DISCOS
Raccoo-oo-oon
Behold Secret Kingdom
· 29 Out 2007 · 07:00 ·
Raccoo-oo-oon
Behold Secret Kingdom
2007
Release the Bats
Sítios oficiais:
- Raccoo-oo-oon
- Release the Bats
Behold Secret Kingdom
2007
Release the Bats
Sítios oficiais:
- Raccoo-oo-oon
- Release the Bats
Raccoo-oo-oon
Behold Secret Kingdom
2007
Release the Bats
Sítios oficiais:
- Raccoo-oo-oon
- Release the Bats
Behold Secret Kingdom
2007
Release the Bats
Sítios oficiais:
- Raccoo-oo-oon
- Release the Bats
Portal obscuro perdido algures em Iowa conduz a um reino onde o ruído é consequência e o rock escravo da demência.
Raccoo-oo-oon pode bem ser a transcrição fonética do último suspiro quebrado que soltou quem morreu no fundo de um poço situado em parte incerta de uma fábula escrita por São Cipriano. Porém, a lógica obriga a corresponder esse nome estranho aos seus donos: uma pandilha noctívaga oriunda de Iowa - cu de Judas no mapa norte-americano – que tem vindo a exibir um gosto especial por um rock lodoso e deformado, que não raras vezes expande o seu alcance através de improvisações e freak outs a que nem a bola de cristal mais clarividente antecipa a direcção. Mas qualquer lógica é interdita no Secret Kingdom que os Raccoo-oo-oon isolaram da mundaneidade, como se ambicionassem para o mesmo a arquitectura de uma Arkam onde o Batman aprisionou os superiormente criativos vilões que o impedem de viver em paz a sua homossexualidade (literalmente) camuflada com o seu braço-direito Robin. Secret Kingdom tem entre os seus prisioneiros uma centopeia mitológica que exercita a sua precursão étnica no início bombástico de “Mirror Blanket”, larvas que engordam à base de uma dieta de breves sons metálicos desencontrados em “Visage of the Fox”, tudo aquilo que Mel Gibson procura como inspiração para os momentos em que se masturba com visões de cenários apocalípticos onde o único bem de troca que resta a todos é um dialecto que ninguém entende.
A arte dos Raccoo-oo-oon é também a da desorientação e talvez por isso a aurora de “Antler Mask” – próxima de uns Bardo Pond anti-zen – reproduza nas suas guitarras parte do clássico bluegrass “Duelling Banjos”, tema central da obra-prima de cinema violento Deliverance – Fim-de-semana Alucinante, em que uma iniciativa de transgressão orgulhosamente masculina é interrompida por uma das maiores humilhações que pode sofrer um homem (ser sodomizado por um homem-da-montanha desdentado). Enquanto empreendimento de uns Raccoo-oo-oon que, nas fotos promocionais, se revelaram entusiastas da caça e prováveis militantes da NRA, Behold Secret Kindgom é disco que não se acanha de premir o gatilho quando, a sangue-frio, pretende cometer os assaltos sensoriais que mais perturbantes são por obra de um timing doentio, que impossibilita até os mais cautelosos de anteverem o fosso de enorme diâmetro que abre “Antler Mask” através de circularidade psicadélica e shoegaze ciclónico.
Inserido numa linha de vinhetas de banda-desenhada em que a última revele finalmente o segredo de tamanha conspiração macabra, o título Behold Secret Kingdom encontra-se apenas uns passos atrás de Strangeways, Here We Come dos Smiths. Os Raccoo-oo-oon parecem já ter bem entranhados os seus próprios hábitos estranhos – testados e moldados ao longo da série de discos Mythos Folkways em que é possível observar a turma de Iowa no seu habitat mais libertino e feroz para com os moldes à volta. A experiência e carapaça ruidosa acumulada em pouco tempo possibilita aos Racoo-oo-oon a oportunidade de, com Behold Secret Kindgom, leccionarem uma disciplina inserida no seguinte curso intensivo: “Febril gestão de ímpetos freak e amadurecimento dos mesmos através de um comportamento de sobrevivência Mad Max aplicado aos instrumentos”. Independentemente da nota obtida, tu és a presa.
Miguel ArsénioA arte dos Raccoo-oo-oon é também a da desorientação e talvez por isso a aurora de “Antler Mask” – próxima de uns Bardo Pond anti-zen – reproduza nas suas guitarras parte do clássico bluegrass “Duelling Banjos”, tema central da obra-prima de cinema violento Deliverance – Fim-de-semana Alucinante, em que uma iniciativa de transgressão orgulhosamente masculina é interrompida por uma das maiores humilhações que pode sofrer um homem (ser sodomizado por um homem-da-montanha desdentado). Enquanto empreendimento de uns Raccoo-oo-oon que, nas fotos promocionais, se revelaram entusiastas da caça e prováveis militantes da NRA, Behold Secret Kindgom é disco que não se acanha de premir o gatilho quando, a sangue-frio, pretende cometer os assaltos sensoriais que mais perturbantes são por obra de um timing doentio, que impossibilita até os mais cautelosos de anteverem o fosso de enorme diâmetro que abre “Antler Mask” através de circularidade psicadélica e shoegaze ciclónico.
Inserido numa linha de vinhetas de banda-desenhada em que a última revele finalmente o segredo de tamanha conspiração macabra, o título Behold Secret Kingdom encontra-se apenas uns passos atrás de Strangeways, Here We Come dos Smiths. Os Raccoo-oo-oon parecem já ter bem entranhados os seus próprios hábitos estranhos – testados e moldados ao longo da série de discos Mythos Folkways em que é possível observar a turma de Iowa no seu habitat mais libertino e feroz para com os moldes à volta. A experiência e carapaça ruidosa acumulada em pouco tempo possibilita aos Racoo-oo-oon a oportunidade de, com Behold Secret Kindgom, leccionarem uma disciplina inserida no seguinte curso intensivo: “Febril gestão de ímpetos freak e amadurecimento dos mesmos através de um comportamento de sobrevivência Mad Max aplicado aos instrumentos”. Independentemente da nota obtida, tu és a presa.
migarsenio@yahoo.com
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