ENTREVISTAS
Minta & The Brook Trout
Olimpíada
· 28 Set 2012 · 16:28 ·
© Vera Marmelo
Olympia, cidade mítica de onde surgiram dezenas de bandas rock desde os anos 90. Dos Nirvana aos Beat Happening, dos Earth aos The Microphones, das Sleater-Kinney aos Wolves in the Throne Room. Aquela cidade de Washington dá agora título a um belíssimo disco português, o quarto volume da discografia dos Minta & The Brook Trout. Este novo disco complementa uma carreira que, sorrateiramente, se vai solidificando, tendo já registado momentos marcantes: o primeiro EP You (em 2008), o primeiro disco Minta & The Brook Trout (em 2009) e o disco ao vivo Carnide (no ano passado). A frontwoman do grupo, Francisca Cortesão, cantora/compositora/multi-instrumentista apresenta este novo trabalho em conversa com o Bodyspace.
Porquê a escolha deste título, Olympia?

Olympia por causa da capital do estado do Washington, na Costa Oeste dos EUA, de onde vem tanta da música de que gosto e onde tive a sorte de passar no verão do ano passado com os They're Heading West. Também porque é um nome bonito e forte com que concordámos todos – é um alívio quando se consegue baptizar um disco pacificamente.

Que novidades traz este novo disco?

Para além das próprias canções, acho que a novidade no disco esta na riqueza de timbres que conseguimos gravar. Não só graças aos coros, aos sopros e à percussão convidada, mas também entre os quatro explorámos com mais tempo as nossas capacidades, tanto nos instrumentos que tocamos habitualmente como noutros. O facto de o Nuno Pessoa (bateria) ter estado presente desde a fase inicial de construção das canções foi determinante, assim como o Manuel Dordio ter começado a tocar mais slide guitar, ou a Mariana Ricardo ter começado a cantar mais.

Sentes que há uma evolução da tua música, entre o EP You, o primeiro disco Minta & The Brook Trout, o Carnide ao vivo e este Olympia?

Mau era se não sentisse! Tenho orgulho em cada um destes discos, mas naturalmente acho que o Olympia é o melhor. Sinto que tem havido uma evolução lógica de disco para disco. A minha sorte é estar rodeada de amigos que são melhores músicos que eu, tanto em Minta & The Brook Trout como noutras bandas, e isso faz com que eu seja obrigada a tocar melhor e a compor melhor. Como compositora e instrumentista vou gostando cada vez mais do que faço, e tendo um gozo cada vez maior em todas as fases do processo de criação e apresentação das músicas.

© Vera Marmelo

E como tens sentido as reacções a este trabalho?

Tenho ouvido coisas muitíssimo simpáticas acerca do disco, tanto de amigos como de pessoas que não conheço. Já de várias pessoas ouvi «não consigo ouvir música (inserir título, felizmente não é sempre a mesma), só uma vez». E o primeiro single, "Falcon", tem passado bastante na rádio. A nossa música está a chegar a mais pessoas e isso deixa-me muito contente.

Como têm sido as apresentações ao vivo?

Para já foram só duas desde que saiu o disco, muito diferentes uma da outra mas ambas de encher a alma. Na D'Bandada, no Porto, tocámos para uma sala cheia de gente em pé foi um concerto mais rock. No lançamento tocámos para uma sala cheia de gente sentada e muito atenta, a reagir a tudo o que acontecia em palco.

A experiência com o David Fonseca contribuiu para uma evolução da tua própria música?

Embora façamos canções dentro de estilos diferentes, tenho aprendido muitíssimo com o David e com a experiência de tocar na banda dele. Nunca tinha tocado tanto na vida, nem para tanta gente, e isso tem sido uma lição a vários níveis.

Um dos teus projectos mais marcantes foi os Casino. Este foi um passo importante para ti?

O disco de estreia dos Casino saiu há mais de dez anos, o que me faz sentir ligeiramente velha! Foi um passo importante, claro que sim, os Casino foram a minha primeira banda, foi o princípio desta história toda.

Nos últimos tempos tens estado muito envolvida nos They're Heading West. Como tem evoluído este projecto? Funciona como complemento ao trabalho como Minta?

Nos They're Heading West há uma série de luxos: tocar com aquelas três pessoas, para começar; tocar as canções do Joca (dos Julie & The Carjackers) e da Mariana Ricardo, que são dois dos meus compositores favoritos do mundo, e tocar baixo e fazer coros. E ser da mesma secção rítmica que o Sérgio Nascimento, que, para além de ser um baterista exímio e extremamente elegante, é provavelmente uma das cinco melhores pessoas à face da Terra. Para além de termos cumprido o sonho mítico de descer parte da Costa Oeste da América do Norte. Tem funcionado como um laboratório e como um recreio, e as canções de Minta também ganham com isso.

© Vera Marmelo

Como tem sido trabalhar com o Manuel Dordio e a Mariana Ricardo?

Como já fui referindo por aí acima, é uma maravilha trabalhar com eles, e também com o Nuno Pessoa, que entrou para a banda logo depois de ter saído o nosso LP homónimo, no Outuno de 2009. O Manel esteve fora do país durante grande parte destes três anos que passaram desde essa altura, por isso tivemos que dar alguns concertos sem ele e procurar outras soluções, sem nunca o substituir – porque ele é insubstituível! – e, estranhamente, creio que acabámos por ganhar com isso. A bateria assumiu um papel que nunca tinha tido na banda, e o Nuno é um baterista e arranjador extraordinário. Os sopros ganharam outra importância, porque o João Cabrita (saxofone) foi o quarto elemento em muitos concertos. E eu e a Mariana explorámos também mais as guitarras (mais eu) e o ukulele (só ela) e as vozes. Quando o Manel voltou para gravar, as coisas encaixaram-se de outra maneira, mas tudo faz sentido.

As tuas referências actuais são muito diferentes da altura em que saiu o You?

No essencial creio que se mantêm. Ou seja, Beatles, Beach Boys, Elliott Smith, Gram Parsons, Breeders… estão cá todos, e tão importantes como sempre. Mas muitos dos discos que sinto que mais marcaram a minha escrita saíram depois do You. Assim de repente lembro-me do July Flame, da Laura Veirs, do Metals, da Feist, do Lost Wisdom do Mount Eerie, do disco de Thao & Mirah… E dos Wilco, que só comecei a ouvir tarde e a más horas, e em que colei completamente. Sobretudo o You era basicamente um disco a solo, em que só sentiam as minhas influências e as do Nuno Rafael, que o produziu comigo. E foi feito numa altura em que não tocava com mais banda nenhuma. Grande parte das minhas referências actuais são as outras pessoas com quem toco, o que é um privilégio quase inexplicável.

Quais são os teus planos para os próximos tempos?

Tocar ao vivo, muito e bem.
Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com
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