Black Lips / The Sticks
Caixa Económica Operária, Lisboa
11 Nov 2009
Existe uma diferença enorme entre uma banda perseguida pelo seu público e outra que se entrega ao mesmo anulando o vedetismo-farpado que separa os primeiros. Depois de Good Bad Not Evil, lancheira pop que os confirmou como determinante banda rock, os Black Lips podiam ter ajustado o cu à poltrona do burguesismo e contratado um batalhão de intermediários, de modo a fazer render o peixe do sucesso numa morte lenta. Em vez disso, os Black Lips colocaram a reputação na roleta e voltaram a ser feios, porcos e maus. Chegaram à Graça no papel de heróis retornados, mas misturam-se com as pessoas, respondem por tu, confessam não ser capazes de tocar algumas do último 200 Million Thousand (são falíveis, repito) e oferecem um 7 polegadas autografado a um puto (o Alex) com idade muito abaixo da média presente. Quarenta minutos depois, os quatro de Atlanta democratizam o rock partilhando-o numa celebração gospel repleta de euforia, suor, mistura de fumos, copos pelo ar e psicadelismo para crianças.
Além disso, assenta-lhes bem o nome da (mítica) Caixa Económica Operária, situada bem no centro da Lisboa que sai à rua para falar merda sobre a bola e desarrumar as mesas de um café por causa de namoradas alheias. Os Black Lips são operários ao serviço do rock e esse não existe sem desequilíbrio e ameaça à espreita. E isso conduz-nos ao mito #224 no historial do quarteto: jovem atraente é assediada por membros da banda até que o namorado decide interromper o ritual. Uma testemunha ocular garante que foi o guitarrista Ian Saint Pé quem provocou a situação, outra testemunha revela que o viu a vomitar nas escadas antes do concerto. Depois, Cole pede desculpa em palco e o assunto fica resolvido. Perdoa-lhes então a ousadia, bravo Romeu (o namorado), porque estes rapazes precisam de alguns dentes (dourados) para cantar. E assim o fizeram em “O Katrina” (primeira agitação), “Short Fuse” (com o baterista-Ramone em evidência), “Drugs” (que, só por acaso, não é sobre drogas) e “Starting Over”. A ordem pode até não ser exactamente essa, porque uma noite assim não combina com sobriedade.
Mas não há embriaguez que deturpe a constatação de que Lisboa estava a assistir a um dos seus grandes concertos rock dos últimos anos. A noite já estava ganha (e o último concerto no Lux largamente superado, segundo me dizem) quando entra o doo wop desdentado de “Bad Kids” e, com ele, a explosão entre o público, com direito a stage dive, invasão de palco e rabos ao léu. Ainda antes do final, “Buried Alive”, obscuro lado-b de “Veni Vidi Vici”, salienta o ambiente de superstição e bruxaria que havia sido primeiramente insinuado pelo chapéu do grande guitarrista Cole Alexander. No final, sorrisos e satisfação imensa estampados no rosto de todos. Os cocózinhos confusos ficaram em casa a sonhar com discos de hypnagogic pop que ainda não existem.
Decididamente abalados pelo entusiasmo de um grande público, os britânicos Sticks estiveram à altura da missão com um rock simplista e “sempre a aviar” que só ganhou com a rotatividade dos seus três fomentadores.
Black Lips © Mauro Mota |
Além disso, assenta-lhes bem o nome da (mítica) Caixa Económica Operária, situada bem no centro da Lisboa que sai à rua para falar merda sobre a bola e desarrumar as mesas de um café por causa de namoradas alheias. Os Black Lips são operários ao serviço do rock e esse não existe sem desequilíbrio e ameaça à espreita. E isso conduz-nos ao mito #224 no historial do quarteto: jovem atraente é assediada por membros da banda até que o namorado decide interromper o ritual. Uma testemunha ocular garante que foi o guitarrista Ian Saint Pé quem provocou a situação, outra testemunha revela que o viu a vomitar nas escadas antes do concerto. Depois, Cole pede desculpa em palco e o assunto fica resolvido. Perdoa-lhes então a ousadia, bravo Romeu (o namorado), porque estes rapazes precisam de alguns dentes (dourados) para cantar. E assim o fizeram em “O Katrina” (primeira agitação), “Short Fuse” (com o baterista-Ramone em evidência), “Drugs” (que, só por acaso, não é sobre drogas) e “Starting Over”. A ordem pode até não ser exactamente essa, porque uma noite assim não combina com sobriedade.
Black Lips © Mauro Mota |
Mas não há embriaguez que deturpe a constatação de que Lisboa estava a assistir a um dos seus grandes concertos rock dos últimos anos. A noite já estava ganha (e o último concerto no Lux largamente superado, segundo me dizem) quando entra o doo wop desdentado de “Bad Kids” e, com ele, a explosão entre o público, com direito a stage dive, invasão de palco e rabos ao léu. Ainda antes do final, “Buried Alive”, obscuro lado-b de “Veni Vidi Vici”, salienta o ambiente de superstição e bruxaria que havia sido primeiramente insinuado pelo chapéu do grande guitarrista Cole Alexander. No final, sorrisos e satisfação imensa estampados no rosto de todos. Os cocózinhos confusos ficaram em casa a sonhar com discos de hypnagogic pop que ainda não existem.
Black Lips © Mauro Mota |
Decididamente abalados pelo entusiasmo de um grande público, os britânicos Sticks estiveram à altura da missão com um rock simplista e “sempre a aviar” que só ganhou com a rotatividade dos seus três fomentadores.
· 13 Nov 2009 · 14:17 ·
Miguel Arséniomigarsenio@yahoo.com
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