Vetiver
Moby Dick Club, Madrid
19 Set 2006
O Passeio da Castelhana, em Madrid, é uma ampla e longa avenida (uma das mais importantes da cidade) onde se erguem modernos edifícios, arranha-céus. É aí que se localiza a AZCA, a zona financeira, onde ficam edifícios como a Torre Picasso, o Edifício BBVA e a Torre Europa. É a parte nova da cidade, moderna, cosmopolita, luxuosa. Bem perto do Passeio da Castelhana (mais precisamente no número 5 da Avenida do Brasil) esconde-se - literalmente - um bar com aspecto de barco que responde pelo nome de Moby Dick (apesar de não haver qualquer indicação para quem o vê de fora). A curiosa imagem do bar visto de fora amplia-se significativamente quando lá dentro se percebe que o Moby Dick, como o próprio nome indica, é totalmente inspirado na temática do mar. Há bóias penduradas, há até um enorme farol no palco, e toda uma série de objectos intimamente relacionados com a vida marítima. Algo de verdadeiramente surpreendente e acolhedor no meio de tanta sofisticação.

Foi esse o local que os Vetiver ‘escolheram’ depois das passagens pela Galeria Zé dos Bois e pela Casa da Música para tocar em Madrid. Chegaram com um segundo disco de originais, o excelente To Find me Gone, que retirou delicadamente os Vetiver da cena freak-folk em que se tinham visto com o lançamento do primeiro disco. Agora os Vetiver de Andy Cabic fazem folk-rock, ‘apenas’. E isso ficou bem demonstrado no concerto de Madrid. Andy Cabic e sus muchachos subiram a palco e pegaram em To Find me Gone e raramente saíram dele (com algumas excepções que se contam daqui a pouco). E apesar de terem o disco em mente não se limitaram a reproduzir cópias fieis das canções do último disco; mais do que a ausência de alguns elementos de certas canções, notou-se ainda mais o acrescentar de pequenos ou grandes acrescentos – algo que dotou o concerto de especial interesse.

Vetiver © Angela Costa

Com efeito, surgiram canções como a extra-melíflua “Double”, a resplandecente “Maureen”, a quase ritualista/espiritual “Been so Long”, a quase infantil “Down At El Rio” (uma canção sobre aquilo que sentir-se em casa, São Francisco, a cidade de Andy Cabic), a obscura “You May Be Blue”, uma das canções mais rock do disco. Algures a meio do concerto os Vetiver, quando se aproximam mais do country, fazem lembrar aquela banda que toca no saloon na América quando o benfeitor (ou malfeitor) entra; parece inclusive aquela banda que nunca pára de tocar mesmo quando todas as pessoas no bar se envolvem em cenas de pancadaria. Sem segundas intenções.

Quando saíram então de To Find me Gone os Vetiver andaram por terrenos muitos distintos. Ora voltaram ao inicio de tudo para apresentar “Angel’s Share”, a canção incluída em Golden Apples of the Sun, ora aventiuraram-se pelas versões: “Save me a place”, uma canção de Lindsey Buckingham (que surge em Tusk dos Fleetwood Mac) e “Be kind to me”, de Michael Hurley, um dos maiores escritores de canções na opinião de Andy Cabic. Já no final, em encore, aquilo que muitos esperavam: “Amour Fou”, a acelerada canção-símbolo dos Vetiver, do primeiro disco, hino ao amor dito louco, algo bonito de se ver a apresentar em palco e a melhor forma de terminar uma bela actuação.
· 19 Set 2006 · 08:00 ·
André Gomes
andregomes@bodyspace.net
RELACIONADO / Vetiver