Há qualquer coisa de industrial na música do duo sueco Roll The Dice (Malcolm Pardon e Peder Mannerfelt), ou pós-industrial, como nas fotografias de Bernd e Hilla Becher. Ao passo que o casal Becher cristalizava a decadência de antigas estruturas industriais em películas repletas de grão (a preto e branco ou escala de cinza), os Roll the Dice como que constroem bandas sonoras imaginárias para filmes de Sergei Eisenstein ou Dziga Vertov – focados no movimento automatizado da classe operária e na falida promessa do socialismo científico visando um progresso inexorável, a escadinha do historicismo. Fazem-no através de um núcleo duro instrumental, encimado por um piano e exponenciado por sintetizadores analógicos e demais elementos de produção electrónica. O álbum homónimo de 2010, editado pela Digitalis, e o sucessor “In Dust” (Leaf, 2011) passaram relativamente despercebidos, mas são ambos sublimes. A actuação ao vivo hoje no Teatro Maria Matos, em Lisboa, é uma excelente oportunidade para consagrar os Roll the Dice com a devida relevância.