DISCOS
Antony and the Johnsons
The Crying Light
· 16 Jan 2009 · 00:21 ·
Antony and the Johnsons
The Crying Light
2008
Rough Trade / Popstock Portugal


Sítios oficiais:
- Antony and the Johnsons
- Rough Trade
- Popstock Portugal
Antony and the Johnsons
The Crying Light
2008
Rough Trade / Popstock Portugal


Sítios oficiais:
- Antony and the Johnsons
- Rough Trade
- Popstock Portugal
Seguindo por linhas tortas os seus primeiros álbuns, Antony Hegarty parece que foi desta para melhor.
Dedicado a Kazuo Ohno, mestre de botoh, dança japonesa de parcos movimentos mas de enorme carga dramática, eis o esperado regresso de Antony and the Johnsons. Kazuo representa muito do que é a música deste álbum. Tem mais de cem anos, e espera pela morte. Nessa linha e seguindo por linhas tortas o seu primeiro álbum homónimo de estreia e sobretudo I am a bird now, Antony parece que foi desta para melhor. Parece (bater três vezes na madeira) uma longa carta de suicídio. Bem mais clara que as primeiras. Ou não fosse “Another World” incluída aqui, um dos mais belos tratados de desistência já que se ouviram. Parte de um EP homónimo e algo experimental que passou em 2008 talvez discreto demais para o que merecia, mal recebido por alguns fãs, “Another World” poderia ter-se tornado no epicentro deste sismo de desesperos mas não.

É “Kiss my name”, com uma entrada que não desdenharia nenhum álbum de Tindersticks, que despeja tudo o que vai no coração deste homem algures entre um homem e várias mulheres, a terra e os espíritos, o clássico e a vanguarda. Soa a borboletas a voarem revoltadas, a kiss my ass, a tomem lá sou como sou para depois acabar numa torrente de violinos que soam a esperança num mundo apocalíptico, o que no meio da morbidez desta luz chorosa desperta-nos o sorriso mais amarelo dentro dos amarelos.

A segunda metade do disco levanta voo nessa luz enganadoramente optimista ao fundo de um túnel que acaba em “Everglades”. Hino de cordas exageradas, adágio aos pântanos repletos de vida e morte e de pantanosas sensações. Afinal o Antony que afoga as mágoas de toda a gente e canta que a qualquer momento nos vai deixar, quer-nos convencer que veio para ficar. O velhinho Kazuo a qualquer momento irá, mas Antony fica. Se for por esta música e por essa voz, cada vez mais um super Tim Buckley reencarnado em Candy Darling (ouvir para crer “Aeon”), se for por tudo o que o vai tornando aos poucos num mito, que fique neste mundo e nos encante por muito tempo.
Nuno Leal
nunleal@gmail.com
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