João Lima / Six Organs of Admittance
Galeria Zé dos Bois, Lisboa
17 Nov 2006
Ben Chasny é um sacana cheio de talento. Quer seja nos Comets on Fire, quer seja a solo como Six Organs of Admittance, é um sacana cheio de talento. O que dizer, uma semana e dois depois, do concerto dele, então? Um sacana menos talentoso, que andou um bocado ocupado, lembra-se mais ou menos do concerto.

A ZDB enche quando são as estrelas do underground. Poucas situações há que sejam mais rock’n’roll que o raio dos Comets on Fire, sala completamente cheia, gente a passar-se para caraças e a combater a normal estaticidade daquele público. Gente de fora, gente a sentir aquilo, rock psicadélico revisto por malta dos anos 2000. E Ben Chasny a partir tudo, mostrando-se um guitar hero dos anos 2000, a mexer-se, totalmente possuído. A julgar por um vídeo no site da Ecstatic Peace com ele e Chris Corsano, duo de guitarra e bateria, sob o mesmo nome Six Organs of Admittance, essa descarga eléctrica também ocorre nesse projecto. Mas não nos discos ditos “normais” do sacana.

E ao vivo, então...para quem, como eu, não foi aos primeiros concertos do sacana em Portugal, acho que na ZDB e no Lux, não há maneira de saber como é o resto. Mas ele consegue encher uma sala, quer seja pela fama de fingerpicker ou pelas canções - e tem muitas bem boas, especialmente nos dois últimos discos de Six Organs -, mesmo que não consiga, de forma satisfatória, dar à sala o que ela quer. Toca versões daquilo que quer, toca as coisas dele que quer, faz um concerto para ele e não para o público, que não conhece aquilo e, várias vezes, aquilo torna-se chato porque é só um gajo e a sua guitarra, ora acústica (que nem era dele), ora eléctrica.
Parece que ele não foi feito para estar em palco sozinho, que precisa sempre de alguém ao lado dele. O que não invalida que haja momentos bonitos, mas as coisas tornam-se bastante aborrecidas. E não se deviam tornar, é um bocado triste e sabe um pouco a desilusão.

Antes dele, um tal João Lima misturava projecções, sons pré-gravados e guitarra portuguesa num registo fora do fado. Havia batidas das piores possíveis, com os piores sons de percussão sintetizada que há por aí, mais guitarras portuguesas em vídeo e em áudio, um eco irritante e uma ou outra ideia boa que se tornava aborrecida logo depois. E é sempre uma pena, porra, o Chasny é enorme e nós queríamos mais dele. E, acima de tudo, esperávamos mais dele. Uma semana depois, eu queria e esperava mais dele.
· 17 Nov 2006 · 08:00 ·
Rodrigo Nogueira
rodrigo.nogueira@bodyspace.net
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