Lee Ranaldo e Rafael Toral / Times New Viking
Galeria Zé dos Bois, Lisboa
21 Abr 2010
Quase sempre, todas as palavras dirigidas ao (já mítico) espaço na Rua da Barroca são do mais profundo apreço. Esporadicamente, acontece uma casa completamente atolada de gente que lá faz com que se solte uma ou outra palavra menos carinhosa. Simplesmente porque a ZDB não consegue garantir o mínimo de conforto no Aquário em dias de enchente. Uma casa bonita e composta (o que é sempre bom sinal), mas onde o calor em plena primavera toma contornos tropicais a dar para a febre. Um mal menor, talvez. Pelo público circundavam para burburinho colectivo uns Sonic Youth que talvez não tenham, também eles, suportado a densidade do ar. Suposições à parte, constata-se que Thurston Moore é realmente um gajo alto. Todos eles souberam envelhecer.

Lee Ranaldo © Vera Marmelo

O concerto de Lee Ranaldo e Rafael Toral foi o que mais sofreu com o acondicionamento sufocante. Drone não se coaduna com espaços apertados. Cinco minutos e forcei-me a sair da sala sem conseguir saber qual a instrumentação utilizada por Rafael Toral. Não que seja de extrema importância quando o resultado foi um drone contínuo de propriedades alienígenas, conduzido pela guitarra de Ranaldo, que nunca cedeu ao crescendo óbvio. O savoir faire dos músicos assim não o permitiria. As pequenas inflexões e desvios minuciosos ao padrão circular foram mostra das propriedades que fazem destes dois músicos nomes incontornáveis em toda e qualquer música de teor experimental. De igual para igual, Toral e Ranaldo nunca incorreram no risco, optando por uma contenção que afinal só lhes fica bem. Foi óptimo, mas tivesse meia casa e a percepção teria sido, certamente, melhor.

Times New Viking © Vera Marmelo

No final da actuação dos Times New Viking alguém me disse que o texto de promoção ao concerto era erróneo. Que os Times New Viking são, decididamente uma banda lo-fi. Tendo em conta o que se passou no palco do Aquário, tende-se a concordar. O ruído que conspurca do melhor modo possível as canções infecciosas do trio de Ohio esteve quase ausente. Não foi um concerto manso, mas despidas da manta de fuzz que as cobre em discos como Rip It Off, as suas canções aproximam-se mais de algum rock garageiro do que da estética shitgaze que se lhes colou. Foram uns Times New Viking vibrantes e sem grandes pausas para respirar, que ajudados por uma sala ligeiramente menos condicionada, conseguiram arrancar algum entusiasmo. As canções (“Martin Luther King Day”, “Born Again Revisited” ou “Teen Drama”) estiveram lá, e não deixam de ser óptimas canções. Pena que lhes tenha faltado aquele nervo.
· 22 Abr 2010 · 19:04 ·
Bruno Silva
celasdeathsquad@gmail.com

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