O quarteto The American Analog Set vem de Austin, no Texas, para apresentar mais um disco residual de uma pop feita em pedaços. “Promise of Love” é o quinto trabalho de uma formação que se constituiu a partir das cinzas dos Electric Company em 1994. Bastou uma segunda digressão para que a banda conseguisse um contrato com a Emperor Jones, editora local subsidiária da Trance Syndicate, esta dirigida por King Coffey, baterista pelos Butthole Surfers. Foi através dela que editaram o seu primeiro single, intitulado ‘Diana Slowburner’. Seguiram-se os álbuns “The Fun of Watching Fireworks” (1996), “From Our Living Room to Yours” no ano seguinte e “The Golden Band” (1999). “Know By Heart” viria a assumir-se como uma incursão mais experimental e de feições pop mais talhadas.

No seu quinto capítulo, a música do grupo continua impressa no granito epistolar da pop sustentada por arranjos minimalistas. Ainda se ouvem as declinações rítmicas e as teclas em cascata, as linhas de guitarra esparsas e as inscrições de voz em nebulosa. Este disco é como uma célula fotoeléctrica – porque se julga conveniente a metáfora entre pop e luz – que raramente rompe a membrana que a delimita. Por isso, o espectro sonoro (e visível) apresenta uma estrutura repetida, lenta, sussurrada. A toada global das composições é oscilatória, redundante, potencialmente infinita na cinética das notas, a sua velocidade calculada pela cadência das batidas, pela respiração dos adereços estilísticos.

O tema-título é um orgasmo em crescendo consumado num par de minutos. As promessas são aqui recuperadas da latrina e devolvidas ao esgoto. Vivem em pequenos sopros, em minúsculas bolhas que sobem na atmosfera e rebentam no clímax provocado pela ascensão. São pequenos nadas que significam quase nada e que, ainda assim, ajudam ao deslumbramento dos instantes. ‘Continuous Hit Music’ é o prefácio de um ramalhete sónico despedaçado da raiz até às pontas, a que se segue o desmembramento dos filamentos vibrantes e etéreos em ‘Hard to Find’. Difícil de encontrar é uma canção que prime pela dissonância em relação ao todo. Talvez seja ‘The Hatist’ aquela que mais se afasta do uníssono cantado no disco, com as suas cordas ritmadas e a ambiência funk retalhada por um cristalino registo de voz.

As composições dos American Analog Set são como esculturas transpiradas, agastadas e de feições lívidas pelo reconhecimento da beleza cíclica da orgânica que as atravessa há cinco gerações. “Promise of Love” é menos um grito contido que um gemido angular. A sua escuta é aconselhável, mas não para servir de introdução à formação.