As Melhores Canções de 2012
· 11 Dez 2012 · 03:46 ·
© Sofia Miranda

Pode haver programas inform�ticos mal�volos que tentam adivinhar o seu sucesso mas as can��es ser�o sempre uma ci�ncia n�o exacta, algo do dom�nio do impalp�vel, mat�ria dos sonhos. N�o � muito f�cil explicar o porqu� de uma can��o causa mossa e outra passar ao lado. Tendo em conta a sua caracter�stica algo fugaz, e ao contr�rio do que acontece num disco com princ�pio meio e fim, as can��es est�o ligadas ao sistema nervoso central de uma forma mais intensa do que qualquer outro formato musical imagin�vel. E talvez seja por isso que n�o � tarefa doce explicar por palavras a prefer�ncia por uma can��o. Mas n�s tentamos. Oh, se tentamos. Tantas vezes quanto as permitidas. Dez por cada colaborador. Pode n�o ser um retrato fiel do que se passou em 2012 � ser� isso sequer poss�vel? � mas d� uma boa imagem do que se produziu nestes �ltimos doze meses. Aqui est�o elas. Andr� Gomes


Alexandra Jo�o Martins
1
"Feels Like We Only Go Backwards"
Tame Impala
Se tivesse que seleccionar uma m�sica para ouvir em loop at� ao fim dos meus dias, esta seria a maior candidata. Por si s�, est� justificada a escolha. � primeira vez que ouvimos Lonerism esta n�o ser�, muito provavelmente, a can��o que mais nos chama a aten��o: h� �Keep On Lying�, �Be Above It�, �Mind Mischief�, �Apocalypse Dreams�! Contudo, a simplicidade instrumental e os del�rios experimentais de �Feels Like We Only Go Backwards�, em loop, captam e despertam as mais incr�veis sensa��es. Atenta-se em todos os pormenores: o baixo t�mido mas perspicaz, a espacialidade causada pelos sintetizadores, os teclados transcendentes, e o cantar de Kevin Parker, tamb�m ele dotado de efeitos, como porta de entrada para um inexprim�vel mundo sensorial.
2
"Something Good "
Alt-J
Os Alt-J fazem nada mais, nada menos que o prot�tipo de m�sica fofinha, seja l� o que isso for. �Something Good� � apenas um exemplo daquela que poderia ser a melhor can��o de An Awesome Wave. Apesar do concerto no Milh�es de Festa n�o ter sido nada de outro mundo, n�o consegui tirar este �lbum do mp3 at� ao final do ano. A sintonia perfeita entre bateria e guitarras, d� momentaneamente lugar de destaque �s l�mpidas teclas. Inconfund�vel, a voz nasalada de Joe Newman, parece sussurrar-nos a letra ao ouvido, debaixo de �gua, enquanto os m�rmuros dos coros nos fazem levitar.
3
"Funtimes in Babylon"
Father John Misty
Tem o prazer de abrir um dos melhores discos do ano, Fear Fun, na estreia a solo de Joshua Tillman como Father John Misty. Nesta can��o tudo parece ser preparado ao mil�metro e bater certo, desde a entrada dos instrumentos � dos coros e das palmas. F�cil de ouvir e gostar, parece-nos sempre reconhecer a m�sica de outro qualquer lado. Cruza o pop e o folk de forma a soar familiar e nost�lgico. O uso pormenorizado do bandolim acaba por imprimir na can��o o factor singular.
4
"If Anyone Tells Me ''It's Better To Have Loved And Lost Than To Never Have Loved At All'', I Will Stab Them The Face"
Matt Elliott
� quase un�nime a escolha deste tema para vencedor da categoria de �Melhor T�tulo de M�sica de Sempre� (e maior tamb�m). T�tulos � parte, Matt Elliott mostra grande parte da sua genialidade nesta can��o perfeita. Treze minutos de puro desabafo ao piano sem se tornar aborrecido, apenas triste. Dona de uma carga emotiva claramente pesada, onde os violinos acabam por chorar ao som de um vento s� e melanc�lico. H� tempo para tudo, para a grave desilus�o e para o rejuvenescimento puro.
5
"Candela"
VIVA
Victor Herrero foi uma das minhas muito boas descobertas deste ano a n�vel pessoal. A solo, com Josephine Foster ou com VIVA. Do EP destes �ltimos, Tiempo Para La Cosecha � dif�cil escolher apenas uma can��o mas opte-se pela primeira que ouvi, �Candela�. Assente em ritmos e percuss�es de origem afro-tropical, a guitarra el�ctrica como que chora a solo o paradeiro desconhecido de Candela. Como se n�o bastasse, junta-se-lhe um coro de vozes, tamb�m elas perdidas, que perguntam delicadamente: Donde estas Candela?. Um quase lamento memor�vel e transcendente.
