DISCOS
Daughter
Not To Disappear
· 14 Jan 2016 · 16:24 ·
Daughter
Not To Disappear
2015
4AD / Popstock Portugal


Sítios oficiais:
- Daughter
- 4AD
Daughter
Not To Disappear
2015
4AD / Popstock Portugal


Sítios oficiais:
- Daughter
- 4AD
Um álbum para gente com alma dentro.
É de cortar à faca, literalmente, à faca. Denso, rente à pele, portentoso. Daughter voltam em grande. É difícil encontrar adjectivos para tamanho festim de beleza dura, assim, como se quer que ela seja, mas terna, terna como só um dia de chuva e uma manta quente nos podem dar. Já te sentiste a sufocar? Já quiseste tirar o coração e segurá-lo nas mãos em frente em alguém? Já amaste? Se a resposta é negativa este álbum não é para ti. Este álbum é para gente com alma dentro.

Not To Disappear começa com um atropelamento sem fuga chamado “New Ways”, uma ode ao desespero, à saudade do corpo que já foi teu, aquela saudade atroz que só se abate sobre quem já não está com a pessoa amada, mas que, de um trago, se confunde ´com o querer algo novo que faça a dor desaparecer. Segue-se “Numbers” e a senda continua. Música com força, ritmo pujante – a guerra começou – e a letra, sempre a letra não é? “You better make me feel better” clama a voz de Elena Tonra, pois…voz ao vento...ainda não a salvaram…

Expedição ao interior da alma humana que se prolonga com “Doing the right thing”, “How”, “Mothers” e “Alone with you”, onde a etereadade melódica se junta à “pesarosa” bateria de Remi Aguilella para formarem um corpo de som absolutamente magnífico.

Porém, ao contrário do poeta dos vinte poemas de amor e da canção desesperada, Daughter transforma e transforma-se ao longo do álbum. A mudança dá-se com o mexido e jingão “No Care”, aí, ela ganha força, cavalga para fora de si, grita aquele magnânimo e libertário “Foda-se!” consagrado num “I don’t care anymore”. Força que se prolonga com “To Belong” e a sua guitarra provocadora, que sofre uma ligeira recaída em “Fossa” mas que se torna a agigantar em “Made of Stone”, com o proverbial verso “I think I’m made of stone, I should be feeling more”, qual Medusa que dos seus sentimentos olhados ao espelho se faz pedra.

Forte, comovedoramente forte, pujante como o amor sem filtro pode ser, este é, sem desprimor ou ponta de saudosismo, seguramente, um álbum à altura do antecessor If You Leave, um álbum para gente com alma dentro.
Fernando Gonçalves
f.guimaraesgoncalves@gmail.com
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