ENTREVISTAS
Ölga
Um violento despertar
· 01 Mai 2005 · 08:00 ·
Os Ölga formaram-se - algures no ano de 2001 - em Lisboa das cinzas dos Freud’s Quest, e não demoraram muito tempo a surgir com o primeiro lançamento na Bor Land (o EP homónimo Ölga gravado em Agosto de 2003), que lhes valeu comparações a bandas como os Mogwai, Low, Piano Magic ou mesmo os Godspeed You! Black Emperor, e ao pós-rock em geral. Logo após o lançamento do EP Ölga, Rodrigo Filipe, o violoncelista, deixou a banda e os concertos que se seguiram ao lançamento do primeiro EP mostravam já uns Ölga mais experimentais e soltos, à procura de um rumo distinto, ideias que este novo What Is pretendem consubstanciar de forma sólida, com o olhar no futuro. Em entrevista, fala-se do percurso de 2001 até aos dias de hoje, de projectos paralelos e razões da evolução, mas é precisamente e inevitavelmente em What Is que se centra a conversa com João Teotónio.
Estrearam-se com o EP homónimo Ölga gravado em Agosto de 2003 e editado pela Bor Land mas os concertos que se seguiram apontavam já para uma evolução no som geral da banda. Como é que se desenvolveu a evolução dos Ölga desde o primeiro lançamento até este novo What Is?

De facto, os concertos promocionais já continham bastante material novo que, boa parte dele, acabou por ser incluído no novo álbum - What Is.
A evolução da nossa música é fruto de uma experimentação aberta e sem preconceitos. Partimos de longos improvisos até acharmos aquilo que poderemos chamar de “diamante”, para depois o lapidarmos e chegarmos a um final possível do tema.
A inclusão de mais uma bateria e samples foram alguns dos aspectos que alterámos com os temas incluídos em What Is. A música ganhou outra dinâmica e limitámo-nos a “seguir” esse ambiente.

Concordam que essa evolução sonora se deveu também à saída do violoncelista Rodrigo Filipe, logo após o lançamento do EP Ölga?

Em parte sim. A sua saída “abanou” o ambiente musical de então, criando um enorme vazio. Chegámos rapidamente à conclusão de que teríamos de arranjar algo que substituísse a contribuição que um instrumento como o violoncelo garantia. Assim, tentámos preenchê-lo com uma percussão mais acentuada, com samples, sintetizador, etc.

Continuam a apostar então no sampling em “What Is” como faziam, por exemplo, nos concertos?

Sim, os samples utilizados em concerto foram, na sua maioria, incluídos no álbum.

Enquanto que o primeiro registo foi gravado pelo Paulo Miranda e pelos próprios Ölga no AMPstudio, a produção deste novo What Is (gravado nos estúdios Sinal26 (no Bairro Alto, em Lisboa) ficou a cargo de Tiago Conceição e dos próprios Ölga. A que se deveu a mudança de estúdio e de companhia de produção?

Podemos apontar como causa principal o facto de querermos experimentar outro ambiente, outros métodos de trabalho, outras pessoas, etc.
Por outro lado, a distância para Viana do Castelo (onde se situa o estúdio do Paulo Miranda) contrastando com a proximidade e a mística do Bairro Alto; e o facto do Tiago Conceição ser amigo de um elemento da banda, também pesaram na escolha do local.

What Is era o disco que todos esperavam, depois da vossa evolução?

Ficámos realmente satisfeitos com o trabalho final, tendo ultrapassado largamente as nossas expectativas.
What Is é o culminar de novos estilos e ambientes que explorámos desde a altura da gravação do EP.
Na gravação deste álbum decidimos dedicar mais tempo à experimentação em estúdio, o que não tinha acontecido tanto no EP. Assim, além dos temas compostos antes da gravação, houve bastante material que foi gravado em sessões experimentais de improvisação, como são exemplos as duas últimas faixas do CD (“Maria” e “8.”).

Concordam que o objectivo alcançado em What Is é o principal factor para que até mesmo os concertos de promoção ao primeiro EP parecessem já uma evolução desse mesmo lançamento inicial? Como é que encaram os concertos ao vivo?

Penso que sim. Nos concertos ao vivo vamos introduzindo novos temas, para assim os aperfeiçoar e chegar a um ponto de satisfação, que geralmente culmina com a gravação dos mesmos. Por outro lado, temos a necessidade de introduzir alterações (ou melhorias) em temas já gravados, de modo a actualizá-los e/ou adaptá-los à própria sala de espectáculo, por exemplo.


What Is está a ter o apoio da CDGO. Os seus responsáveis mostraram especial interesse no vosso disco?

Penso que sim, mas é um assunto no qual não estou à vontade para responder pois foi a editora que contactou com eles.

Desde o início, os Ölga surgem conotados ao Pós-Rock, especialmente em relação a bandas como os Godspeed You! Black Emperor e os Mogwai. Incomoda-vos essa ligação?

Penso que não nos enquadramos bem nesse estilo musical, pois o pós-rock é bastante limitado. Mas cada um é livre de expressar a sua opinião.

Lado a lado com o mundo musical dos Ölga está o legado dos já extintos Freud’s Quest (projecto que chegou a participar na primeira compilação da Bor Land) e os Michael Nice, um projecto paralelo de alguns dos membros dos Ölga. Os Ölga incorporam alguns dos elementos de ambos esses projectos?

Os Freud’s Quest terminaram há alguns anos. Nesse projecto, estavam João Hipólito, João Teotónio (ambos dos Ölga), Bernard Sushi (Hipnótica), Nuno Lopes e João Reis.
O projecto Michael Nice é um projecto paralelo dos Ölga em conjunto com Bernard Sushi, onde são exploradas diversas correntes musicais, ambientes, com liberdade total para a improvisação, sendo que, o feeling do momento é o mais importante.

Identificam-se com a filosofia da Bor Land, a casa mãe de ambos os vossos registos?

Claro! Estamos com eles desde o início e tem sido bastante agradável ver o seu crescimento.
A filosofia da Bor Land, mais independente que outras, é essencial para o nosso estilo musical. Nunca ninguém nos pôs qualquer tipo de limite ou barreiras relativamente à criação artística, o que seria impossível de conciliar com a nossa própria filosofia.
André Gomes
andregomes@bodyspace.net
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