6
"L�cia Lima"
Norberto Lobo
Norberto Lobo j� nada tem a provar. Mas se algu�m ainda tinha d�vidas, pode sempre dissipa-las ao ouvir Mel Azul. � desse mesmo trabalho que sai o single L�cia Lima. Preencher uma can��o na totalidade apenas com o dedilhar de uma guitarra n�o � tarefa f�cil, mas Norberto parece j� sabe-lo fazer sem grandes problemas. N�o se sente falta de vozes, de bateria, de baixo, nem de qualquer outro instrumento. As varia��es de tempo na pr�pria can��o criam uma esp�cie de mon�logo que suprime poss�veis lacunas de monotonia.
7
"Estrela Morena"
Mem�ria de Peixe
Continuamos em Portugal e, por sinal, a Da Chick colaborou com os Mem�ria de Peixe, nomeadamente no concerto do Milh�es de Festa, aclamado por alguns como um dos melhores do festival. S�o s� dois, uma guitarra e uma bateria, e o suficiente para fazer um dos hits de ver�o. Os riffs de guitarra limpos e refrescantes d�o o primeiro passo em direc��o � perfeita simbiose de loops, coros, distor��es e bateria. Perdemo-nos e voltamos a encontrar-nos nos devaneios de Miguel Nicolau.
8
"Cocktail"
Da Chick
Finalmente uma mulher, finalmente portuguesa. A Da Chick, que film�mos e entrevist�mos, foi uma das revela��es femininas na m�sica nacional. Com uma atitude sem merdas, regozijou, em parceria com os seus colegas da Discotexas, a electr�nica portuguesa. Funk, funk, funk� Com nuances de rap. Quem conhece, n�o se esquece: "Let me introduce you To my side of the funk Classy, Nasty, Messy, Sassy And that's how I began. I am Freak, I'm Da Chick, it is time for you to know me. Your mom will think i'm pretty, And yes i'm pretty lovely".
9
"One out of Two"
Breakbot ft. Irfane
Mais disco. Desta feita vinda de Fran�a. Thibaut Berland sob o pseud�nimo de Breakbot lan�ou este ano o primeiro �lbum, By Your Side. No meio de tantas can��es escritas hipoteticamente para um bando de adolescentes �brios dan�ar, destaca-se o EP One Out of Two. Uma letra quase rom�ntica cantada a vozes polif�nicas acompanhadas de guitarras e teclados que por vezes ro�am a banalidade. O engra�ado � que resulta.
10
"Just Fall In Love"
Poolside
Os Poolside t�m um novo �lbum engra�ado, Pacific Standart Time. Apesar do duo de Los Angeles n�o merecer um lugar nos trinta melhores �lbuns do ano, mostraram que sabem fazer bonitas can��es veraneantes, onde relaxar � palavra de ordem. "Just Fall in Love" � uma dessas m�sicas. Marcadamente disco, quer nas guitarras, quer no ritmo, e repleta de groove, � ideal para um fim-de-tarde ao p� da piscina a dan�ar ou a conversar, ou o que bem entenderem.

Ana Patr�cia Silva
1
"Get Free"
Major Lazer
N�o houve melhor ant�doto a toda a berraria berrante do tr�nsito discogr�fico de 2012. � uma can��o a contemplar o infinito, um enorme p�ntano com impulsos do dub aplicados a um rasto de melancolia e estrid�ncias m�dio-orientais. Sem a habitual sede do ru�do e do bomb�stico dos Major Lazer, este � um tumulto no olho da tempestade movido a um compasso pedrado e contemplativo, com uma letra que alude � situa��o p�s-Katrina e a �nsias de liberdade. Profundamente relaxante e com o seu qu� de sedutor, muito por culpa da voz de Amber Coffman (Dirty Projectors), que arde em chama lenta.
2
"I Love You"
2NE1
� uma can��o de m�ltiplos est�mulos e do mais fino recorte, com as m�os no cora��o e os p�s nas pistas, a mostrar a capacidade de reinven��o da k-pop. Desenrola-se numa arena de sintetizadores incandescentes, em v�rias camadas e diferentes segmentos (os Xenomania j� foram reis nisto), a desafiar as leis da dance-pop e do formato can��o. E as palavras s�o t�o metricamente precisas e t�o foneticamente ricas que at� me esque�o que n�o percebo puto do que elas est�o a cantar. O amor � um lugar estranho.
3
"King of Hearts"
Cassie
Uma can��o como esta fez valer a pena toda a martelada de electr�nica que se colou pegajosamente ao r&b. �King of Hearts� coloca Cassie no centro de uma pista de dan�a, mas n�o se acomoda nas t�picas produ��es dance-pop. T�o dan��vel quanto o que tem polu�do as ondas sonoras, mas t�o mais v�vida e cintilante, a produ��o envolve Cassie num caleidosc�pio de sintetizadores e numa batida com balan�o p�lvico. Uma voz t�o fr�gil como a dela encontra na invencibilidade da maquinaria electr�nica um escudo ideal.
