DISCOS
One Might Add
Sailing Team
· 17 Mar 2008 · 07:00 ·
One Might Add
Sailing Team
2008
Ruby Red
Sítios oficiais:
- One Might Add
- Ruby Red
Sailing Team
2008
Ruby Red
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- One Might Add
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2008
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Sem que a previsão constasse sequer das bolsas de apostas asiáticas, os OMA oferecem a solução perfeita para quem possa andar a aborrecido com os filmes dos Daft Punk.
Evitando toda a complicação que seria contextualizar a longa-metragem Electroma no contexto artístico dos Daft Punk, que a criaram como complemento visual para o álbum Human After All, descreva-se apenas transversalmente o que sobra na retina após ver o filme, pois é isso que importa por agora: durante 74 minutos, dois robots – envergando os icónicos capacetes conhecidos à presente (?) mutação da dupla francesa - percorrem extensas e desérticas paisagens do estado da Califórnia na senda da condição humana, convivendo com figuras com aparência robótica semelhante e sofrendo, a certa altura, os reveses de uma cirurgia plástica mal sucedida. Não existem diálogos ou música original dos Daft Punk – apenas algumas canções de Curtis Mayfield e Todd Rundgren , longas caminhadas por parte dos protagonistas, o vazio deixado pela a ausência de quaisquer adereços verbais e uma incomodativa sensação de anti-clímax que chega a ser exasperante.
Como pedra que racha o mosaico Daft Punkiano reflectido no charco estático de Electroma, Sailing Team, o muito aguardado primeiro disco da também dupla One Might Add, serviria na perfeição como banda-sonora para o tal filme “à parte”, caso este fosse uma produção entregue a todos os maus hábitos do cinema exploitation, que, durante toda a década de setenta (tão propícia ao surgimento dos heróis afro-americanos cheios de atitude), tudo fez para que o busto invulgar de Pam Grier (Coffy) e o palavreado apimentado de Rudy Ray Moore (Dolemite) – além dos penteados de ambos - fossem também utilizados como instrumentos de entretenimento para um público mais interessado em ver um polícia branco no lugar do saco de porrada do que em obter algum proveito profundamente intelectual às narrativas inevitavelmente fáceis do género. Fosse Electroma um objecto mais vocacionado para o encadeamento de lutas marciais e diálogos grosseiros entre robots desregulados, e Sailing Team encabeçaria a lista de potenciais candidatos a banda-sonora do mesmo (alguns clássicos de Kid 606 seguir-se-iam um pouco mais abaixo nesse conjunto de nomes).
Calcula-se que possa não ser fácil encenar cenas de confrontos entre gangues rivais de robots. Mais difícil que isso só mesmo tentar perceber que tipo de vigor sobrenatural se apodera de Ruben Costa no seu debitar de padrões de bateria que são pura rebelião face a tradições passadas ou correntes, ou, se preferirmos, reaproveitamentos personalizados dos ritmos massificados de hoje apostados em adivinhar as necessidades de amanhã. Além de tudo, são fios condutores úteis à configuração de uma passadeira que, de tão robusta, apresenta capacidade para encaixar sobre si todo o tipo de barafunda, efervescência atípica e ruína electrónica que os One Might Add chulam à maquinaria por eles adulterada (e isso percebe-se). Enquanto isso, mais uns quantos andróides acabaram esborrachados no ferro-velho, sobre a chapa quente da colossal “Sailing Team”, que se sujeita a todo o tipo de choques térmicos infligidos por uma produção que descobriu todos os sentidos práticos que a esquizofrenia tem para oferecer. Muito para oferecer tem também uma brilhante “Suitable Energy” comparável ao que poderia ser a identidade musical de Wolfgang Voigt (Rei!) instalada num berço que cai aos trambolhões sobre uma escadaria na lendária cena de tiroteio d' Os Intocáveis, com alguns apontamentos mais disformes da electrónica a tornarem mais ásperos os degraus house (a qualidade cada vez menos secreta dos OMA) dessa estação de comboio.
