DISCOS
James Blackshaw
Litany of Echoes
· 19 Nov 2008 · 11:11 ·
James Blackshaw
Litany of Echoes
2008
Tompkins Square


Sítios oficiais:
- James Blackshaw
- Tompkins Square
James Blackshaw
Litany of Echoes
2008
Tompkins Square


Sítios oficiais:
- James Blackshaw
- Tompkins Square
Guitarrista encontra uma linguagem própria e retira-se graciosamente do campeonato dos discípulos de John Fahey. E só ganha com isso.
É com um piano, e não uma guitarra, que Litany of Echoes principia. Não é nova a abertura de James Blackshaw a outros instrumentos, mas nunca como neste álbum o guitarrista - um jovem prodígio das seis e 12 cordas - sai tanto do seu território. O facto de o fazer com resultados notáveis diz muito da capacidade musical e de evolução criativa de Blackshaw. Neste disco do prolífico inglês (o sexto álbum de estúdio em cinco anos), encontra uma linguagem própria e retira-se graciosamente do campeonato dos discípulos de John Fahey - onde era, a bem da verdade e apesar dos méritos de discos como Celeste, um jogador de segunda linha.

"Gate of Ivory", assim se chama a peça que abre o disco, transpõe para o piano os rendilhados hipnóticos que Blackshaw desenha habitualmente na guitarra. Mais do quem artistas como Fahey, de onde Blackshaw bebeu a inspiração inicial, a cada vez mais venerável Tompkins Square fala em Philip Glass, Steve Reich e Charlemagne Palestine. As comparações não são totalmente certeiras, mas servem para descrever a aura minimalista e clássica e o tom melancólico deste disco, que se insinua leve e lentamente.

Ouça-se "Past Has Not Passed", momento de beleza fora do comum com mais de 12 minutos. Começa com um violoncelo sustido, a fazer a cama para a entrada subtil da guitarra de 12 cordas, que desenha uma melodia pensativa. Mais à frente, a canção abre-se, alternando momentos em que viola, violino e piano ganham destaque com outros em que passam para segundo plano face à guitarra, em jogos harmónicos que denotam o estado de depuração de Blackshaw como compositor.

"Echo and Abyss" leva-nos para os territórios fingerpicking mais tradicionais, sem revoluções, enquanto "Infinite Circle" casa a guitarra com o piano, numa espécie de balada. Numa primeira impressão podíamos acusar Blackshaw de lamechice ou sentimentalismo em excesso, mas o que ele faz é antes conquistar-nos pela simplicidade.

No final, "Gate of horn" afigura-se como faixa-gémea de "Gate of Ivory", mas acrescida de dissonância por via de cordas insubmissas. Um final que fica bem a Litany of Echoes, disco capaz de alargar a audiência de Blackshaw a apreciadores de outras abordagens à música centrada na guitarra.
Pedro Rios
pedrosantosrios@gmail.com
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