4
"Casa no Campo"
Capicua
�Casa no Campo� � Capicua de cad�ncia mais suave, a explorar o potencial mais �ntimo e emotivo do rap. O talento l�rico encontra um instrumental � altura, produzido por D-One, com o sample do tema hom�nimo de Elis Regina e a guitarra c�lida de Pedro Geraldes (Linda Martini). � uma can��o de f�lego grande que tem o dom de descomplicar a vida, com palavras poderosas (�ter porte de mulher forte quando a vida me escolher�) e palavras simples que s�o setas no cora��o (�p�o quente, terra molhada e manjerico�).
5
"Bombs"
Dawn Richard
Esta nem � a melhor m�sica que ela deu ao mundo este ano � �Black Lipstick� � capaz de levar o pr�mio � mas, se � para partir tudo, que seja com esta. Uma produ��o estrondosa de batida dura e uma Dawn Richard guerreira em total controlo da can��o, a comandar e apropriar-se do instrumental, fazendo dele seu servo e vergando-o aos imperativos da sua voz. Imp�e-se, mas sem se espernear, a mostrar um lado mais agressivo e arrogante nas medidas certas. � isto que toca na minha cabe�a quando ando na rua com ar de quem vai partir a cara a algu�m.
6
"Climax"
Usher
Ningu�m esperava isto � o Usher luxuoso de outrora unido a Diplo no momento alto das suas aventuras s�nicas � mas isto � sublime. Diplo soube talhar-se � medida de Usher, numa produ��o contida mas intrincada (que inclui arranjos orquestrais do compositor Nico Muhly), conforme a intensidade emocional daquele falsete (e ui, que falsete). �Climax� move-se numa cad�ncia p�s-coito, mas isto n�o � m�sica para procriar. � triste e desolada, a atravessar aquele rel�mpago onde amor e dor se cruzam e confundem.
7
"Everything is Embarrassing"
Sky Ferreira
Uma can��o sufocada de nostalgia que tem a m�sica de dan�a no seu c�digo gen�tico, mas sem auto-confian�a suficiente para pavonear-se na sua plenitude. Respira um minimalismo com os tons quentes da new wave, constela��es de electr�nica, as teclas pesadas de um piano e uma voz mergulhada em reverbera��o. Tudo isto a conjurar uma neblina que suspira os cacos de uma rela��o falhada. Co-criada por Ariel Rechtshaid e Dev Hynes, que produziu a igualmente recomend�vel can��o-irm� �Losing You� de Solange.
8
"Mitologia"
DJ Marfox
O EP Eu Sei Quem Sou foi das coisas mais excitantes que se ouviu em 2012 e, a par do 12'' de Photonz, um aperitivo supremo do que a Pr�ncipe Discos tem para mostrar. H� nele uma sede de explorar o enorme potencial s�nico do kuduro e um fasc�nio pelas possibilidades tecnol�gicas. �Mitologia� � um esc�ndalo de celebra��o � sem pudores, com a entrega total do corpo. Condensa um mosaico de culturas num esp�rito muito v�vido e carnavalesco, movido a uma velocidade man�aca por entre estrid�ncias el�sticas, pirotecnias de percuss�o, atrofios cerebrais e uma poesia mel�dica em puro transe.
9
"Disparate Youth"
Santigold
Uma can��o com a voz magn�tica de Santigold, os riffs c�usticos da guitarra de Nick Zinner e os espa�os cavernosos do dub n�o precisaria de mais nada. Acrescente-se a capacidade de juntar coment�rio social, existencialismo e reflex�o numa can��o pop de quatro minutos e temos um single triunfante. E quando entra a comunh�o mel�dica do refr�o n�o h� como fugir. � um hino com groove no cora��o, talhado para gera��es sem rumo e recheado de farpas anti-ap�ticas (�We know now we want more / A life worth fighting for�).
10
"Step In The Dance"
Mike Delinquent Project & Lady Leshurr
Mike Delinquent pressiona os bot�es certos num h�brido garage-grime-d'n'b, mas at� fica esquecido pelo meio. Quem aqui governa � a poderosa Lady Leshurrr, promissora MC da nova gera��o brit�nica, que se metamorfoseia por entre o instrumental. O sabor da pron�ncia dela, o timbre cartoonesco, o flow com bom balan�o, a cacofonia de s�labas e onomatopeias, e tiradas l�ricas como �We've got champs, we've got ros�-�-�, fazem disto uma del�cia de can��o. Se n�o bastar, � ouvi-la no enorme mindfuck de �Wonky� dos Orbital.

