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The Claudia Quintet For

2007
Cuneiform


Descobri o Claudia Quintet um pouco tarde. Só ao segundo disco é que fiquei a conhecer este ensemble, um dos mais originais projectos oriundos do jazz do século XXI ou lá o que raio era aquilo. Estávamos em 2004 e o Óscar Alves (o responsável por esta coolíssima linha gráfica do Bodyspace) recomendou-me o disco I, Claudia. Não foi necessário mais de uma audição para perceber que estava ali um som muito especial, um objecto musical de uma enorme originalidade. Depois foi uma questão de procurar. Para trás havia já um disco de título homónimo, lançado em 2002. E depois da exploração desse fascínio inicial chegou, em 2005, o disco Semi-Formal, que confirmou a peculiaridade do universo musical do baterista/líder/compositor John Hollenbeck – e deu origem a um texto pateta onde é evocada a memória de uma professora de matemática do 12º ano. A relação de afecto para com esta música peculiar continuou em 2006. Ainda o disco Semi-Formal estava fresco e na edição desse ano o Jazz Em Agosto apresentou ao vivo o Claudia Quintet, que não precisou de muito para conquistar o público de Lisboa - na altura apontei que teria sido provavelmente “a proposta mais consensual†daquela edição do festival. O namoro já vem de longe, já conheço razoavelmente a coisa, portanto, quando este disco me aparece à frente sorrio com a confiança de quem sabe o que pode esperar. De facto, ao quarto disco o som do grupo já não consegue ser a mesma surpresa que nos assusta/confunde/deslumbra da primeira vez. Mas aquela sobreposição de elementos, aquele rigor milimétrico e aquela combinação de sons continua a proporcionar um incrível fascínio. A justificaçao para o título deste novo disco - For - está no facto deste estar repleto de dedicatórias. Uma delas é para Jan Garbarek, mas a música do quinteto mora nos antípodas do norueguês chato. Vibrante, enérgica e intensa, a música deste novo disco continua a transpirar vitalidade e uma urgência rara para um grupo que já conseguiu consolidar o seu lugar, já conseguiu marcar a sua posição com o seu som particular, que alguns chamaram de “post-jazzâ€. Há uns anos atrás, pela altura em que era publicado o segundo disco I, Claudia, o New York Times sentenciava: "If this music was a little bit dumber, it would resemble the music of the rock band Tortoise - no disrespect to Tortoise." Eu só sei que esta é uma história de amor e, como nas boas histórias de amor, com o passar do tempo o amor não morre. Esta música continua sedutora como da primeira vez.


Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com
15/09/2008