectos Centro-Matic, South San Gabriel e The Undertow Orchestra. Foi com este último, do qual faz igualmente parte Mark Eitzel, que actuou no Porto. Mas Johnson é humilde, rende-se à beleza da sala do Theatro Circo ,“o melhor sítio onde já toquei”, e faz desfilar cerca de uma dezena de temas compostos a solo ou com as formações que integra. Trata-se de uma música de travo country/blues que, nos apontamentos mais bem conseguidos, faz lembrar, por vezes, Richmond Fontaine. Antes de abandonar o palco pede um aplauso ao amigo Micah, com o qual descortinamos ter grande cumplicidade (os elogios são recíprocos). No palco voltaria a encontrar-se a meio da actuação do seu conterrâneo para dar uma mãozinha na bateria. Uma passagem simpática, infelizmente algo inconsequente e monótona à qual não será alheia a espera para o prato principal.
Já passava das 22h30 quando o músico fez a sua entrada em palco. Atendendo ao seu aspecto, alguns poderão lembrar-se de um Erlend Øye. Só que, Micah não é o choninhas que aparenta à primeira vista. Não são bem os episódios que se contam acerca do seu passado que legitimam essa conclusão, mesmo que um percurso que inclua consumo de narcóticos e prisão aos 19 anos não se encontre ao virar de cada esquina. O que acontece com Micah é que nos deixa desconcertados com o à vontade com que enfrenta o público. Mais ou menos humorísticos, mais ou menos boçais, os comentários que lhe saem da boca constituem manobras de diversão fáceis que o público acolhe com simpatia. E dão sempre jeito para desviar a atenção dos problemas que a passagem dos discos para as actuações ao vivo vai colocando. Em Braga, o músico optou por se fazer acompanhar de Nick Phelps, que se desdobra entre a lapsteel, o banjo e a bateria, tentando evitar o inevitável: a simplificação em demasia de composições que conhecemos bem mais arranjadas.
Micah P. Hinson © João Pedro Barros |
Imperturbável, Micah vai alternando o desfile de temas mais antigos (a que não arrisco designar de clássicos) com amostras do seu mais recente lançamento. Pelo meio das incursões aos anteriores discos, o público manifesta agrado mal ouve os primeiros acordes de “Beneath the Rose”, tema forte retirado do álbum de estreia Micah P. Hinson & The Gospel of Progress. Perante a escassez de recursos potenciadores de maiores malabarismos instrumentais, valeu a Micah P. Hinson a honestidade da interpretação, assente no portento da sua voz, grave e precocemente amadurecida. De resto, os momentos de maior colorido surgiam com a introdução do banjo, elemento propulsor em temas como “Diggin’ a Grave” ou “Don’t Leave Me Now”. Ao cabo de aproximadamente uma hora e meia, Micah P. Hinson dava por terminado o alinhamento escolhido para o serão, ao qual havia imposto a disciplina da redução de tempo para cada tema. As escolhas para encore revelaram-se demasiado evidentes: “Patience” – obviamente muito esperado pela audiência, e “This Old Guitar”, um original de John Denver. Esta última poderia ter sido uma escolha original, não fosse o facto de Micah ter optado pelo mesmo fecho em Famalicão, onde incluiu igualmente dedicatória ao pai.
Micah P. Hinson © João Pedro Barros |
O músico que abriu as hostilidades, e que dá pelo nome de Will Johnson, não é, também ele, um estreante em Portugal. No ano passado, num contexto bem diferente, havia actuado na Casa da Música. Isto porque, o músico texano que esta noite se apresenta a solo é também parte integrante dos projectos Centro-Matic, South San Gabriel e The Undertow Orchestra. Foi com este último, do qual faz igualmente parte Mark Eitzel, que actuou no Porto. Mas Johnson é humilde, rende-se à beleza da sala do Theatro Circo ,“o melhor sítio onde já toquei”, e faz desfilar cerca de uma dezena de temas compostos a solo ou com as formações que integra. Trata-se de uma música de travo country/blues que, nos apontamentos mais bem conseguidos, faz lembrar, por vezes, Richmond Fontaine. Antes de abandonar o palco pede um aplauso ao amigo Micah, com o qual descortinamos ter grande cumplicidade (os elogios são recíprocos). No palco voltaria a encontrar-se a meio da actuação do seu conterrâneo para dar uma mãozinha na bateria. Uma passagem simpática, infelizmente algo inconsequente e monótona à qual não será alheia a espera para o prato principal.
· 25 Jan 2007 · 08:00 ·
Eugénia Azevedoeugeniaazevedo@bodyspace.net
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