DISCOS
The Black Keys
Turn Blue
· 03 Set 2014 · 15:17 ·
The Black Keys
Turn Blue
2014
Nonesuch
Sítios oficiais:
- The Black Keys
- Nonesuch
Turn Blue
2014
Nonesuch
Sítios oficiais:
- The Black Keys
- Nonesuch
The Black Keys
Turn Blue
2014
Nonesuch
Sítios oficiais:
- The Black Keys
- Nonesuch
Turn Blue
2014
Nonesuch
Sítios oficiais:
- The Black Keys
- Nonesuch
Idade adulta.
São transformações que ocorrem em todos os pós-adolescentes, ali entre os vinte e os trinta, período em que a pele jovem começa a secar como uma folha outonal e o tempo invernoso que sublinha a idade adulta nos mostra o seu trágico sorriso: o corpo pesa-nos e as noitadas já não são o que eram, assolam-nos a alma dúzias de preocupações entre a ânsia de arranjar um emprego e o medo de perder um salário, já não podemos mirar as perninhas ao sol das meninas de dezasseis anos e damos por nós a pensar, a meio de uma insónia recorrente, se iremos morrer sozinhos e se não será tudo uma mentira enquanto desenvolvemos um gosto pela voz de Norah Jones e deixamos de parte a violência rock n' roll. Chama-se a isto crescer.
E crescer é algo que os Black Keys, esses "adolescentes eternos" como o são todos os músicos do rock, já haviam feito em 2010 com o magnífico Brothers, tributo em sangue novo ao bom blues e à soul de antigamente, que se traduzia em excelentes canções, que os via largar de vez a sua carapaça underground e que os colocava em cima dos grandes palcos e nos cartazes de todos os festivais de renome. Brothers abriu a porta para esta depressão adulta, ditou o momento em que Dan Auerbach e Patrick Carney decidiram fazer da banda uma carreira. Claro que existe, como existe sempre, uma certa nostalgia (e um certo desprezo, admitamos) pela juventude; daí que El Camino tenha sido lançado como o foi, aparecendo do nada como um cometa e dando ao mundo "Lonely Boy" e "Dead And Gone", sem sombra de dúvida os momentos mais altos da história do duo do Ohio.
Depois disto, para onde ir? Abraçar de vez a velhice, evidentemente, e tentar encontrar algures na amarga passagem do tempo um motivo para continuar a sorrir como uma criança. Tudo agora tem que ser feito com peso e medida, pensado, planeado e delineado. A experimentação desaparece, o poder de explosão igualmente. Ficam apenas algumas memórias do passado e o currículo invejável que se construiu em pirralho - e que em reuniões ou jantares de amigos fazem as delícias dos bêbados. Assim é Turn Blue, o oitavo disco dos Black Keys, que não poderia provavelmente ter melhor título: ao chegarmos a adultos tornamo-nos, de facto, uns deprimidos.
Quer isto dizer que o disco é mau? Não, na verdade muito longe disso. O som do duo, que era aquele blues rock refinado com pó de malandrice, pouco se alterou, tirando o facto de já não existir malandrice alguma - apenas canções bem feitinhas que seguem todos os padrões habituais. Canções adultas, portanto... como, logo a abrir, "Weight Of Love", tema sério a fingir que brinca aos solos, coisa óptima para se ouvir mas não para nos deixar exuberantes, como o costumava fazer a música dos Black Keys. E Turn Blue não foge muito disto: "In Time" soa a uma demo de "Dead And Gone", "Fever" é um óptimo single mas muito provavelmente não será mais do que isto, "Waiting On Words" devia ser single mas ficará ali na irrelevância. Safa-se, no capítulo da juventude eterna, "Turn Blue", que é demasiado grande na medida em que uma canção pop é grande e demasiado sincera na sua depressão para ser considerada "crescida". Quanto ao resto, dá gosto a ouvir; só não nos dá a felicidade de voltarmos, nem que seja por breves momentos, a ser jovens. Mas talvez seja verdade o que se diz e o tempo não espere realmente por nós.
Paulo CecílioE crescer é algo que os Black Keys, esses "adolescentes eternos" como o são todos os músicos do rock, já haviam feito em 2010 com o magnífico Brothers, tributo em sangue novo ao bom blues e à soul de antigamente, que se traduzia em excelentes canções, que os via largar de vez a sua carapaça underground e que os colocava em cima dos grandes palcos e nos cartazes de todos os festivais de renome. Brothers abriu a porta para esta depressão adulta, ditou o momento em que Dan Auerbach e Patrick Carney decidiram fazer da banda uma carreira. Claro que existe, como existe sempre, uma certa nostalgia (e um certo desprezo, admitamos) pela juventude; daí que El Camino tenha sido lançado como o foi, aparecendo do nada como um cometa e dando ao mundo "Lonely Boy" e "Dead And Gone", sem sombra de dúvida os momentos mais altos da história do duo do Ohio.
Depois disto, para onde ir? Abraçar de vez a velhice, evidentemente, e tentar encontrar algures na amarga passagem do tempo um motivo para continuar a sorrir como uma criança. Tudo agora tem que ser feito com peso e medida, pensado, planeado e delineado. A experimentação desaparece, o poder de explosão igualmente. Ficam apenas algumas memórias do passado e o currículo invejável que se construiu em pirralho - e que em reuniões ou jantares de amigos fazem as delícias dos bêbados. Assim é Turn Blue, o oitavo disco dos Black Keys, que não poderia provavelmente ter melhor título: ao chegarmos a adultos tornamo-nos, de facto, uns deprimidos.
Quer isto dizer que o disco é mau? Não, na verdade muito longe disso. O som do duo, que era aquele blues rock refinado com pó de malandrice, pouco se alterou, tirando o facto de já não existir malandrice alguma - apenas canções bem feitinhas que seguem todos os padrões habituais. Canções adultas, portanto... como, logo a abrir, "Weight Of Love", tema sério a fingir que brinca aos solos, coisa óptima para se ouvir mas não para nos deixar exuberantes, como o costumava fazer a música dos Black Keys. E Turn Blue não foge muito disto: "In Time" soa a uma demo de "Dead And Gone", "Fever" é um óptimo single mas muito provavelmente não será mais do que isto, "Waiting On Words" devia ser single mas ficará ali na irrelevância. Safa-se, no capítulo da juventude eterna, "Turn Blue", que é demasiado grande na medida em que uma canção pop é grande e demasiado sincera na sua depressão para ser considerada "crescida". Quanto ao resto, dá gosto a ouvir; só não nos dá a felicidade de voltarmos, nem que seja por breves momentos, a ser jovens. Mas talvez seja verdade o que se diz e o tempo não espere realmente por nós.
pauloandrececilio@gmail.com
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