La Camorra / Lekan Babaloa / Cassandra Wilson - XXIII Festival Jazz Madrid 2006
Centro Cultural de la Villa, Madrid
04 Nov 2006
O XXIII Festival Jazz Madrid 2006 arrancou na capital espanhola no dia 3 de Novembro para ficar nem mais nem menos até ao dia 24. O certame acontece maioritariamente no Centro Cultural de la Villa, mas também se estende ao Teatro Real, ao Palacio Municipal de Congresos, La Riviera, Centro Cultural Nicolás Salmerón, agrupando o XI Festival de Jazz de Ciudad Lineal e o XXV Festival de Jazz San Juan Evangelista e contando com o apoio de algumas salas de jazz da cidade, como o Clamores, Café Central, Bogui Jazz, Rincón del Arte Nuevo, que se juntam também à festa. Praticamente uma cidade inteira a celebrar o jazz, a vê-lo de uma forma no mínimo particular (Antony e os seus Johnsons fazem parte do cartaz da mesma forma como Bob Dylan fez parte de um dos grandes festivais de jazz de Verão de Madrid), aparentemente típica dos espanhóis. Menção especial para as cadeiras do anfiteatro, as mais confortáveis de todo o sempre.

No segundo dia do festival, no Centro Cultural de la Villa, situado na majestosa praça de Colón, Cassandra Wilson, outrora vocalista principal do M-Base Collective e uma das grandes vozes do jazz actual. Mas antes representações de dois países: a Argentina e a Nigéria. Formado em 1993, La Camorra é um quinteto de músicos (Sebástian Prusak (violino), Luciano Jungman (bandoneón), Pablo Saclis (piano), Jorge Omar Kohan (guitarra) e Hugo Cesar Asrin (contrabaixo)) proveniente da Argentina que foi buscar o seu nome à máfia italiana para reclamar para si a luta pela defesa da música que fazem, o tango, influenciado e ensinado por Astor Piazzolla. Apresentaram alguns “postais”, como os próprios disseram, representativos das ambiências de Buenos Aires. A actuação teve como momento alto a interpretação do tema “Camorra” de Astor Piazolla, gravado com o seu quinteto e incluído em La Camorra, editado originalmente nos anos 80.

Fecham-se as cortinas e abrem de novo passado algum tempo. E quando já todos esperavam Cassandra Wilson, surge em palco o percussionista nigeriano Lekan Babalola quando já o palco estava preparado para o efeito. E o efeito é uma série de instrumentos de percussão através dos quais construía a base para introduzir cânticos. Foi uma actuação curta mas cheia de mensagens, de espiritualidade, de simplicidade. Forte em imagens visuais e mentais, recuperadora de raízes. Lekan Babalola saiu de palco da mesma forma que entrou nele: a cantar. Mas já haviam passado perto de duas horas da hora marcada e o público começava a tornar-se impaciente: foi aí que se ouviram alguns assobios e gritos. Demorou mas aconteceu: a banda de Cassandra Wilson entrava em palco e arrancava os primeiros sons.

Cassandra Wilson entrou logo a seguir e com o melhor do seu último disco, “Close to You”, o mais perto que alguma vez esteve da música pop, num disco que deixa essa mesma ideia – esse disco é Thunderbird, com selo Blue Note. “It Would be so easy” foi também outra canção a saltar de Thunderbird para o concerto de Madrid – e bem. Há também neste novo disco blues e soul que se notaram e de que maneira ao vivo. Na banda que acompanha Cassandra Wilson destacou-se a harmónica (talvez até de mais, o que é demasiado molesta), e a guitarra, por vezes em slide, por vezes pura. A voz de Cassandra Wilson, sem se mostrar majestosa, esteve sempre segura, mesmo quando interpretou Billie Holiday, uma canção que ouviu pela primeira vez na rádio quando tinha 13 ou 14 anos. Feitas as contas foi um concerto que cumpriu mas que raras vezes passou daí – os momentos altos não foram muitos. O melhor da noite terá sido mesmo a diversidade da oferta.
· 04 Nov 2006 · 08:00 ·
André Gomes
andregomes@bodyspace.net

Parceiros