DISCOS
Grails
Black Tar Prophecies vol. 1, 2 & 3
· 13 Nov 2006 · 08:00 ·
Grails
Black Tar Prophecies vol. 1, 2 & 3
2006
Important


Sítios oficiais:
- Grails
- Important
Grails
Black Tar Prophecies vol. 1, 2 & 3
2006
Important


Sítios oficiais:
- Grails
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Milagrosa ressurreição estética possibilita aos Grails gravitarem acima dos pós de rock em que, até aqui, permaneciam indistintamente perdidos.
Geralmente, são bizarras e impiedosamente crípticas as formas desenvolvidas pela arte para imitar a realidade. Em termos de equilíbrio emocional, não podia ser mais instável o período dispendido pelos Grails nas gravações dos três volumes que compõem Black Tar Prophecies, trabalho transversalmente assombrado pelo desaparecimento envolto em incógnita do violista Timothy Horner, que decidiu abandonar abruptamente as actividades do colectivo após uma digressão europeia levada a cabo o ano passado. Supor-se-ia que tal ausência fragilizasse de alguma forma um pós-rock que, sem a intervenção díspar do violino, tantas vezes arriscaria ser aborrecidamente quadrado na reprodução formular que se verifica aos dois álbuns The Burden of Hope e Redlight, que, mesmo assim, não deixam de merecer uma passageira escuta. Imprevisivelmente e com a força implacável de uma profecia que, adormecida, aguardou pelo seu momento, este Black Tar Prophecies prova que há mesmo males que vêm por bem e que nunca é tarde para um pós-rock by the numbers render-se às maravilhas da diversidade.

Mas antes de ser discutida a amplitude sónica e inalação de ideias - até aqui proibitivas - a que obtiveram direito os Grails, com a próspera renovação verificada, importa entender as reais motivações e factores que terão sustentado tão arrebatador e fatídico disco. Importa, em primeiríssimo lugar, dedicar toda a atenção possível a um injustamente obscuro Emil Amos, que vem a atravessar um pico de inspiração singular evidenciado pelo aprumo técnico dedicado à produção intensiva deste Black Tar Prophecies, no qual também contribui como baterista e guitarrista, e Decline of the West, soberbo capítulo do seu percurso a solo enquanto Holy Sons. Ambos impressionam pelo faro apocalíptico demonstrado na criação de cenários rarefeitos e escassos em luminosidade, onde o prolífico aditamento de texturas e improváveis aplicações dos instrumentos são proporcionalmente inversos a um crescente sentimento de ruína existencial. Na verdade, soa a hipnótica imensidão de sub-graves - verificada principalmente a “Bad Bhang Recipe” e à longinquamente posicionada “Black Tar Prophecies” – como a mais subtil e eficaz forma de confiar ao baixo de camuflagem dub a tutela manipulativa dos sentidos que normalmente conduzem, no pós-rock, os crescendos e decrescendos. Necessitaram os Grails de uma divisão em fascículos para descobrirem a sua verdadeira identidade.

Embora musicalmente seja apenas pontual e nada evidente o contacto entre os dois discos mencionados (Prophecies é, evidentemente, mais robusto e maciço), Black Tar Prophecies, tal como Decline of the West, é um disco ferido, que não toma partido no conflito, não determina especificamente os motivos da sua angústia – dedicando-se, em vez disso, a privar o seu encadeamento das soluções mais previsíveis, ao inserir banjos perdidos no tempo quando a suposição anteciparia um opus de distorção ou abraçando, em “More Erosion”, uma coolness típica do lendário vibrafonista Roy Ayers quando a redenção do terceiro volume exigiria uma solene lamúria prolongada da guitarra. No papel (físico ou virtual), Black Tar Prophecies vol. 1,2 & 3 representa apenas um aglomerado de dois limitadíssimos 12 polegadas (um deles partilhado, em regime de split, com os Red Sparowes) e de um terceiro capítulo exclusivamente reservado a este lançamento. Na prática, parece-se muito com um sucessor lógico de Wish You Were Here dos Pink Floyd – não só pela forma como aproveita a seu favor a ausência flagrante de um dos seus membros de origem (Syb Barrett no caso dos Floyd), como também pela fluidez alheia a barreiras com que o faz.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com
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