DISCOS
Gintas K
Under My Skin
· 17 Mar 2017 · 10:52 ·
Gintas K
Under My Skin
2017
Crónica


Sítios oficiais:
- Gintas K
- Crónica
Gintas K
Under My Skin
2017
Crónica


Sítios oficiais:
- Gintas K
- Crónica
Para estudar.
O título pode, à partida, parecer enganador. Só quando chegamos aos minutos finais de "Under My Skin", tema homónimo que é um de dois pontos finais do disco, e ao sample rouco da canção de Frank Sinatra com o mesmo nome, é que percebemos que existe, aqui, algo de humano ou de carnal; que o é de forma fantasmagórica, como se a pele há muito tivesse sido abandonada, ou trocada, pelos bytes; como se nada mais restasse que a memória de uma máquina que já foi humana, upload de mente para disco rígido.

Há muito que Gintas Kraptavičius, ou Gintas K, explora a música digital - quase vinte anos. Under My Skin prossegue esse trilho laboratorial, sendo um disco no qual, mais que a vontade de fazer música, destoa a vontade de a descobrir por entre muralhas e muralhas de sons artificiais. O resultado final pode não ser, segundo os cânones, considerado música, assim como uma experiência não pode ser considerada arte. Ou talvez possa, dependendo do olhar de cada um.

Os sons aqui ordenados têm a capacidade de transmitir as mesmas sensações que qualquer peça; ouça-se a água correndo sob tilintar tribal em "Song", ou o choque electrónico - e caótico - de "Minml". Mas é mesmo no rodopio de "Under My Skin", que começa numa chuva de dados e desagua numa outra de noise (durante a qual entra, então, o homem via Sinatra), que está o maior impacto de Under My Skin, o disco. Não é um álbum, é um estudo, e só os alunos mais aplicados terão a capacidade de o perceber.
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com
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