DISCOS
Religious Knives
It's After Dark
· 13 Fev 2008 · 08:00 ·
Religious Knives
It's After Dark
2008
Troubleman Unlimited
Sítios oficiais:
- Religious Knives
- Troubleman Unlimited
It's After Dark
2008
Troubleman Unlimited
Sítios oficiais:
- Religious Knives
- Troubleman Unlimited
Religious Knives
It's After Dark
2008
Troubleman Unlimited
Sítios oficiais:
- Religious Knives
- Troubleman Unlimited
It's After Dark
2008
Troubleman Unlimited
Sítios oficiais:
- Religious Knives
- Troubleman Unlimited
Espinha dorsal de Remains multiplica-se nas suas partículas constituintes.
O período sabático a que os Double Leopards se remeteram foi, inevitavelmente levar à extinção da banda, o que permitiu aos seus membros multiplicarem-se em inúmeros projectos com uma proliferação de edições quase anti-natura para com qualquer teoria mercantilista. Um dos projectos que conheceu uma maior notoriedade ao longo de 2007 foram estes Religious Knives onde pernoitam o casal de Mike e Maya Bernstein e, que no brilhante Remains se fez valer de uma saudável promiscuidade com Nate Nelson dos Mouthus. Aquele que era o projecto paralelo com maior afinidade para com a banda mãe, acabou por se tornar na prioridade para o casal, que paralelamente se mantém também extremamente activo com a muito recomendável editora Heavy Tapes. Da sombra chega agora este It's After Dark cortesia da Troubleman Unlimited, envolto novamente em nuvens psicadélicas e de pulsação telúrica (kraut).
Apesar de partilhar com Remains as mesmas ambições, os resultados expostos acabam por se conjecturar em formas bastante diferentes daquelas que pautavam o álbum de estreia da banda de S. Francisco. Acima de tudo, é desde logo patente que a devoção aos primeiros trabalhos de Ash Ra Tempel e Popol Vuh ainda se mantém, e é aqui ainda mais amplificada, persistindo o onirismo e as toadas quases ritualistas que marcavam a estreia, desta feita aplicadas num formato mais próximo de algo facilmente reconhecível como rock. Se a aproximação a formatos mais herméticos não deixa de ser um passo algo óbvio, por outro é também algo demonstrativo da incapacidade destes de confinarem a soluções formulaicas (sendo por isso louvável). Pena que estas nem sempre resultem em pleno, e em abono da verdade pode-se desde logo dizer, que comparativamente a Remains, este segundo álbum é sem dúvida inferior, devido a uma certa dispersão de ideias e uma notória falta de talento no que respeita à escrita de uma canção. Onze minutos em lo-fi garageiro de "It's Brooklyn After Dark" são o cartão de visita com que os Religious Knives nos apresentam uma (algo inesperada) incidência sobre o rock psicadélico do final dos anos 60, com uma batida que não destoaria no meio de Easter Everywhere dos 13th Floor Elevators, a servir de cama a um diálogo roufenho entre Maya e Mike, que os Royal Trux talvez tivessem feito se preterissem a heroína pelo LSD.
Se os ecos do dub asseguravam a pulsação de grande parte de Remains, estes surgem agora de forma bem mais exposta em "The Streets", que descarta a alienação desses momentos, em troca de uma luminosidade algo bem vinda, mas bem menos eficaz no que diz respeito a atingir os tão desejados paraísos artificiais. Paradigmáticas na forma como em It's After Dark a banda parece ter retalhado em pedaços o seu código genético, estas duas faixas podem ser vistas como simulacro da forma como esses mesmos retalhos foram tão forçosamente colados num álbum onde teclas que chegam a evocar a destreza de Ray Manzarek coexistem com pequenas maravilhas de sintetizador aquático e voz etérea, tornando-o num todo, que entre o rock oblíquo de "It's Hot" e a bateria textural da fabulosa "Noontime" parece ter perdido a coerência que fez de Remains uma peça tão fundamental para compreender a importância que os Double Leopards tinham/têm, quer como unidade, quer em separado.
Bruno SilvaApesar de partilhar com Remains as mesmas ambições, os resultados expostos acabam por se conjecturar em formas bastante diferentes daquelas que pautavam o álbum de estreia da banda de S. Francisco. Acima de tudo, é desde logo patente que a devoção aos primeiros trabalhos de Ash Ra Tempel e Popol Vuh ainda se mantém, e é aqui ainda mais amplificada, persistindo o onirismo e as toadas quases ritualistas que marcavam a estreia, desta feita aplicadas num formato mais próximo de algo facilmente reconhecível como rock. Se a aproximação a formatos mais herméticos não deixa de ser um passo algo óbvio, por outro é também algo demonstrativo da incapacidade destes de confinarem a soluções formulaicas (sendo por isso louvável). Pena que estas nem sempre resultem em pleno, e em abono da verdade pode-se desde logo dizer, que comparativamente a Remains, este segundo álbum é sem dúvida inferior, devido a uma certa dispersão de ideias e uma notória falta de talento no que respeita à escrita de uma canção. Onze minutos em lo-fi garageiro de "It's Brooklyn After Dark" são o cartão de visita com que os Religious Knives nos apresentam uma (algo inesperada) incidência sobre o rock psicadélico do final dos anos 60, com uma batida que não destoaria no meio de Easter Everywhere dos 13th Floor Elevators, a servir de cama a um diálogo roufenho entre Maya e Mike, que os Royal Trux talvez tivessem feito se preterissem a heroína pelo LSD.
Se os ecos do dub asseguravam a pulsação de grande parte de Remains, estes surgem agora de forma bem mais exposta em "The Streets", que descarta a alienação desses momentos, em troca de uma luminosidade algo bem vinda, mas bem menos eficaz no que diz respeito a atingir os tão desejados paraísos artificiais. Paradigmáticas na forma como em It's After Dark a banda parece ter retalhado em pedaços o seu código genético, estas duas faixas podem ser vistas como simulacro da forma como esses mesmos retalhos foram tão forçosamente colados num álbum onde teclas que chegam a evocar a destreza de Ray Manzarek coexistem com pequenas maravilhas de sintetizador aquático e voz etérea, tornando-o num todo, que entre o rock oblíquo de "It's Hot" e a bateria textural da fabulosa "Noontime" parece ter perdido a coerência que fez de Remains uma peça tão fundamental para compreender a importância que os Double Leopards tinham/têm, quer como unidade, quer em separado.
celasdeathsquad@gmail.com
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