Lobster + Gâtechien
O Meu Mercedes é Maior que o Teu, Porto
21 Set 2006
É quinta-feira e há motivos para sair de casa, pese embora o adiantado da hora. Eis o velho problema nas salas portuenses: os concertos estão marcados para tarde e mais tarde começam, porque a malta não leva a sério o horário fixado no cartaz. Mas adiante. A noite era de celebração: a Lovers & Lollypops, provavelmente a estrutura que mais tem mexido o underground português nos últimos meses, aproveitava o concerto dos seus meninos queridos Lobster para lançar Um Ano de Bailarico, compilação-retrato do que a Lovers tem vindo a fazer (em discos e, sobretudo, nos palcos).

Lobster © Nuno Dias

Os Lobster e os franceses Gâtechien partilham semelhanças físicas: são dois duos (o primeiro instrumental, com guitarra e bateria; o segundo com voz, bateria e baixo) e até o património capilar dos bateristas (apesar da vantagem clara do português). Os lisboetas foram os primeiros a ocupar o pequeno palco do Mercedes, menos dado ao habitual caos que são os concertos dos Lobster. Mesmo assim, a dupla revelou-se, mais uma vez, como uma das melhores coisas que aconteceram à música cá do burgo nos últimos tempos.

Quem repete “Lightning Bolt” e “Hella” sempre que fala dos Lobster, até pode ter alguma razão, mas reduzi-los a um pastiche feliz é uma conclusão apressada. Vive neles uma intensidade que descende directamente do hardcore (a versão dos Botch atestou-a bem); há uma alegria que é tão punk como pop, pelo seu despretensiosismo. “Lavagante” e “Keep it brutal” mostraram ser bombas rock em palco; “Farewell Chewbacca” caminha para clássico de uma certa geração MySpace portuguesa. No caminho, revelaram motivos para esperar um bom futuro para o grupo, com “Wave simulator” (a sair em Dezembro, num split com Debut!), feita de pedaços de dissonância Sonic Youth e pós-rock agridoce.

Gâtechien © Nuno Dias

Depois disto, a tarefa dos Gâtechien era difícil e os franceses também não traziam especiais trunfos na manga. A momentos, foram interessantes - houve um tema que remetia para os From Monument To Masses, enquanto outros passavam do rock instrumental à fúria Fugazi -, mas em boa parte do tempo relevaram-se uma misturada de influências desconexa. Valeram pela inventividade do baixista, a boa disposição e final caótico - uma versão de “Breed” dos Nirvana, com Joca dos Green Machine a assumir o papel de vocalista/agitador.
· 21 Set 2006 · 08:00 ·
Pedro Rios
pedrosantosrios@gmail.com
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