Andr� Gomes
1
"So Will Be Now... (feat. Pional)"
John Talabot
N�o � estranho que associem esta can��o � palavra repeat - nem devem sentir-se culpados por isso. Porque � basicamente tudo aquilo que apetece fazer depois de mergulhar pela primeira vez em "So Will Be Now...", complexo e luxuoso manto emocional feito de sintetizadores, batidas e vozes que John Talabot criou a partir, imagine-se, de m�quinas. Ouvir e voltar a ouvir at� que esteja alojada no c�rebro. Um tratado de lux�ria e bom gosto. Um espanto.
2
"Get Free (feat. Amber)
Major Lazer
Uma batida simples, uma linha mel�dica aparentemente banal. E ainda outra � mais tarde outra ainda. Aparecem umas vozes do nada. E depois surge Amber Coffman (dos Dirty Projectors) a nadar naquela esp�cie de reggae subaqu�tico. E de repente, quase como que por magia, uma coisa simples transcende-se e torna-se quase m�gica. N�o h� grandes explica��es para explicar o porqu� de �Get Free� ser uma can��o incr�vel. Raramente h� para can��es deste calibre. Excepto dizer: tudo aqui funciona.
3
"Running"
Jessie Ware
Veludo. Fa�am um inqu�rito na rua: ponham uma data de gente a ouvir esta can��o e perguntem-lhes qual � a primeira palavra que lhes vem � cabe�a. Ser� "veludo" 87% das vezes, �sexy� 10% cento, �n�o sabe/n�o responde� os restantes 3%. Para al�m de dados estat�sticos, "Running" � um verdadeiro triunfo de Jessie Ware. N�o s�o muitas as can��es que � quarta audi��o parecem j� um cl�ssico: �Running� consegue-o. Como aquele robe de veludo que vestiram pela primeira vez, apetece us�-la a todo o momento.
4
"Candela"
VIVA
Quando os ritmos africanos de �Candela� surgem logo no in�cio est� toda a gente muito longe de imaginar que isto est� prestes a transformar-se numa das grandes can��es do ano. Primeiro porque VIVA deve dizer pouco a muita gente, e depois porque s� quando as guitarras entram em cena � que entendemos a verdadeira dimens�o de �Candela�. Longe de ser uma can��o no sentido habitual da palavra, �Candela� � um momento de rara inspira��o e um mo(nu)mento � simplicidade. Onde estar� afinal Candela?
5
"Cosmo Concerto (Life is People)"
Bill Fay
"Cosmo Concerto (Life is People)" podia resumir � e resume � todos os motives pelos quais o regresso aos discos de Bill Fay � um sucesso. � aquele tipo de can��o que se faz quando n�o se est� preocupado em construir, consolidar ou manter de p� uma carreira. � aquele tipo de can��o que se consegue quando se colocam ao servi�o da m�sica emo��es reais e algum deslumbramento com a humanidade. � aquele tipo de can��o que define um artista no tempo e no espa�o. Ainda bem que Bill Fay achou que tinha mais alguma coisa para dizer.
6
"Fineshrine"
Purity Ring
Havia muitas can��es para escolher do disco de estreia da dupla Purity Ring e quase todas podiam ocupar esta posi��o de destaque. Mas �Fineshrine� � o diamante mais polido entre tantas outras pedras preciosas. Em 3 minutos e 37 segundos, ilustra a urg�ncia, a luxuria e hedonismo com todas as ferramentas certas: batidas entrecortadas, sintetizadores robustos e uma voz que s� apetece perseguir at� ao infinito. E se os Purity Rings conseguirem levar algu�m at� ao infinito, aposto que ser� um lugar impec�vel.
7
"Shadow"
Wild Nothing
Com seis letrinhas apenas se escreve uma das melhores can��es pop de guitarras que 2012 quis parir. � que tem tudo: banho de melodia, aquele ritmo certo para decidir mudar qualquer coisa na vida (ainda que passado meia hora tudo volte ao normal), arranjos de luxo, a dose certa de revivalismo (sem exageros) e emo��o. Por emo��o, quero dizer aquela sensa��o de peito cheio. Por peito cheio, quero dizer a capacidade de sonhar. E n�o � preciso dizer a ningu�m o que significa sonhar.
8
"Wax Face"
Thee Oh Sees
Deve ser bem fodido fazer rock 'n' roll na mesma era que estes tipos. E angustiante. Num disco bem amplo nas suas escolhas, salta � vista uma can��o que resume tudo aquilo que os Thee Oh Sees representam: �Wax Face� � insanidade, � uma descarga s�nica, e, ao mesmo tempo, relev�ncia. A come�ar nas guitarras vertiginosas e a terminar na voz demencial de John Dwyer, �Wax Face� � uma daquelas can��es que chegam para mostrar que os Thee Oh Sees est�o milhas � frente da concorr�ncia. � que nem vale a pena tentar.
