ENTREVISTAS
Espers
O lado negro da folk
· 01 Ago 2006 · 08:00 ·
Os Espers não são os Tunng. Pois antes que alguém entendesse a folk magna que praticam os primeiros como mais uma comodidade ao serviço de momentos descontraídos, trataram de acrescentar às suas matrizes uma profundidade e essência capaz de baralhar o faro a quem até aqui chega na senda da New Weird America ou o que seja. O recente II reincide sobre o carácter mais obscuro que já ateava o EP The Weed Tree a uma fogueira onde ardiam em lume pagão versões de Durutti Colum e Blue Öyster Cult. Em II, são já vários os momentos em que a banda oriunda de Filadélfia rompe a barreira dos 4 minutos sem receio de se perder e reencontrar-se em extensões mais libertas e amnésicas que arrancam aos seus tecelões o melhor de que até aqui foram capazes. À sombra de pretextos como o lançamento de II e a presença no anual festival Where’s the Love? ocorrido na Galeria Zé dos Bois, Greg Weeks partilhou com o Bodyspace considerações várias sobre o trajecto que separa o primeiro Espers de II.

De que modo as gravações de II diferiram das anteriores?

Tínhamos à nossa disposição um gravador de 24 pistas e um espaço de estúdio isolado, e o luxo do tempo disponível. Tínhamos um ou o outro, mas nunca ambos.

Parto do princípio que o título apontará para um qualquer propósito de sequela. Está directamente ligado ao vosso disco homónimo? Onde devemos situar The Weed Tree neste cenário?

O Weed Tree é um disco sério a que nos dedicámos a 100%, mas composto maioritariamente por covers. O II conta apenas com originais e, por isso, deve ser colocado num qualquer outro panteão. Parece-me que qualquer novo disco oficial serve de sequela ao anterior.

Sentiam-se entusiasmados com o facto de terem levado o II em digressão? Como se veio a fundir o disco no vosso set?

Vínhamos a tocar praticamente dois terços do disco há mais de um ano. Por isso, a inserção procedeu-se muito naturalmente.

Que tipo de relação mantêm com a Locust (label de Chicago que até aqui se ocupava dos lançamentos de Espers) agora que II chega até nós com o selo da Drag City?

A comunicação directa é muito escassa, mas também não existe muito por debater.

Em que outros trabalhos se encontram empenhados enquanto colectivo? Fala-me de projectos paralelos mantidos durante este último ano.

Não somos um colectivo – apenas um grupo musical. Daí que nada tenhamos feito nesse âmbito. A Meg (Baird) lançou um disco a solo e trabalhou com a irmã no projecto de considerável longevidade Baird Sisters, o Otto (Hauser) toca bateria nos Vetiver e chega a acompanhar o Devendra (Banhart), além de ser contratado para uma série de sessões avulsas. Eu tenho gravado discos no meu estúdio e trabalhado em novos projectos – um dos quais Grass, com o Otto e a Brooke Sietinsons. A Helena (Espvall), a Brook, eu e um pequeno grupo de músicos adicionais temos também trabalhado na banda-sonora para um filme Checo chamado Valerie and Her Week of Wonders. A Helena toca com uma grande variedade de músicos. Ela adora participar em jams.

Viessem a fazer uma versão de outra música de Durutti Column e qual seria? Conheces o Amigos em Portugal (saudoso disco de DC)?


Não sei. Terias de colocar essa questão à Meg. Só conheço o material dele muito superficialmente.

Já tomaste contacto com reacções de surpresa ou estranheza motivadas pelas extensões mais psicadélicas de “Flaming Telepaths” (do EP Weed Tree) ou “Hearts & Daggers” (do primeiro disco homónimo)? Presumo que algumas pessoas estejam mais afeiçoadas ao vosso material mais calmo.

Não. Nunca ouvi tal coisa. Acho realmente que as pessoas são muito gentis nos dias de hoje.

Imaginavas-vos a actuar em festivais lendários como Monterey ou Newport? Que tipo de reacção achas que obteriam por parte do público?

Absolutamente. Uma reacção calorosa, creio. Os adultos apreciam especialmente o nosso som.

Como foi actuar no All Tomorrow Parties em Maio? Quão diferente era a atmosfera do festival? Assististe a outros concertos?

Foi porreiro. A área era estranha e o pequeno palco dava uma sensação de claustrofobia a quem assistia, mas foi incrível ver Vashti (Bunyan) e Bert (Jansch). Indescritível! E Comets on Fire é sempre fabuloso. Os Mudhoney também me satisfazem sempre.

Como foi o concerto em Portugal?

Fabuloso. Foi uma experiência excitante. Adorei.

Que tipo de contributo o (baterista) Chris Corsano trouxe até ao vosso concerto? Terá introduzido um maior liberdade de improviso na prestação?

Ele é um louco genial. Ele ajudou a que trilhássemos um território que eu não acreditava ser possível de alcançar. É um rei entre os bateristas. Sim, uma imensidão de momentos de improviso, liberdade total – foi um concerto único. Amei cada um dos minutos.

Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com
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