DISCOS
Primal Scream
Screamadelica [Reedição]
· 25 Mar 2011 · 22:35 ·
Primal Scream
Screamadelica [Reedição]
2011
Sony Music Distribution
Sítios oficiais:
- Primal Scream
- Sony Music Distribution
Screamadelica [Reedição]
2011
Sony Music Distribution
Sítios oficiais:
- Primal Scream
- Sony Music Distribution
Primal Scream
Screamadelica [Reedição]
2011
Sony Music Distribution
Sítios oficiais:
- Primal Scream
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Screamadelica [Reedição]
2011
Sony Music Distribution
Sítios oficiais:
- Primal Scream
- Sony Music Distribution
Clássico revisto nas mãos de Kevin Shields não sofre mudanças. Era necessário? Não. Interessa? Idem.
«Everyone's older, but somehow this music seems as fresh and relevant as it ever did, and clearly all the better for the fact that no one's quite the drug maniac any more (...) Seeing how the Gold Coast crowd go nuts for "Come Together", you kind of feel drugs would be a distraction»
~ Grant Fleming, Mojo de Abril 2011
Durante um curto perÃodo no final dos anos 80, Inglaterra assistiu ao que hoje, romanticamente, se designa o "segundo verão do amor". O acid house entrou nas pistas e nos ouvidos de todos aqueles que se predispusessem a aceitar que o TB-303 era a melhor invenção desde a roda. As drogas - em particular o mÃ[s]tico Ecstasy - eram uma forma de encontrar a paz e a paixão absolutas, quase manÃacas. Cavalgava-se a mesma onda que Hunter S. Thompson havia descrito cerca de quinze anos antes, no igualmente drogado DelÃrio Em Las Vegas. Smileys por toda a parte. Manchester enquanto centro cultural de todo o mundo. Free parties. Todo um novo sentido de comunhão.
Mas como todas as ondas, também esta se abateu. Enquanto legado deixou escritores como Irvine Welsh (que não pode ser reduzido apenas a Trainspotting), uma toda cultura em torno do conceito de rave e discos onde influências do psicadelismo antigo e dos novos sons electrónicos se conjugavam e produziam obras que, ainda hoje, não encontram paralelo em termos de sonoridade. Entre eles: Screamadelica, a obra-prima de uns Primal Scream que até aà só conheciam o rock n´ roll das garagens e o som indie da pop de meio da década.
Há um nome a salientar no meio de tudo isto: Andrew Weatherall. Não fosse o DJ o cérebro por detrás de "Loaded", que é essencialmente uma remix de uma faixa anterior dos escoceses ("I'm Losing More Than I'll Ever Have"), e que, via sampling, resume na essência o pensamento da juventude de então, ou de todas as juventudes de todos os entãos; We wanna be free to do what we wanna do. And we wanna get loaded. And we wanna have a good time. "Loaded" foi o catalisador do novo rosto dos Primal Scream no inÃcio da década de 90 e é ainda hoje um dos grandes momentos da sua carreira. Mas - e como que comprovando o porquê de se elogiar e aclamar este disco - não é a melhor faixa das onze que o compõem.
Um disco que até tem e teve concorrentes de peso no que a aclamação diz respeito: para além de Screamadelica, 1991 foi o ano de lançamento, entre outros, do essencial Loveless, do mais essencial ainda Nevermind, do subvalorizado Foxbase Alpha, do aparecimento de um galês ruivo com cognome Aphex Twin, da entrada dos Metallica no mainstream ou da aparição de um clássico como "Unfinished Sympathy". Cada qual com o seu impacto especÃfico; mas nenhum que conseguisse um impacto em todos os campos musicais como Screamadelica o conseguiu, do rock, à pop, à electrónica. Precisamente os três géneros que cruza, numa mistura que, por mais tentativas que surjam, não se consegue copiar tão facilmente.
Um disco que resistiu ao teste do tempo, onde cada melodia, cada linha de piano, continuam tão deliciosos hoje como nos nineties de onde provêm (e que não devem tardar também eles a ter o seu revivalismo). "Screamadelica", a faixa previamente encontrada apenas no EP de 1992 Dixie-Narco, que foi aqui adicionado para causar quiçá um maior interesse por parte do comprador (o que não era de todo necessário), guarda em si a mesma experimentação pop dos actos lo-fi de hoje. Nem as suas próprias influências se perdem, do dub ao gospel, do rock psicadélico ao pós-punk; Jah Wobble, esse grande senhor, dá uma perninha na sinfonia dub de "Higher Than The Sun", com uma linha de baixo que quase podia ser a de "Poptones". Screamadelica resiste porque é maior que o tempo em si. É uma celebração do futuro através do passado, da vida enquanto exuberância e felicidade.