9
"How Do You Do?"
Hot Chip
Os Hot Chip continuam a perseguir a miss�o de dar �s pistas de dan�a aquilo que elas querem e nem sempre conseguem ter em quantidade suficiente: can��es pop perfeitas. Com o humor habitual (ver o videoclipe oficial � obrigat�rio), os Hot Chip conseguem em �How Do You Do?� o maior triunfo de In our Heads: todas as curvas certas, todos os bot�es aconselhados, todos os pontos fortes habituais, um daqueles refr�es como s� os Hot Chip parecem conseguir alcan�ar. E toda aquela aten��o aos detalhes.
10
"Something Good"
Alt-J
Felizmente os Alt-J n�o s�o apenas aquela banda que venceu o pr�mio Mercury por causa do disco de estreia, An Awesome Wave. Tamb�m s�o uma banda capaz de escrever bel�ssimas can��es pop e com uma simplicidade que chega a ser enternecedora. � certo que aquele piano de "Something Good" � capaz de mover montanhas; mas o resto � tudo quase despido, directo ao assunto, essencial. Sem grandes artefactos, os Alt-J escreveram uma daquelas can��es que ficam gravadas na mem�ria colectiva por todos os motivos certos.

Bruno Silva
1
"I Know"
Young Thug
� partida, um nom-de-guerre como Young Thug � t�o gen�rico que imediatamente projecta a imagem de mais um rapper an�nimo no seio dos milhares que andam a fazer pela vida por entre v�deos caseiros e incont�veis mixtapes. Neste caso, o mais �bvio dos nomes esconde uma persona distinta. Algures entre o Lil Wayne circa Dedication 2 e a sensibilidade autotuned de rappers de Atlanta como o Future, mas com a confian�a de quem procura uma voz �nica, o jovem mitra vai-se aventurando por entre o canto, um balbuciar inintelig�vel, frases quebradas e demais desvios ao convencionalismo. Com uma capacidade incr�vel de sacar ganchos que perduram no meio de toda a experimenta��o, carrega uma aura incorp�rea mas continuamente fascinante de que �I Know� � exemplo glorioso � em todos os sentidos da palavra. Memor�vel mesmo sem que se perceba quase nada daquilo que est� a dizer, �I Know� reveste-se de toda uma euforia galvanizadora, com a voz dele a rasgar as cascatas incandescentes de sintetizador, para conduzir a can��o com toda a seguran�a por entre o caos das rimas e a certeza do refr�o. Foi a can��o que mais vezes ouvi durante o ano, e tamb�m por isso merecia este lugar.
2
"Aaliyah"
Katy B, Geeneus e Jessie Ware
Homenagens � Aaliyah merecem por si s� o meu maior respeito � mesmo que os resultados possam soar desajustados. Mais do que o simples reconhecimento choroso da sua grandiosidade e o inevit�vel sentimento de perda de algu�m que partiu demasiado cedo � e no auge das suas capacidades -, �Aaliyah� converge toda a sua singularidade num balan�o perfeito entre a resigna��o apaixonada e a venera��o determinada de quem reconhece a imortalidade da cantora norte-americana. Liricamente irrepreens�vel - Aaliyah please / this is green envy / why must you taunt me, girl -, �Aalyiah� atinge a perfei��o da qu�mica entre a Katy B e o Geeneus que j� tinha dado origem a momentos brilhantes como �As I�, e traz para a equa��o uma Jessie Ware naquela que ser� a sua melhor presta��o vocal at� agora, num ponto de equil�brio perfeito entre o choro quase beat�fico desta �ltima e a leveza intang�vel da Katy B. Saiu h� menos de uma semana, e tem rodado continuamente c� por casa. Poderia e deveria estar no topo desta lista, mas as suas virtudes ultrapassam qualquer listagem mais ou menos inconsequente.
3
"You"
Bicep & Ejeca
At� certo ponto, "You" amplifica tudo aquilo que eu acreditava que algu�m como o Burial conseguisse fazer se entrasse de modo bem mais descarado pela House, e se libertasse daquela clausura dormente do "vazio da viv�ncia urbana" e cenas do g�nero e olhasse para a pista como palco privilegiado. � tamb�m muito mais do que isso, de um modo particularmente eficaz. O baixo palpitante que se vai reanimando a estalos de percuss�o, com aquela melodia central a instaurar uma sensualidade misteriosa que se vai tornando vagamente amea�adora � entrada de uma voz feminina carregada de delay. � a can��o perfeita para estar a dan�ar sozinho no meio da pista, ou para micar a/o gaja/o que o est� a fazer. Como se a solid�o incitasse ao voyeurismo.
