Lost Gorbachevs / Traumático Desmame
Galeria Zé dos Bois, Lisboa
25 Set 2010
Há uns bons anos atrás, por volta de 2005, os portuenses Lost Gorbachevs apresentaram-se a Lisboa. Nessa altura tocaram na loja Trem Azul, e mostraram aí o seu jazz-punk de influência zorniana (por essa altura tocaram também no Jazz na Relva de Paredes de Coura). Nesse concerto na loja de jazz do Cais do Sodré o grupo era ainda um trio - Gustavo Costa (bateria e electrónica), João Martins (saxofone alto e tenor) e Henrique Fernandes (contrabaixo eléctrico). Alguns anos mais tarde os Gorbachevs regressam a Lisboa, agora com uma fórmula alterada: ao trio base junta-se agora a voz de Luís Gonçalves.

No aquário da ZDB o quarteto apresentou uma música com mais afinidades ao metal do que aquilo que já lhes conhecíamos. Os temas, muito estruturados, são rápidos, enérgicos, é inevitável evocarmos Naked City (e Painkiller, pelo peso). Há temas de dois ou três minutos, há temas de trinta segundos, há temas com apenas cinco segundos (um deles é o precoce “Cona anal”, título bonito, repetido no encore). A bateria e o contrabaixo formam uma base rítmica fortíssima; o saxofone de Martins entra nas melodias sempre com alta intensidade e precisão; e a voz de Gonçalves, nas suas intervenções guturais, acrescenta uma poderosa vertente blackmetaleira. As influências assumidas na página MySpace não enganam: Napalm Death, Sun Ra, Naked City, Extreme Noise Terror, Ruins, Crass, Zu. É assim mesmo, jazz e metal em fusão perfeita. Malta choninhas do jazz, não tenhais medo. Metaleiros do mundo, ide ouvi-los.

Na segunda parte actuaram os Traumático Desmame, com um som bem diferente da primeira metade. O concerto arranca com o som de uma vuvuzela (laranja, daquelas da Galp) e o grupo entra com o seu som pesado, lento. Sobre a base instrumental de ferrugento metal arrastado entram duas vozes: um vocalista em “clássico” registo gutural e um outro, com ar de quem tinha fugido de uma instituição psiquiátrica, a repetir incessantemente um delirante "nhé nhé nhé”. É difícil explicar o que se passa ali, mas podemos roubar a expressão de alguém que bem sintetizou a coisa: “fritadeira”. Estes ouvidos semi-virgens fizeram um bom esforço, mas acabaram por não aguentar até ao fim.
· 27 Set 2010 · 11:58 ·
Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com

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