DISCOS
Pega Monstro
Pega Monstro
· 12 Mar 2012 · 15:05 ·
Pega Monstro
Pega Monstro
2012
Cafetra Records


Sítios oficiais:
- Pega Monstro
- Cafetra Records
Pega Monstro
Pega Monstro
2012
Cafetra Records


Sítios oficiais:
- Pega Monstro
- Cafetra Records
Sugestão para um livro de aventuras sobre as Pega Monstro. Ou não. Apenas uma forma idiota de escrever "um dos melhores discos de 2012".
Prefácio: uma Lisboa emudecida pelo tédio. O único sinal de vida jovem encontra-se nas inúmeras paredes grafitadas que compõem a cidade. Tão vagarosos quanto o metropolitano da linha azul, os olhares das hordes adolescentes que compõem o futuro do país - o outro peso que carregam às costas, para além da mochila - dirigem-se para o gulag a que estadistas bem-parecidos e bem vestidos decidiram chamar "ensino obrigatório". O que num jornal é azul é vermelho no outro. Alguém fuma sem convicção o haxixe que outra pessoa entéricamente ocultou ao passar a fronteira de Espanha. A Clashtrofobia existe e está por toda a parte.

Enredo: entram em cena duas manas: Júlia e Maria. Dotadas de poderes sobrenaturais, fantásticos? Não. Apenas de uma guitarra e de uma bateria. Mas tanto um instrumento como o outro propiciam o desenvolvimento de forças sobre-humanas mais do que qualquer exposição a raios gama, mais do que qualquer mordidela de uma aranha radioactiva. A Júlia e a Maria não precisam de um acontecimento semelhante porque são elas o acontecimento. Bastou-lhes editar um único EP, e especialmente uma certa canção sobre um festival, para chegarem, virem e vencerem. O disco que agora colocam no mundo é só a confirmação, a resposta aos apelos da urbe alienada pela televisão que, um dia, desejou um pouco mais fortemente ser feliz.

E assim se inicia uma revolução. Se não passa na TV, acontecerá na Internet. A Cafetra, a editora/gangue/tribo do momento, é a casa a partir de onde as Pega Monstro traçam planos ambiciosos de conquista do planeta. Para já, o número de apoiantes não deve ser suficiente para encher um estádio de futebol da Liga Orangina. Mas são bastantes. E são fiéis. Basta olhar à volta, durante um dos seus concertos: do quarentão com filhos que sorri como se lhe tivessem feito regressar à infância, passando pelo puto deprimido com 25 que não quer de maneira nenhuma abandonar os tempos da adolescência, até ao adolescente himself para quem o mosh é uma forma de estar na vida. As Pega Monstro fazem canções para todos, independentemente da idade, cor, ou credo religioso. Fazem canções para carochos, trolhas, vítimas de violência doméstica, malta que não se preocupa com a saúde bucal como deveria.

Melhor; não se limitam a fazê-las. Fazem-nas bem. Fazem-nas de forma a que sejam infecciosas, pegajosas. Fazem-nas com um olho no punk, outro na pop e uma saudável dose de irrequietação de baixa fidelidade - embora até nesse capítulo tenham melhorado o seu jogo, com a preciosa ajuda do Tio B. Sabem de cor e salteado duas das grandes máximas: três acordes são a verdade / tudo é melhor no Porto (via "Lisboa-Porto", das melhores malhas do disco). Olham para Jay Reatard e Nathan Williams com reverência, mas seria insensato, quase tanto como os gritos constantes de "inaptidão" (para não utilizar outras expressões sabujas que se têm lido por aí escritas por gente sem sentido de humor que depois acha os Pavement a melhor merda de sempre), colocá-las ao nível de uma tradução. São muito mais do que isso, e os trinta minutos de Pega Monstro comprovam-no. Doze canções apenas e todas elas um antídoto contra a banalidade que se vive pela capital, onde cabem piadas privadas, momentos românticos twee e semi-covers de Cocteau Twins. E irão com certeza espalhar-se por todo o país, basta que haja um puto aborrecido em qualquer lado. É preciso salientar algo, fazer desta uma crítica a sério e não um simples agradecimento apaixonado? Então, claro, escolha-se aquele que é para já o refrão de 2012: há gajas que gostam de levar na boca. Outras há que gostam de fazer música. Para gáudio nosso.

Posfácio: é evidente que um dia tudo irá acabar; perde-se a vontade, arranja-se uma carreira, a sapiência juvenil e a criatividade dissipam-se como o fumo das wellas no céu azul. Mas até que isso aconteça isto estará por aqui, sempre, em repeat, banda-sonora de uma revolução que não acontecerá mas que se sonha, de uma saudade que temos de algo que ainda não se perdeu. O que se espera é que inspire. Daqui a vinte anos vamos de certeza precisar de outras Pega Monstro e de outra Cafetra. Por agora há que ser fiel e gritar o mantra o mais possível: fetra, fetra, fetra...
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com
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