Fazendo jus ao seu cerne exploitation, Sailing Team é cruzeiro que atraca em vários portos de um mesmo continente One Might Add ou um barco tripulado por diferentes marinheiros que andam à chapada pela dominância do convés. É essencialmente o disco que faz dos One Might Add campeões de uma cognição biónica que estreita a relação entre a fisicalidade crua da percussão e as mais indomáveis reacções da parafernália analógica amontoada. Ruben Costa e Alberto Arruda comportam-se como dois robots programados com a mais agitada informação de dois universos paralelos, sem que isso – afina de contas – os torne menos humanos.
Miguel ArsénioComo pedra que racha o mosaico Daft Punkiano reflectido no charco estático de Electroma, Sailing Team, o muito aguardado primeiro disco da também dupla One Might Add, serviria na perfeição como banda-sonora para o tal filme “à parte”, caso este fosse uma produção entregue a todos os maus hábitos do cinema exploitation, que, durante toda a década de setenta (tão propícia ao surgimento dos heróis afro-americanos cheios de atitude), tudo fez para que o busto invulgar de Pam Grier (Coffy) e o palavreado apimentado de Rudy Ray Moore (Dolemite) – além dos penteados de ambos - fossem também utilizados como instrumentos de entretenimento para um público mais interessado em ver um polícia branco no lugar do saco de porrada do que em obter algum proveito profundamente intelectual às narrativas inevitavelmente fáceis do género. Fosse Electroma um objecto mais vocacionado para o encadeamento de lutas marciais e diálogos grosseiros entre robots desregulados, e Sailing Team encabeçaria a lista de potenciais candidatos a banda-sonora do mesmo (alguns clássicos de Kid 606 seguir-se-iam um pouco mais abaixo nesse conjunto de nomes).
Calcula-se que possa não ser fácil encenar cenas de confrontos entre gangues rivais de robots. Mais difícil que isso só mesmo tentar perceber que tipo de vigor sobrenatural se apodera de Ruben Costa no seu debitar de padrões de bateria que são pura rebelião face a tradições passadas ou correntes, ou, se preferirmos, reaproveitamentos personalizados dos ritmos massificados de hoje apostados em adivinhar as necessidades de amanhã. Além de tudo, são fios condutores úteis à configuração de uma passadeira que, de tão robusta, apresenta capacidade para encaixar sobre si todo o tipo de barafunda, efervescência atípica e ruína electrónica que os One Might Add chulam à maquinaria por eles adulterada (e isso percebe-se). Enquanto isso, mais uns quantos andróides acabaram esborrachados no ferro-velho, sobre a chapa quente da colossal “Sailing Team”, que se sujeita a todo o tipo de choques térmicos infligidos por uma produção que descobriu todos os sentidos práticos que a esquizofrenia tem para oferecer. Muito para oferecer tem também uma brilhante “Suitable Energy” comparável ao que poderia ser a identidade musical de Wolfgang Voigt (Rei!) instalada num berço que cai aos trambolhões sobre uma escadaria na lendária cena de tiroteio d' Os Intocáveis, com alguns apontamentos mais disformes da electrónica a tornarem mais ásperos os degraus house (a qualidade cada vez menos secreta dos OMA) dessa estação de comboio.
Fazendo jus ao seu cerne exploitation, Sailing Team é cruzeiro que atraca em vários portos de um mesmo continente One Might Add ou um barco tripulado por diferentes marinheiros que andam à chapada pela dominância do convés. É essencialmente o disco que faz dos One Might Add campeões de uma cognição biónica que estreita a relação entre a fisicalidade crua da percussão e as mais indomáveis reacções da parafernália analógica amontoada. Ruben Costa e Alberto Arruda comportam-se como dois robots programados com a mais agitada informação de dois universos paralelos, sem que isso – afina de contas – os torne menos humanos.
migarsenio@yahoo.com
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