4
"Use Me"
Miguel
Kaleidoscope Dream � um disco praticamente imaculado, e poderia igualmente ter escolhido "Adorn", "Do You" ou o tema t�tulo para estarem nesta lista. "Use Me" seria uma escolha quase simb�lica, n�o fosse tamb�m a can��o que mais vezes me vem � mem�ria. Um miasma denso de sintetizadores, efeitos e guitarras encharcadas em reverb que nunca se sobrep�e � vulnerabilidade da letra - "use me / wanna give you control / with the lights on / if I could just let go...". Com a voz do Miguel num acerto perfeito que nunca cede ao choro auto-comiserativo, "Use Me" equilibra-se entre a grandiloqu�ncia da produ��o e um lado humano quase palp�vel de uma forma praticamente inimagin�vel. Capaz de habitar a intimidade do quarto e a vastid�o do est�dio de igual modo.
5
"The Boys"
Nicki Minaj ft. Cassie
Ou como a Nicki Minaj continua a ser a melhor rapper feminina da actualidade quando n�o entra pelo crossover EDM rent�vel de coisas como "Starships" e "Pound the Alarm", e o mundo precisa de mais Cassie. Escrevi sobre ela extensivamente aqui, e na verdade n�o tenho muito mais a dizer.
6
"Trainman (Tensnake Tranceman Remix)"
Lauer
Na sua vers�o original, �Trainmann� j� era uma das melhores can��es de Phillips do Lauer, com o seu balan�o nu-disco meets balearic contido a instaurar toda uma envolv�ncia dan��vel atrav�s de uma progress�o ordeira que nunca se fazia a grandes crescendos. Antes em voos c�smicos rasantes. Coube ao Tensnake idealizar todo o potencial explosivo de �Trainmann� atrav�s da auto-explicativa �Tranceman Remix�. Abrindo espa�o por entre a melodia de sintetizador �s custas da percuss�o e de uma melodia de marimba memor�vel, vai escalando sobre esse eixo continuamente at� chegar ao momento de liberta��o absoluto para bra�os no ar e sorriso rasgado. Funcional de todas as maneiras certas, num ano que n�o foi particularmente feliz em hinos capazes de p�r technoheads e betos da linha a dan�ar num mesmo ritmo.
7
"Climax"
Usher
Algures neste espa�o a Ana Patr�cia j� sintetizou as raz�es do brilhantismo da "Climax" de modo muito mais certeiro do que eu alguma vez conseguiria fazer. Como tal, resta-me apenas dizer que gostei tanto da "Climax" que nunca senti necessidade de ouvir o Looking 4 Myself, mesmo que possam existir para l� �ptimas can��es. N�o chega para desculpar o Diplo de todo o mal que ele tem vindo a fazer, mas se isto for um indicador de futuro, talvez esteja no caminho certo para a reden��o.
8
"Why They Madd"
Sasha Go Hard
Vinda da mesma f�rtil cena de Chicago de nomes como Chief Keef, Lil Reese ou Lil Durk, a Sasha GoHard rapidamente assumiu o seu papel de contraponto feminino na identidade rap dessa cidade - com a Katie Got Bendz na esteira. Sem entrar pelo "mantra" ant�mico de hinos como "I Don't Like" ou "Right Here", mas com o mesmo tom de desd�m que alimenta os seus pares, a pequena rapper de 20 anos argumenta de modo incisivo sobre as raz�es pelas quais "os outros" est�o fodidos com ela, e ganha a discuss�o de um modo quase casual. Sob o veneno da voz, o instrumental do Absolut-P vai palpitando de forma tensa, na linha de algumas produ��es do cada vez mais influente Mike Will, como que a evocar todo perigo latente das ruas, numa altura em que a cidade v� o n�mero de homic�dios entre menores a aumentar drasticamente.
9
"Ima Read"
Zebra Katz ft. Njena Reddd Foxxx
Num ano em que n�o s� se ouviu falar sobre algo que rapidamente se apelidou de queer rap, como tamb�m se p�de comprovar in loco as raz�es do burburinho por via dos concertos de Mykki Blanco e Le1f, �Ima Read� continua a perdurar para a posteridade como a grande can��o vinda dessa �cena� nova-iorquina. H� uns meses escrevi que �"Ima Read" amplifica o minimalismo da produ��o ao ponto de se cingir � tens�o do baixo e da batida sem qualquer apetrecho mel�dico. A voz profunda do Zebra Katz - serei o �nico a lembrar-me do flow narc�tico do Maxi Jazz dos Faithless? - a repetir continuamente "Ima read that bitch" como um mantra dialogante com a coolness sleazy da Njena Reddd Foxxx, a serem tudo aquilo que alimenta a malha sem nunca se desvincular do tom amea�ador que paira sobre isto�. Passado este tempo, o facto de a ter apanhado a tocar um pouco por todo o lado � demonstrativo do qu�o importante ela foi em 2012. Compreende-se o sil�ncio editorial do Zebra Katz depois de algo t�o imponente como isto. As expectativas ser�o sempre as maiores, e n�o esque�amos a relativa inutilidade da Azealia Banks depois da �212�.
