DISCOS
Julian Lynch
Mare
· 15 Dez 2010 · 11:45 ·
Julian Lynch
Mare
2010
Olde English Spelling Bee


Sítios oficiais:
- Julian Lynch
- Olde English Spelling Bee
Julian Lynch
Mare
2010
Olde English Spelling Bee


Sítios oficiais:
- Julian Lynch
- Olde English Spelling Bee
Norte-americano assina disco de pequenas grandes coisas; um tratado à simplicidade com um enredo, na verdade, bem complexo.
É assim como um cantinho escuro e apertado onde nos podemos enfiar de quando em vez. É um daqueles discos, raros, que servem de porto de abrigo para as tempestades de cada qual. Como é que o senhor Julian de apelido famoso Lynch consegue enfiar tanta coisa em canções tão pequenas e simples, é algo de difícil explicação. Há sempre algo de novo a acontecer em Mare algo que se renova a cada audição. Desconhecemos o seu apelido possa estar relacionado com o realizador que assinou Estrada Perdida mas as suas viagens são igualmente para alguém se perder pelo caminho: acordar no dia seguinte depois de ouvir este disco também muda tudo completamente. Durante segundos que sejam.

Tem qualquer coisa de Vincent Gallo (ou das bandas-sonoras dos seus filmes), ou de road trip, ou então confunde-se as duas coisas. Poder-se-ia chamar-lhe um disco de folk, mas é tão mais do que isso (chega até ser pop). É um disco tremendamente solitário, isso sim, blues quando quer, circular quando lhe apetece (e que belas circularidades que existem neste disco), quase jazzistico nas arestas, muitas vezes ruidoso (sim, como em noise), eternamente livre, absolutamente dedicado aos detalhes. É um disco de pequenas coisas. De pequenos, pequeníssimos ganchos melódicos, de vozes que surgem de nenhures e para nenhum lado vão, de pequenos rasgos de luz.

Julian Lynch trabalhou já na Smithsonian Folkways Recordings e agora estuda etnomusicologia na University of Wisconsin-Madison e isso faz todo o sentido. A forma como equilibra todos os ingredientes neste imenso caldeirão (às vezes experimental, às vezes pop) chega a ser magistral, e o bom gosto nos arranjos é louvável. Destacar canções neste disco é quase uma idiotice: Mare vale absolutamente pelo todo. Não há aqui nada para encher chouriços, nada que nos faça sequer pensar em carregar no “next”. Neste momento, simplesmente não parece haver limites para aquilo que Julian Lynch pode vir a fazer num breve futuro.
André Gomes
andregomes@bodyspace.net
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