ENTREVISTAS
Uncle Acid & The Deadbeats
Hipnose em ácido maior
· 17 Out 2013 · 23:06 ·
Se calhar são as guitarras. Talvez seja a voz aguda, distante, coberta por uma capa baça e gasta que nos envia para um misto de ruas nocturnas e mal iluminadas com uma caminhada nua pelos campos britânicos esverdeados com traços negros. Posto de outra forma: um encontro entre a Inglaterra de Jack o Estripador e o “Slaughtered Lamb” rural de Um Lobisomem Americano em Londres. Pelo meio, as devidas e fundamentais bruxas e fadas de cabelos longos, os pentagramas e o sangue já preto. Talvez uma efígie em chamas ao estilo Wicker Man. Chamam-se Uncle Acid & The Deadbeats, vêm de Cambridge, Inglaterra, e lançaram um dos álbuns do ano, chamado Mind Control. Não sei quanto a vocês, mas olhei duas vezes para me certificar de que estava na página do NME quando abri os melhores do ano até agora segundo os leitores e vi a capa do Mind Control (afinal estava em 15.º). O anterior Blood Lust já era um portento. Com a ajuda do dicionário, encontro sinónimos relacionados que se adequam ainda mais: “Prodígio, maravilha, coisa rara, insólita”. No entanto, a entrada em grande no campeonato acima do submundo dá-se com o trabalho deste ano. A dias de se estrearem em Portugal no Amplifest, enviámos uma mão cheia de perguntas por e-mail para o Uncle que dá nome à banda e nos confirmou aquilo as suspeitas de que não somos só nós que achamos que Mind Control é o melhor álbum que já fizeram.
Podes guiar-nos pelo teu processo criativo?

Penso numa história completa para um álbum e depois espero que cheguem as ideias musicais. A música e as melodias vêm primeiro e depois coses tudo junto com as palavras. Demora muito tempo. Às vezes passam meses sem que nada aconteça, mas tens de ser paciente.

Disseste em várias ocasiões que a música que fazem é apenas e só como o rock deve soar. Como é que descreverias a tua música?

Rock psicótico.



Têm um alinhamento de músicos estável nos dias que correm?

Sim, é o melhor alinhamento que alguma vez tivemos, de longe.

Por que razão te incomoda tanto o adjectivo retro?

Porque é enganador. Não vês pessoas a dizerem retro pop ou retro jazz, ainda assim, por alguma razão, retro rock é um termo aceitável que é utilizado muitas vezes. Para mim não faz sentido.

Esperavas uma reação tão positiva a Mind Control?

Sabia que o álbum ia irritar algumas pessoas porque não tem o mesmo som do Blood Lust. É provavelmente o nosso álbum mais forte, porém.



Esse tipo de reação mudou-te de alguma maneira?

Não me mudou porque não sou alguém que fique sentado à espera da aprovação e dos elogios dos outros. Se as pessoas gostaram da música, óptimo… Se não, óptimo também!

O cinema tem uma influência muito presente na música que fazes. Viste recentemente alguma coisa que queiras mencionar?

Sim, o cinema é uma enorme fonte de inspiração. Depende do projecto. Vi um filme da década de 1940 chamado Scarlet Street há pouco e deixou-me abismado. Tem alguns planos ‘noir’ cheios de sombras, mas a história em si era excelente. Muito para baixo.
Tiago Dias
tdiasferreira@gmail.com

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