Red Krayola
Galeria Zé dos Bois, Lisboa
15 Dez 2006
Os Red Krayola não são os Red Crayola. Não. Os Red Krayola, ao vivo e em disco, são Mayo Thompson. E quem quer que apareça. Ao vivo, na Galeria Zé dos Bois, são dois velhos americanos com mais de 50/60 anos com guitarras afinadas de forma estranha e com pouco domínio dos seus instrumentos e da caixa de ritmos que os atrapalha mais do que ajuda. Soam, de vez em quando, a pós-punk britânico visto pela estética da no wave e das músicas da baixa de Nova Iorque dos anos 80. Mas Thompson é de Houston, Texas, e anda nisto desde 1967.

Tocam maioritariamente temas recentes, através dos riffs angulares, das batidas dançáveis e da voz gritada ou amadoramente cantada. Soam incrivelmente bem. As canções tanto podem ser folk-rock, punk, pós-punk ou rock pejado de psicadelismo (movimento no qual muitas vezes se enfia os Red Crayola). Mayo Thompson é simpático e bem humorado dentro do estilo “acabei de acordar, sou velho e tomei muitas drogas”. Chega a referir Snakes On A Plane, e não há como não simpatizar com ele.

A caixa de ritmos falha demasiadas vezes e tem de ser substuída. Tenta-se fazer de tudo, mas vai atrapalhando cada vez mais. Resolve-se finalmente, tempos depois, mas, dois ou três temas depois disso – e depois de horas a chamar por um tal “Fonzo” baterista -, Mayo Thompson convida Afonso Simões, baterista dos Fish & Sheep, para tocar com ele, numa colaboração meio improvisada que cedo entra nos eixos e se prova uma boa adição, soando extremamente bem.

Pouco depois entra em palco – depois de também ter sido chamado – Pedro Gomes, programador da sala e guitarrista dos CAVEIRA (e até colega de Simões nos Braço e nos Manta Rota). Traz a sua distorção típica de CAVEIRA, destruição maciça sem misericórdia. Thompson estranha, a princípio, mas o seu acompanhante entra na onda e começa a saltar e a armar-se em guitar hero (na parte das poses e movimentos em palco). Na canção seguinte Gomes percebe que tem de acalmar e faz isso mesmo, lançando de vez em quando apontamentos desconexos que funcionam bem.

É fácil ver a influência que Thompson teve em várias gerações de músicos. Ou que não teve e só encontrou por acaso. O absurdo e surrealismo e humor das letras deve/dá muito a gente como Jonathan Richman (dos Modern Lovers) ou os They Might Be Giants, enquanto as guitarras devem/dão muito à geração nova-iorquina arty dos anos 80. E Thompson aparece em cidades pequenas, como Lisboa, uma cidade, diz ele, à qual nunca esperou ir tocar quando se meteu na música, e tem vontade de tocar com músicos locais. Parece um tipo simpático, um velho simpático, para um público estático mas bastante bem composto. E não é propriamente assim tão mau ter uma caixa de ritmos estragada, o amadorismo faz parte de tudo isto, e Thompson, lá no fundo, até deve sorrir quando percalços destes acontecem.
· 15 Dez 2006 · 08:00 ·
Rodrigo Nogueira
rodrigo.nogueira@bodyspace.net

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