Por ocasião dos vinte anos (como o tempo passa...) de Screamadelica os Primal Scream estão na estrada a apresentá-lo por inteiro e passarão inclusivamente por cá em Julho próximo. Não só isso, como o remasterizaram juntamente com Kevin Shields, um dos tais "monstros" de 1991. O resultado final não diverge muito do original (um alÃvio?); existe uma maior clareza no som, e canções como "Don't Fight It, Feel It" parecem ter encontrado uma energia renovada. Mas é o Screamadelica que sempre conhecemos. Estão lá os momentos que para sempre ficarão connosco como os segundos iniciais de "Slip Inside This House" (quando entra AQUELE beat), o poema ácido que é "Higher Than The Sun" e, evidentemente, o salmo ao amor e à liberdade de "Come Together". Numa altura em que tanto precisamos de um terceiro, Screamadelica é um dos principais registos históricos do "segundo verão do amor". Revisitemo-lo então.
Paulo CecÃlio~ Grant Fleming, Mojo de Abril 2011
Durante um curto perÃodo no final dos anos 80, Inglaterra assistiu ao que hoje, romanticamente, se designa o "segundo verão do amor". O acid house entrou nas pistas e nos ouvidos de todos aqueles que se predispusessem a aceitar que o TB-303 era a melhor invenção desde a roda. As drogas - em particular o mÃ[s]tico Ecstasy - eram uma forma de encontrar a paz e a paixão absolutas, quase manÃacas. Cavalgava-se a mesma onda que Hunter S. Thompson havia descrito cerca de quinze anos antes, no igualmente drogado DelÃrio Em Las Vegas. Smileys por toda a parte. Manchester enquanto centro cultural de todo o mundo. Free parties. Todo um novo sentido de comunhão.
Mas como todas as ondas, também esta se abateu. Enquanto legado deixou escritores como Irvine Welsh (que não pode ser reduzido apenas a Trainspotting), uma toda cultura em torno do conceito de rave e discos onde influências do psicadelismo antigo e dos novos sons electrónicos se conjugavam e produziam obras que, ainda hoje, não encontram paralelo em termos de sonoridade. Entre eles: Screamadelica, a obra-prima de uns Primal Scream que até aà só conheciam o rock n´ roll das garagens e o som indie da pop de meio da década.
Há um nome a salientar no meio de tudo isto: Andrew Weatherall. Não fosse o DJ o cérebro por detrás de "Loaded", que é essencialmente uma remix de uma faixa anterior dos escoceses ("I'm Losing More Than I'll Ever Have"), e que, via sampling, resume na essência o pensamento da juventude de então, ou de todas as juventudes de todos os entãos; We wanna be free to do what we wanna do. And we wanna get loaded. And we wanna have a good time. "Loaded" foi o catalisador do novo rosto dos Primal Scream no inÃcio da década de 90 e é ainda hoje um dos grandes momentos da sua carreira. Mas - e como que comprovando o porquê de se elogiar e aclamar este disco - não é a melhor faixa das onze que o compõem.
Um disco que até tem e teve concorrentes de peso no que a aclamação diz respeito: para além de Screamadelica, 1991 foi o ano de lançamento, entre outros, do essencial Loveless, do mais essencial ainda Nevermind, do subvalorizado Foxbase Alpha, do aparecimento de um galês ruivo com cognome Aphex Twin, da entrada dos Metallica no mainstream ou da aparição de um clássico como "Unfinished Sympathy". Cada qual com o seu impacto especÃfico; mas nenhum que conseguisse um impacto em todos os campos musicais como Screamadelica o conseguiu, do rock, à pop, à electrónica. Precisamente os três géneros que cruza, numa mistura que, por mais tentativas que surjam, não se consegue copiar tão facilmente.
Um disco que resistiu ao teste do tempo, onde cada melodia, cada linha de piano, continuam tão deliciosos hoje como nos nineties de onde provêm (e que não devem tardar também eles a ter o seu revivalismo). "Screamadelica", a faixa previamente encontrada apenas no EP de 1992 Dixie-Narco, que foi aqui adicionado para causar quiçá um maior interesse por parte do comprador (o que não era de todo necessário), guarda em si a mesma experimentação pop dos actos lo-fi de hoje. Nem as suas próprias influências se perdem, do dub ao gospel, do rock psicadélico ao pós-punk; Jah Wobble, esse grande senhor, dá uma perninha na sinfonia dub de "Higher Than The Sun", com uma linha de baixo que quase podia ser a de "Poptones". Screamadelica resiste porque é maior que o tempo em si. É uma celebração do futuro através do passado, da vida enquanto exuberância e felicidade.
Por ocasião dos vinte anos (como o tempo passa...) de Screamadelica os Primal Scream estão na estrada a apresentá-lo por inteiro e passarão inclusivamente por cá em Julho próximo. Não só isso, como o remasterizaram juntamente com Kevin Shields, um dos tais "monstros" de 1991. O resultado final não diverge muito do original (um alÃvio?); existe uma maior clareza no som, e canções como "Don't Fight It, Feel It" parecem ter encontrado uma energia renovada. Mas é o Screamadelica que sempre conhecemos. Estão lá os momentos que para sempre ficarão connosco como os segundos iniciais de "Slip Inside This House" (quando entra AQUELE beat), o poema ácido que é "Higher Than The Sun" e, evidentemente, o salmo ao amor e à liberdade de "Come Together". Numa altura em que tanto precisamos de um terceiro, Screamadelica é um dos principais registos históricos do "segundo verão do amor". Revisitemo-lo então.
pauloandrececilio@gmail.com
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