ETC.
LIVRO
Musa Lusa
Jorge Lima Barreto
· 11 Dez 2005 · 08:00 ·
Musa Lusa
Jorge Lima Barreto
1997
Hugin
Jorge Lima Barreto
1997
Hugin
Musa Lusa
Jorge Lima Barreto
1997
Hugin
Jorge Lima Barreto
1997
Hugin
A edição literária nacional no que diz respeito à área da música é genericamente pobre. Com a excepção de um par de valorosos exemplos, não existe um volume real de edições sérias e empenhadas na análise, estudo e divulgação da música nas suas diversas frentes. Os livros que actualmente existem são, na sua maioria, desenvolvidos sob a forma de biografias, à moda de epitáfios: endeusando músicos (ou produtores), centrando-se unicamente na personagem, elevando-lhe as virtudes, esquecendo os defeitos, descurando todas as restantes envolventes – desaproveitando dessa forma a oportunidade de se tornarem registos marcantes de épocas/momentos.
Ainda assim há alguns exemplos dignos de registo. João Lisboa, histórico jornalista do jornal Expresso, editou em 1998 o livro Provas de Contacto, colectânea de escritos (entrevistas e críticas) que nos dá uma visão alargada e bem conseguida sobre a música pop do final do século XX. Mas os exemplos dedicados à música pop são raros. Por outro lado, o jazz e música improvisada têm tido atenção especial. Neste campo, são nomes fundamentais na musicologia portuguesa Rui Eduardo Paes e Jorge Lima Barreto – e as edições de José Duarte, apesar de alguma popularidade, não tem relevância elementar. Paes, desde 1985 que documenta as novas músicas em ensaios elaborados, tendo conseguido estabelecer uma obra consistente: Stravinsky Morreu, Ruínas, A Música de Arte no Final do Século, Cyber-Parker, A Orelha Perdida de Van Gogh e Phonomaton.
Jorge Lima Barreto é o mais antigo documentador/musicólogo nacional, desenvolvendo esta actividade desde 1967. Em simultâneo com a produção musical, desenvolvida no grupo Telectu ou a solo, Barreto tem um papel decisivo, editando uma quase vintena de títulos dedicados às diversas músicas, interrelacionando-as historicamente ou confrontando com filosofia: Revolução do Jazz (1972), Jazz-Off (1973), Rock Trip (1974), Rock & Droga (1982), Música Minimal Repetitiva (1990), JazzArte (1994), Música e Mass Media (1996), b-boy (1998), destacam-se entre outros. Se bem que a pertinência de muitas destas edições possa ser discutível, há que reconhecer o papel meritório desta empreitada no panorama nacional.
Neste contexto, Musa Lusa constitui uma generosa lufada de ar fresco, apresentando-se como “vulgata das músicas portuguesas contemporâneas”. Mais do que qualquer outro trabalho anterior, esta publicação de 1997 tem por objectivo identificar e reunir sob um único volume todas as músicas que se fizeram em Portugal no último quartel do século XX, ou seja, no pós 25 de Abril de 1974 – embora a obra também aborde, mais superficialmente, o restante século XX.
Longe das divagações desaproveitadas de obras como Jazz-Off (1973), Musa Lusa é um compêndio de informação condensada, simplificada. A divisão faz-se por capítulos, sendo cada capítulo dedicado a um estilo musical: Música Clássica Contemporânea, Música Popular Portuguesa, Jazz, Nova Música Improvisada, Pop/Rock, Inter-Arte/Multimédia e Música Ligeira. A especificação em subgéneros faz com que o espaço para cada texto seja curto e, embora lá esteja a informação sintetizada, não aconteçam desvios ao trajecto – a opinião pessoal está também muito reduzida (o que numa obra deste carácter é positivo).
