Mão Morta
TMN Ao Vivo
01 Out 2011
Dia um de Outubro foi o dia mundial da música. Foi também o dia em que os Mão Morta decidiram iniciar a sua Pelux In Motion, digressão de oito datas um pouco por todo o país. O que se conjugou na perfeição, já que os Mão Morta são o expoente máximo da música cantada em português, resumidamente, e a melhor banda de sempre, basicamente. O autor deste texto assume sem problemas que esta é uma opinião subjectiva, mas previne desde já que quem não partilhar da mesma é um idiota. Há coisas que de tão verdadeiras têm de ser repetidas, reensinadas, recolocadas no campo do senso comum. Nem o facto do som ter estado aquém do esperado - especialmente no que tocou à voz, discutivelmente o ponto-chave da banda de Braga - impediu a que se assistisse a um grande concerto no Armazém F, recentemente rebaptizado como Sala TMN Ao Vivo, doravante rerebaptizada como "2,5€ por uma cerveja? Ide chular o caralho".

Assim se apresentam os Mão Morta: seis elementos espalhados pelo palco enquanto o projector exibia imagens de peluches assustadores. À dianteira, claro está, Adolfo Luxúria Canibal, que nos dava as boas vindas e informava ser este um concerto de ensaio para que os outros, nos locais a que nós os da capital chamamos "província", possam correr nos conformes. Será possivelmente este "desprezo" que faz com que os bracarenses se recusem a tocar "Lisboa", mesmo que esta seja requisitada por várias vezes. Em vez de Lisboa, há terras de Gibraltar a Portofino, enquanto se conta a história de "Tiago Capitão", que abre o concerto da mesma forma que termina Pesadelo Em Peluche; belíssima. Segue-se-lhe a velhinha "Aum", porque o tempo não espera por nós, e cuja crueza - chegando ao ponto de se limitar a percussão e palavras - nos fará lembrar que os Mão Morta se formaram devido aos Swans.

Não só de "Aum" se fez a viagem ao passado da banda. Depois de uma "Tu Disseste" que permite sempre ao público responder à questão de o que é que isso interessa? (resp.: nada) e de uma "Velocidade Escaldante" que dá a A.L.C vontade de vomitar, como o palratório da crise económica, surge-nos "Destilo Ódio", com uma prestação de arrepiar e que faria com que o vocalista acabasse a suar em bica - se fôssemos crentes diríamos ter visto o Diabo - e "Veus Caídos", bem recebida pelo muito público. Voltamos a Pesadelo Em Peluche para "Fazer De Morto", canção que, segundo Adolfo, já deveria ter sido escrita há anos e que vem na sequência de uma outra dos Die Haut, e "Novelos Da Paixão", o romance entre o Homem e a (sua) TV. Houve também espaço para saltos a "Berlim" e "Paris" (uma agradável surpresa) até chegarmos àquela que, diz a banda, inspirou a tour: "Teoria da Conspiração". O final do concerto per se (isto é, antes do[s] encore[s]) fez com que o público até então atípico teve finalmente um rasgo de rock n´ roll: "Escravos Do Desejo" deu o mote, "E Se Depois" confirmou a explosão e "1º De Novembro" (cuja ladainha é presença constante em concertos da banda) teve direito não só a uma versão longa como também à presença de uma bela dança do ventre por parte de uma moça desconhecida mas agradavelmente bem vestida.

Fez então sentido que o primeiro encore se iniciasse com "Tetas Da Alienação" seguido de "Vamos Fugir", passagens pelo álbum mais político dos Mão Morta numa altura em que não há como fugir à política. Mas felizmente não terminaria por aqui, como pressupuseram aqueles que estavam quase em cima do palco e puderam dar uma vista de olhos às setlists ainda antes do concerto começar. Haveria tempo para "Charles Manson", o incitar à revolução de cocktail na mão, e "Anarquista Duval", que resgatou a explosão das três supramencionadas e que deixou Adolfo Luxúria Canibal estendido e esgotado no chão - e vítima de assédio sexual por parte de um peluche canino. Depois de tudo isto não se poderá dizer que os Mão Morta estão bem e recomendam-se: nunca ao longo de quase trinta anos estiveram mal. Nem nunca hão de estar.
· 02 Out 2011 · 22:22 ·
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com

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