The Joe K-Plan / Lobster / GĂątechien
El Limbo, Madrid
27 Set 2006
Curioso cenĂĄrio na visita dos Lobster a Madrid. NĂŁo sĂł pelo local do concerto como tambĂ©m pelas caracterĂ­sticas das trĂȘs bandas presentes. Nada mais, nada menos do que trĂȘs duos: um espanhol, um portuguĂȘs e um francĂȘs. TriĂąngulo curioso, portanto. O local era igualmente curioso: o decadente/semi-punk El Limbo, na Rua BailĂ©n, imagine-se, a mesma do PalĂĄcio Real de Madrid e da Catedral de Almudena. Porteiro com mĂŁo cheia de notas a dar troco dos bilhetes (a 6 euros), cerveja a quatro euros, publicaçÔes gratuitas e flyers por todo o lado, ambiente algo bizarro. Foi com algum atraso que começou a noite que prometia um medir de forças entre as trĂȘs bandas, que por acaso partilhavam algumas semelhanças sonoras.

Os madrilenos The Joe K-plan (do pueblecito de Humanes como mencionam no Myspace) sĂŁo CĂ©sar e Mario, bateria e guitarra. Nos Ășltimos tempos partilharam palcos com bandas como os Grabba Grabba Tape, Ginferno, Cerberus Shoal, Margarita, French Toast, Healthcontrol ou os Coconot (entre muitos outros). Dizem fazer (e fazem mesmo) pĂłs-hardcore, e desenvolvem influĂȘncias de bandas como os Don Caballero, Shellac, That Fucking Tank ou os Hella. Com o atraso geral dos concertos as actuaçÔes foram obrigadas a reduçÔes forçadas, pelo que os Joe K-plan apresentaram pouco mais de meia dĂșzia de temas de um rock matemĂĄtico por vezes interessante e quase sempre fĂ­sico, de forte compleição, “guakamole para tus oidos”. Pena que os problemas tĂ©cnicos (na guitarra) tenham destruĂ­do quase por completo a parte final da actuação.

Lobster © Angela Costa

Com pouco tempo de pausa para trocar de material (a vantagem dos duos bateria e baixo/guitarra), os Lobster entraram e apresentaram uma espĂ©cie de best of, que Ă© o mesmo que dizes, os melhores temas de Fast Seafood, lançamento maior do duo lisboeta. Esses mesmos temas (onde se destaca obviamente “Farewell Chewbacca”, hino incontestado dos Lobster) mostram-se cada vez mais coesos na sua interpretação mas ao mesmo tempo mais soltos, com mais espaço para improvisação e pequenas fugas. Essencial o entendimento entre Ricardo e Guilherme, especialmente na troca de olhares, em temas onde as mudanças de direcção sĂŁo muitos e o tempo para respirar pouco. “Farewell Chewbacca” Ă© – e sempre serĂĄ – um festival de sensaçÔes, espaço para sensaçÔes fĂ­sicas (dançåveis atĂ©) e de quietude – o final ‘Pelicaniano’ e pĂłs-rock Ă© – e sempre serĂĄ – de uma beleza impressionante. Problema da actuação: a sua duração, curta.

Lobster © Angela Costa

Mais longa – por razĂ”es Ăłbvias – foi a actuação dos franceses GĂątechien, de Poitiers, cidade nĂŁo muito interessante a ver por aquilo que Laurent Paradot e Florian Belaud confessaram: que estĂŁo sempre interessados em sair de lĂĄ para irem em digressĂŁo. Em Madrid mostraram que sĂŁo dois “two nervous motherfuckers obsessed by melody” com gosto pelos Shellac, Fugazi e pelos From Monument to Masses (ah, e Don Caballero). Laurent Paradot, exĂ­mio, faz aquilo que quer do baixo; chega a fazer com que pareça uma guitarra, mostra quase sempre pormenores muito interessantes. Florian Belaud nĂŁo espanta na bateria mas tambĂ©m nĂŁo compromete. Laurent Paradot canta ou canta a gritar (hardcore style ou comic style), brinca constantemente com o pĂșblico (chegou a cantar “Macarena” antes de um tema), lidera as operaçÔes com sucesso. Em 70% das vezes os GĂątechien mostraram temas de uma complexidade e desenvolvimento interessantes (por exemplo em “T”, um dos temas do momento no myspace da banda). E isso sĂł pode ser bom. A aventura dos Lobster e dos GĂątechien continuava logo a seguir em Barcelona e Bilbau e depois pela França. Da noite de 27 de Setembro fica a referĂȘncia: Madrid, Lisboa, Poitiers, um estranho e misterioso triĂąngulo.
· 27 Set 2006 · 08:00 ·
André Gomes
andregomes@bodyspace.net
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