Motornoise + The Exploited
Hard Club, V.N. de Gaia
04 Mar 2005

Punk became a fashion just like hippy used to be And it ain't got a thing to do with you or me. Movements are systems and systems kill. Movements are expressions of the public will. Punk became a movement cos we all felt lost, But the leaders sold out and now we all pay the cost.

© Vasco Oliveira

Os Crass cantavam assim logo em 1978, contra a entronização pop dos Clash e Sex Pistols. Na recusa radical dos adereços punk e na procura de outras formas de "ser punk", os Crass abriram espaço para o movimento anarco-punk ou, se quisermos, todas as formas verdadeiramente desafiantes de punk rock. Sim, porque as há.

Exploited © Vasco Oliveira

Obviamente que toda esta conversa quase idealista não encaixa nos Exploited. A banda de Wattie Buchan até respondeu aos Crass com o clássico “Punk’s not dead”, transformada em slogan para várias gerações de desencantados adolescentes. O “punk’s not dead” gritado por Wattie é ironicamente paradoxal. Esta forma de punk, que segue a lógica “feios, porcos e maus” e com orgulho, não é mais do que uma pequena tribo social com um gosto peculiar por cerveja e por slogans. Se nada disso é reprovável, também não é particularmente admirável. Por isso, pouco importa se o punk morreu ou se continua vivo nos Exploited. Não é, com certeza, isto que os mentores do estilo sonharam na segunda metade da década de 70.
Se os Exploited são os guardiões do templo punk para todos aqueles que se dirigiram ao Hard Club, é legítimo concluir que o movimento é hoje altamente desinteressante. Felizmente sabemos que o punk é muito mais do que esta forma de rock agressivo, mais arruaceiro do que consciente, mais bronco do que rebelde. Acompanhado de um guitarrista e um baixista mais próximos do visual nu-metal do que do punk rock, os Exploited percorreram mais de 20 anos de carreira de forma indistinta, transformando o velhinho som “old school” de temas como “I believe in anarchy” ou “Punk’s not dead” no punk/metal que a banda abraçou em “Beat the Bastards” (1996) e no mais recente “Fuck the System”. Uma amálgama indistinta, mas que fez as delícias dos muitos fãs dedicados.

Mornotoise © Vasco Oliveira

Antes de Wattie e companhia, os portuenses Motornoise apresentaram o seu punk rock, entre os Renegados de Boliqueime e os Motorhead. A ligação aos Renegados é evidente (o vocalista Frágil e o guitarrista tocaram na mítica banda portuense) e foi apenas com um tema desse grupo, “Straight Edge”, que o público respondeu com “mosh”. Frágil é um vocalista esforçado que nos Renegados vivia do carismo e da atitude “don’t care” em palco, mas que nos Motornoise é apenas uma tímida recordação. Gustavo Costa (também membro dos Genocide, Stealing Orchestra e Soopa) foi a excepção, mostrando-se extremamente à vontade na bateria. Falta ainda muito para os Motornoise serem mais do que uma sucessão de clichés punk/rock'n'roll mal colados.

· 04 Mar 2005 · 08:00 ·
Pedro Rios
pedrosantosrios@gmail.com

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