DISCOS
Deerhoof
Friend Opportunity
· 27 Fev 2007 · 08:00 ·
Deerhoof
Friend Opportunity
2007
Tomlab / Flur


Sítios oficiais:
- Tomlab
- Flur
Deerhoof
Friend Opportunity
2007
Tomlab / Flur


Sítios oficiais:
- Tomlab
- Flur
Mais um disco de Deerhoof, mais uma voltinha. O carrossel gira mas a viagem não é sempre a mesma.
Desde sempre (e cada vez mais), entrar num disco de Deerhoof equivale a penetrar numa caixa de surpresas sem fundo, num espaço imprevisível onde a saída é tão ou mais surpreendente do que a entrada. A partir do memorável Reveille, que parece ter sido editado há uma eternidade, essa sensação de incerteza instalou-se definitivamente e positivamente no seio da banda e até então não ousou desaparecer. Ao mesmo tempo, as estruturas da casa Deerhoof têm-se tornado cada vez mais acessíveis, ganhando cada vez mais novos fãs – são cada vez menos objecto de culto de meia dúzia de pessoas.

Tornou-se já um hábito ver os Deerhoof mostrarem um novo disco ao mundo todos os anos. Estes meninos sofrem daquilo que se chama hiperactividade – benigna felizmente. Entre 1997 e 2007 os Deerhoof lançaram nove discos. E a nenhum deles se pode apontar o dedo como tendo nascido pelo simples facto da banda, que se tornou recentemente num trio, ter demasiado tempo em mãos. The Runners Four era já o exemplo dos tais Deerhoof mais acessíveis, e este Friend Opportunity é a continuação dessa operação de charme.

Os Deerhoof continuam a meter 100 canções dentro de apenas uma mas agora estão mais concentrados, mais focados. Veja-se o caso de “The perfect me”, sucessão de riffs demoníacos que recebem a voz exorcizada de Satomi Matsuzaki. Estes são uns Deerhoof em gestão mais cuidada de recursos, coisa típica da sabedoria. “Believe e.s.p.” mostra que os Deerhoof esculpem a beleza melhor do que nunca. São ternos e não têm pressa de chegar ao final do percurso. E que belíssimo final de percurso o de “Believe e.s.p.” que não esconde a apetência dos Deerhoof para o riff quase funk, quase punk, quase quase.

“The Galaxist” é totalmente encantadora na sua doçura escondida por entre riffs duros de roer e riffs de embalar, na voz melíflua de Satomi Matsuzaki, no tique-taque sedutor da percussão. São os Deerhoof na busca da melodia perfeita - é um dos temas mais perfeitos de sempre dos Deerhoof. A reacção perante “Whither the invisible” só pode ser a de espanto perante tamanha mansidão: Satomi Matsuzaki no papel principal de um musical infantil, acompanhada de um piano e de uma orquestra, e a fazer choradinho. Surpreendentemente, em “Cast off Crown” é Greg Saunier quem empresta vozes; este é um tema de contrastes, de ofensivas e calmaria, de modernidade e tradição. É a formula dos Deerhoof para fazer tudo e mais alguma coisa em menos de três minutos.

Para os últimos minutos de Friend Opportunity está reservado um tema atípico na vida dos Deerhoof. Não tanto pelos sons mas sim prla suração. “Look Away” é uma manta de retalhos com quase doze minutos onde os Deerhoof, quase sempre mansinhos, brincam ao épico e ao doce, dançam com o silêncio e com guitarras, divertem-se com o subconsciente e com crenças, entretêm-se com a monotonia e declaram-se anti-melodia. Chegam até a aborrecer em alguns momentos, mas quem os pode culpar após quase 25 minutos de um disco apetecível? Os Deerhoof voltam a fazê-lo; voltam a conseguir um disco onde se escondem maravilhas atrás de maravilhas. Este é mais outro com o selo inconfundível dos Deerhoof. Marca registada.
André Gomes
andregomes@bodyspace.net
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