Jesus, The Misunderstood / Noiserv
Sociedade Guilherme Cossoul, Lisboa
11 Nov 2006
Antes de mais destaque-se a iniciativa original. Era a apresentação do disco de estreia dos Jesus, The Misunderstood e no preço do bilhete do concerto estava incluída a oferta do disco. Quem vai ao concerto vive o momento live e ainda leva o souvenir para ouvir repetidamente em casa. Uma óptima ideia, que promove a música e rentabiliza o custo do ouvinte. Ao que parece a Bor Land apresenta um conceito semelhante – os “concertos domésticos” Innerland - que englobam jantar+concerto+disco. Iniciativas destas que promovem a música de forma mais apelativa são sempre de louvar.

E depois o sítio. A Sociedade de Instrução Guilherme Cossoul fica localizada em Santos, entre os bares Refúgio das Freiras e Fluid, num primeiro andar com todo o ar de associação recreativa. Há um auditório óptimo para espectáculos de pequena/média dimensão e ainda um barzinho (sempre necessário). Não admira portanto que vão acontecendo cada vez mais eventos – música, teatro - naquele espaço. Para esta festa de apresentação do disco Thinking Too Much Increases the Risk of Smoking o auditório estava cheio, com um público que maioritariamente não passaria a fronteira dos vinte anos.
Noiserv © Vera Marmelo

A primeira parte esteve a cargo de Noiserv, songwriter solitário que se faz acompanhar simplesmente de uma guitarra. David Santos, o rapaz da guitarra, esboça uma folk melancólica que poderia ser herdeira de Jeff Buckley se arriscasse mais contrastes e há algo que nos leva a pensar nas linhas melódicas dos anos 90. Estes traços de melancolia outonal podem ser encontrados no EP 56010-92, edição Merzbau de 2005.

Por sua vez, os Jesus (abreviatura para os amigos) apresentam canções mais trabalhadas. Servindo-se quase sempre de guitarras arrastadas – quase lembrando as melodias tristes dos Red House Painters, por exemplo - as canções evoluem em pequenos crescendos que chegam até refrões quase-pop. Uma espécie de slowcore dinâmico, poderíamos dizer. A faixa “Oh No” é um dos registos mais pop do álbum – o refrão consegue agarrar – e é um dos temas mais festejados ao vivo; o uso do banjo em “April” acaba por funcionar bem, sendo esta outra bela canção. A maioria dos temas mantém a toada nostálgica, com um nível de produção positivo, a provar que o indie rock nacional tem aqui bons cultores.

Jesus, The Misunderstood © Vera Marmelo

Para o encore ficou guardada a cover de “Sweet Jane”, com o patrão Tiago Sousa (o responsável da editora Merzbau, baixista de serviço e autor do surpreendente Crepúsculo) a tomar a vocalização para um final em desbunda - terminologia adolescente que melhor caracteriza uma situação de divertimento descontrolado. Valeu pela festa e pela apresentação de um disco que promete agradar à comunidade indie portuguesa.
· 11 Nov 2006 · 08:00 ·
Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com
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