Lima Barreto, um dos mais profícuos ensaístas a debruçar-se sobre a música da actualidade, tem neste livro a sua proposta mais completa e coerente; recorrendo parcamente ao seu habitual universo vocabular, Musa Lusa ganha credibilidade. b-boy (Hugin, 1998) foi uma tentativa fracassada de documentar a música de dança, redundando num mal fundamentado documento infiltrado por erros; Musa Lusa não os evita, existem alguns (particularmente gralhas em nomes de álbuns), mas não chegam a ser determinantes. A inclusão de entrevistas (Emmanuel Nunes, António Pinho Vargas, Carlos Zíngaro, entre outros) é um bónus extra, que acrescenta valor a Musa Lusa e torna este tomo fundamental para quem queria investigar as décadas recentes da música portuguesa.
Nuno CatarinoAinda assim há alguns exemplos dignos de registo. João Lisboa, histórico jornalista do jornal Expresso, editou em 1998 o livro Provas de Contacto, colectânea de escritos (entrevistas e críticas) que nos dá uma visão alargada e bem conseguida sobre a música pop do final do século XX. Mas os exemplos dedicados à música pop são raros. Por outro lado, o jazz e música improvisada têm tido atenção especial. Neste campo, são nomes fundamentais na musicologia portuguesa Rui Eduardo Paes e Jorge Lima Barreto – e as edições de José Duarte, apesar de alguma popularidade, não tem relevância elementar. Paes, desde 1985 que documenta as novas músicas em ensaios elaborados, tendo conseguido estabelecer uma obra consistente: Stravinsky Morreu, Ruínas, A Música de Arte no Final do Século, Cyber-Parker, A Orelha Perdida de Van Gogh e Phonomaton.
Jorge Lima Barreto é o mais antigo documentador/musicólogo nacional, desenvolvendo esta actividade desde 1967. Em simultâneo com a produção musical, desenvolvida no grupo Telectu ou a solo, Barreto tem um papel decisivo, editando uma quase vintena de títulos dedicados às diversas músicas, interrelacionando-as historicamente ou confrontando com filosofia: Revolução do Jazz (1972), Jazz-Off (1973), Rock Trip (1974), Rock & Droga (1982), Música Minimal Repetitiva (1990), JazzArte (1994), Música e Mass Media (1996), b-boy (1998), destacam-se entre outros. Se bem que a pertinência de muitas destas edições possa ser discutível, há que reconhecer o papel meritório desta empreitada no panorama nacional.
Neste contexto, Musa Lusa constitui uma generosa lufada de ar fresco, apresentando-se como “vulgata das músicas portuguesas contemporâneas”. Mais do que qualquer outro trabalho anterior, esta publicação de 1997 tem por objectivo identificar e reunir sob um único volume todas as músicas que se fizeram em Portugal no último quartel do século XX, ou seja, no pós 25 de Abril de 1974 – embora a obra também aborde, mais superficialmente, o restante século XX.
Longe das divagações desaproveitadas de obras como Jazz-Off (1973), Musa Lusa é um compêndio de informação condensada, simplificada. A divisão faz-se por capítulos, sendo cada capítulo dedicado a um estilo musical: Música Clássica Contemporânea, Música Popular Portuguesa, Jazz, Nova Música Improvisada, Pop/Rock, Inter-Arte/Multimédia e Música Ligeira. A especificação em subgéneros faz com que o espaço para cada texto seja curto e, embora lá esteja a informação sintetizada, não aconteçam desvios ao trajecto – a opinião pessoal está também muito reduzida (o que numa obra deste carácter é positivo).
Lima Barreto, um dos mais profícuos ensaístas a debruçar-se sobre a música da actualidade, tem neste livro a sua proposta mais completa e coerente; recorrendo parcamente ao seu habitual universo vocabular, Musa Lusa ganha credibilidade. b-boy (Hugin, 1998) foi uma tentativa fracassada de documentar a música de dança, redundando num mal fundamentado documento infiltrado por erros; Musa Lusa não os evita, existem alguns (particularmente gralhas em nomes de álbuns), mas não chegam a ser determinantes. A inclusão de entrevistas (Emmanuel Nunes, António Pinho Vargas, Carlos Zíngaro, entre outros) é um bónus extra, que acrescenta valor a Musa Lusa e torna este tomo fundamental para quem queria investigar as décadas recentes da música portuguesa.
nunocatarino@gmail.com
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