A cantora Sónia Oliveira, que se apresentou ao mundo do jazz com o disco Encontro, acaba de lançar uma campanha de "crowdfunding" para o seu novo álbum. A campanha está disponível online e a cantora falou-nos sobre este projecto e sobre a música que aí vem.

Porquê a ideia da campanha de "crowdfunding"?

Primeiro, e obviamente, preciso de fundos para mais este projecto. Depois é essencial mostrar às pessoas que eu estou aqui, viva, activa e que não é o facto de não conseguir auto-financiar as minhas ideias e projectos que me vai impedir de continuar em frente com eles. Depois de ter passado vários anos no casulo das escolas de música, a solidificar a minha identidade musical e a crescer, tem sido um caminho cheio de curvas este o de andar em frente. Ainda mais com um disco anterior, o Encontro, feito de versões em duo, muito experimental, que traduz pouco do que eu faço agora. E como não tenho editora, nem agente, nem management, nem investidores… vi no crowdfunding uma forma de continuar a caminhar. Agora, apesar da campanha via PPL estar prestes a acabar, os donativos continuam a ser aceites para o NIB PT50 0018 0003 1791 8400 0202 8.

Como será a música do novo disco?

O conceito deste novo disco iniciou-se há anos atrás quando, na escola, comecei a pensar de forma crítica sobre o universo da voz instrumental e na forma como a voz se movimenta no jazz. Comecei a tentar compreender o que é isto de a voz cantar melodias sem letra, que identidade esta postura lhe dá, como se exprime, como interpreta e que ideias transmite. Quis fazer as duas coisas: ver a voz como igual aos outros instrumentos (comparada a um trompete, por exemplo) e ver a voz como mais que isso. Isto veio a ser a minha tese de mestrado… E nesta perspectiva comecei a compor para voz-instrumento. A música que vamos ouvir vai localizar-se num ambiente jazz moderno, onde a voz aparece por vezes fundida na textura do som de grupo e noutras como lead, levando a melodia para o lugar de destaque. Os temas são originais meus, outros escritos por mim e pelo Carlos Garcia. Há ainda espaço para a já habitual experimentação, numa peça do compositor Jorge Ramos, para voz e contrabaixo. Esta peça é muito especial porque foi escrita especificamente para mim, em consonância com as minhas ideias sobre a voz instrumental. Há também re-arranjos de um tema do Hermeto Pascoal e outro do baixista Yuri Daniel.

Quem são os convidados do novo disco?

O quarteto base é constituído por mim, com o Carlos Garcia no piano, o Yuri Daniel no baixo eléctrico e o Bruno Pedroso na bateria. Depois temos o jovem contrabaixista João Pinho Vargas, que terá o seu maior destaque na peça do Jorge Ramos, o vibrafonista Eduardo Cardinho e a super cantora Maria João, que além de me influenciar desde sempre, tem sido uma mentora e um exemplo nestas coisas de levar a voz por todos os caminhos que quisermos.