10
"So High"
Shadow Child
Da intercep��o entre a House mais hedonista e a eleg�ncia obl�qua da UKG, tem vindo alguma da melhor m�sica de dan�a das Ilhas Brit�nicas, e coube � Moda Black um papel de destaque nessa explora��o. A compila��o da subsidi�ria da Moda foi um exemplar perfeito de uma s�rie de lan�amentos infal�veis � com �Plezier Anthem� como hino -, de onde se destaca esta �So High�. Em parte porque a entrada do baixo � reminiscente da enorme �Red Alert� dos Basement Jaxx � nunca esquecer -, mas principalmente pelo confronto benigno entre a melodia em celebra��o e o abandono da voz que se vai imiscuindo por entre o sintetizador rasteiro. A lembrar Ibiza de todas as maneiras correctas, numa altura em que esta se assume cada vez como um para�so antropol�gico, longe dos seus dias de gl�ria.

Hugo Rocha Pereira
1
"Bomba Can��o"
Diabo Na Cruz
Folk moda punk de cortar a respira��o e levantar os p�s pelos colarinhos, ou como detonar uma m�sica em pouco mais de tr�s minutos, espalhando cacos pelo rect�ngulo. Bateria, guitarra e baixo em vertiginoso ataque juntamente com a voz de Jorge Cruz, lan�ando preg�es atr�s de preg�es para varrer Portugal de l�s-a-l�s. Diga-se, em abono da verdade, que esta m�sica tem pujan�a suficiente para fazer abalar funda��es bem mais s�lidas do que as deste pa�s a cair de podre � conta de mo�os de ovelhas que, durante as ultimas d�cadas, t�m dado belos presidentes com queda para presidi�rios. Conv�m ouvir v�rias vezes se quisermos manter o rastilho aceso.
2
"Como Calha "
B Fachada
A atmosfera rejubilante dos fluorescentes anos 80, com um batida ultra-dan��vel revestida por sintetizador vaporoso, como se regress�ssemos �s festas de garagem da adolesc�ncia, que nos ajudaram a perder a inoc�ncia por entre experi�ncias alco�licas e contactos no quarto-escuro. Ou como se entr�ssemos numa discoteca que j� n�o existe, com bolas de espelhos e m�quina de fumo, reaberta para uma noite especial antes de ser devolvida aos arquivos da mem�ria. Se tudo isto n�o bastasse para rejubilarmos com esta viagem, sempre que escutamos "Como Calha" redescobrimos uma das letras mais desconcertantes desta colheita, que inclui "matar a velha das finan�as / ou ser verde e amoroso no andan�as / a encher as freaks todas de esperan�as e lembran�as / uma vida de cagan�as".
3
"S�bado � Tarde"
Feromona
Uma das belezas da m�sica � adaptar-se a determinadas situa��es e momentos das nossas vidas. E esta � uma daquelas can��es que apetece ouvir em repeat sempre que h� energia para fazer tudo aquilo que n�o tem a ver com trabalho ou obriga��es. Sejam actividades l�dicas (vaguear sem rumo aparente, ir para a praia ver mi�das em biquini ou apanhar umas ondas) ou programas que nos motivam especialmente, como discutir bola com os amigos ou sair � noite e beber uns copos. Mas tamb�m serve de banda-sonora perfeita para aqueles per�odos em que nos apetece simplesmente n�o fazer nada, gozar o dolce fare niente e aproveitar o sol que brilha l� fora. Seja Julho ou Novembro.
4
"Too Tough to Die"
Neneh Cherry & the Thing
Da revela��o (e disco) pessoal da colheita 2012 h� muito mais por onde pegar, claro, mas esta malha condensa bastante do que faz de The Cherry Thing um disco soberbo e que vai ganhando pontos a cada audi��o: camadas de ritmo, experimentalismo e raiva. Free jazz e punk destilados em doses generosas pelos instrumentos deste trio n�rdico (destaque para o saxofone lancinante de Mats Gustafsson) e uma voz que tem tanto de mel�flua como de �cida, doses repartidas de fragilidade e empowerment - como se v�tima e carrasco estivessem personalizados no esp�rito de Neneh Cherry, resgatada de longo ex�lio musical para um conjunto de presta��es surpreendentes e que ficam registadas para mem�ria futura.
