Como é fazer música fora da casa-mãe We Shall Say Only The Leaves? O que é que resta desse projecto embrião?
Alberto Arruda: É completamente diferente, para começar somos só dois e não quatro o que faz toda a diferença em muitos aspectos, o principal é o processo de composição. Quanto ao que ficou, ficou bastante, aprendi muito.
Ruben Costa: É mais fácil, visto que não temos que lidar com quatro pessoas. Há muito menos porrada. Mas a verdade é que na altura foi muito divertido e guardo muito boas recordações.
Parece que hoje em dia estes novos projectos se multiplicam em mil outros projectos. A que acham que se deve essa proliferação de bandas?
A.A.: Julgo que as pessoas 'tão com vontade para tocar e experimentar merdas, e hoje em dia as facilidades em gravar fazem com que seja muito mais fácil registar uma maior quantidade de trabalho por parte das bandas.
Tanto quanto sei existe um lançamento inicial dos One Might Add que não chegou a ser na verdade lançamento, ficou nos arquivos e só foi escutado por meia dúzia de pessoas. Porque essa opção?
R.C.: Pois, optamos por não "revelar" isso, porque essa gravação foi o 1º ensaio (assim como a 1ª gravação) da OMA sound system, e a ideia dessa gravação foi concretizar uma ideia que tínhamos tido. Não sentimos grande necessidade de a mostrar, mas para dizer a verdade até acho que tá porreiro.
A.A.: Sim ficou porreiro, tínhamos tido a ideia no irish pub a comer batatas fritas para uma banda, como seria o que íamos usar, e depois mal nos juntamos a primeira vez gravamos logo, a ideia era sermos apenas um duo de gira-discos e bateria, mas entretanto quisemos fazer outras coisas.
Que instrumentos usam na composição dos vossos temas? Sei que recorrem igualmente à construção de alguns instrumentos…
R.C.: O que calha, temos algumas máquinas alteradas, como por exemplo uma caixa de ritmos e uns teclados, e temos também alguns barulhómetros que eu construí, nomeadamente geradores de seno com uns osciladores e tal. Usamos também uns sequenciadores para mandar aquele kick, né?
A.A.: Também a bateria e alguns objectos que usamos como percussão, um
sintetizador, um sampler, alguns processadores de efeitos e o computador que é onde gravamos e produzimos tudo.
Em que confiam para uma evolução do vosso som? Concepção de instrumentos, as várias influências de cada um…
A.A.: Eu diria que ambas as coisas. Os instrumentos que o Rubén constrói têm naturalmente uma grande influencia no som, principalmente por serem tão imprevisíveis, o que nos obriga a adaptar à máquina, mas também a forma como abordamos os outros instrumentos como a bateria ou o sampler, mas é óbvio que as influencias de cada um acabam por se manifestar no final.
R.C.: Sim, às vezes as influências são lixadas, por exemplo, eu às vezes quero "meter" um beat de hip-hop e o Alberto quer "meter" um beat house, andamos um bocado à porrada mas no fim acabamos por meter os dois.
Como se posicionam os One Might Add mediante o desenvolvimento de editoras de CD-R e netlabels em Portugal? No caso dos We Shall Say Only The Leaves o primeiro lançamento aconteceu pela Test Tube…
R.C.: Eu acho uma coisa porreira. Quanto á edição pela Test Tube gostei da
forma como tudo aconteceu.
A.A.: Eu acho um excelente meio para divulgar mais música, embora no caso das netlabels por vezes o excesso de oferta acabe por banalizar as coisas, mas naturalmente só se verifica naquelas em que o cuidado editorial e a selecção mal existem. Mas no caso dos We shall say only the leaves foi uma óptima experiência e fiquei satisfeito com a forma como tudo foi feito no que diz respeito à edição.
Onde e como foi a primeira vez em que transformaram as vossas composições num concerto ao vivo?
R.C.: A primeira vez que tocamos ao vivo foi na galeria ZDB, na noite às novas com os Goodbye Toulouse e os CAVEIRA. Foi uma actuação curta porque eu nessa noite tinha que ir para a cama cedo.
A.A.: Sim, foi um concerto curto e intenso porque o Ruben tinha que ir para cama cedo.
Quantas vezes actuaram ao vivo até hoje? A vossa abordagem musical nos
concertos difere da forma como compõem em “estúdio”?
A.A.: Até agora três vezes, ao vivo é bastante diferente, temos uma série de ideias que já vêm de casa que depois organizamos numa sequencia especifica, essas ideias servem depois como ponto de partida para outra coisa qualquer que já tem a ver com o momento, também a forma como articulamos essas ideias e as interligamos é trabalho feito em palco. No entanto não improvisamos, é um misto.
R.C.: Sim, é um bocado difícil improvisares um beat house. É mais uma coisa
"do momento" que improvisação pura e dura.
As descrições dos vossos concertos incidem bastante nas comparações ao kraut rock dos anos 70. São influências que vocês aceitam?
R.C.: Sim, aceitamos. O Alberto é que é alto fã de kraut mas eu nem sabia o
que isso era até há pouco tempo.
A.A.: Mas um dos pontos que mais nos aproximaram dessa comparação são as
duas baterias.
R.C.: Pois, mas essas baterias devem-se ao facto de eu não saber tocar
bateria e faço o que posso.
A.A.: Mas para alem disso talvez o que nos aproxime do kraut seja a postura, experimentar não apenas com instrumentos mas também com "tics" que a música tem. Não sei explicar bem, mas posso dar um exemplo...roubas o "groove" do hip-hop e fazes outra coisa daquilo. Mas falar de kraut é demasiado geral, não considero que a maioria das bandas tivessem um som minimamente parecido entre elas por isso em termos de som não podemos estar perto de nenhuma delas mas apenas em postura.
Tendo em conta o panorama musical nacional, acreditam que são bons tempos para se viver e fazer música em Portugal?
A.A.: Bom para mim é agora como sempre foi, mas é verdade que neste momento há mais concertos e mais bandas com quem tocar.
R.C.: Eu não conheci outros tempos, mas parece que há alguma gente interessada e isso é bom.
Sei que estão neste momento em estúdio a cozinhar qualquer coisa para um próximo lançamento. Como é que estão a correr as coisas? O que é que nos podem contar acerca disso?
A.A.: Estão a correr bem, estamos a acabar algumas faixas e fazer outras ainda. Temos experimentado muito com beats que pertencem à musica de dança ou o hip-hop, a ideia é perverter essas coisas e trazer para aquilo que fazemos. Não é de todo fusão nem nada disso, considero que o que fazemos está demasiado perto de qualquer desses géneros para ser qualquer coisa desse género, acho até mesmo possível que no processo acabem por sair faixas de house relativamente fiéis ao género, o que será certamente diferente é o enquadramento que lhes damos.
R.C.: Foi o que acabou por acontecer neste ultimo concerto, foi quase uma house party. Era suposto haver mais "barulho", e acabamos por reduzir a coisa ao baixo e ao beat. Quanto as gravações 'tão a ir devagarinho. Temos experimentado muita coisa e tou também a fazer máquinas novas para mim neste momento, é difícil ainda dizer o que vai ficar.
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