5
"C"
Black Bombaim
Se o terceiro trabalho destes rapazes � Tit�nico, a faixa para aqui trazida n�o � menos do que Colossal. Come�ando no feedback e no riff introdut�rios, que preparam o terreno para a chegada do saxofone. Que quando entra em cena � maior do que a vida, seja tocado em est�dio por Steve Mackay ou em cima do palco por Pedro Sousa. Esp�cie de mescalina sonora que se insinua pelos sentidos e expande a consci�ncia com os toques xam�nicos cozinhados pela guitarra de Isaiah Mitchell. Tudo cimentado pelo poder unificador/destrutivo do trio barcelense, que altera cad�ncias emocionais e acelera numa estrada sem fim � vista. Dezasseis minutos de transe garantidos, ou pede-me o teu dinheiro de volta.
6
"Under the Spell of the Handout"
Cody ChesnuTT
A est�tica lo-fi e toda a vida de malandragem do maravilhoso The Headphone Masterpiece j� n�o moram aqui. Se, por um lado, este Homem descobriu Deus e agora d� catequese a crian�as, n�o se sentindo confort�vel a cantar m�sicas como "Bitch, I'm Broke", por outro optou pela sofistica��o para construir as suas composi��es, por vezes orquestrais, onde se encontram p�rolas como esta, que mant�m o groove como uma das matrizes de Cody Chesnutt. Desde o piano da abertura � voz plena de soul, passando pela guitarra e os metais, tudo nos faz estalar os dedos e colocar os olhos no C�u, mesmo que aqui se fale de fome e falta de esperan�a na democracia.
7
"Dom Docas"
Pega Monstro
Bem sei que poderia ter optado pela maior complexidade e lirismo de "Akon" ou "Suggah", temas que funcionam (e muito bem) como esp�cie de contraponto neste �lbum hom�nimo e abrem portas sonoras para o futuro musical das manas Reis; mas a meu ver o ADN de Pega Monstro est� mais presente aqui. S�o 2:16 minutos de pura energia rock descarnada e sem adornos sup�rfluos (guitarra e bateria ao despique, pois claro), com o discurso directo e desassombrado de quem n�o tem problemas em repetir no refr�o que "h� gajas que gostam de levar na boca". J� estas preferem fazer malhas que partem os dentes de leite a muitos meninos.
8
"Le R�ve"
Bro-X
Agora que meio Portugal (como o Jean-Pierre do sonho dourado em formato de can��o) volta a encontrar na emigra��o uma luz que brilha ao fundo deste t�nel profundo - chamemos-lhe instinto de sobreviv�ncia ou oportunidade, conforme sejamos realistas ou simplesmente enormes filhosdaputa -, talvez seja �til voltarmos a desenferrujar a mistura da l�ngua materna com outros idiomas, seja o portunhol, o ingl�s de praia ou este franci� de quem regressa em Agosto de vacances � prov�ncia. Como sempre fomos desenrascados, havemos de conseguir qualquer coisa para nos safarmos al�m-fronteiras, nem que seja a improvisar como nesta f�bula vers�o manos do Xangai: "O que � que queres fazer? Eu fa�o quelque chose."
9
"Avej�o"
Gaiteiros de Lisboa
Esta esp�cie de met�fora musicada a toque marcial conta com a valiosa participa��o de S�rgio Godinho, que d� ainda mais for�a a uma das melhores letras da esta��o. Este �Avej�o� dos Gaiteiros faz cr�tica social e interven��o satirizando, o que n�o est� ao alcance de todos. E o que se satiriza, ent�o, aqui? Uma terra de patos (bravos, claro est�) que mais parece um vespeiro, na qual �andam todos � bicada / para chegar ao poleiro��. Um retrato t�o realista que faz rir e d�i ao mesmo tempo, como se estiv�ssemos a ler passagens dos �Maias� e d�ssemos por n�s a reflectir que isto n�o mudou grande coisa. O resto s�o coros e sopros a lembrar uma enorme gaiola cheia de p�ssaros esgrouviados.
10
"Here Before"
DJ Ride
O grande das Caldas regressa dos t�tulos mundiais de scratch (se em 2011 ele e o colega Beatbomber Stereossauro trouxeram o primeiro lugar para Portugal, este ano acabaram de conquistar a prata) com um disco menos arrojado em termos electr�nicos do que o antecessor Psychedelic Sound Waves, mais pr�ximo de registos que tinham o hip hop e o jazz como pontos de partidas referenciais. Nesta m�sica faz uma s�ntese de luxo entre esses dois universos, batidas e efeitos em harmonia com a participa��o de Sarah Linhares, que nos transporta para um espa�o e um tempo que misturam sonho e dan�a. p.s. - men��o especial para outro malh�o deste ano que conta com o talento de Ride no scratch: �Erasmus Girls�, de DJ Renato Alexandre.

Nuno Catarino
1
"Dream baby dream"
Neneh Cherry & The Thing
Com mais de uma d�cada de vida, o trio The Thing - de Mats Gustafsson (saxofones), Ingebrigt H�ker-Flaten (contrabaixo) e Paal Nilssen-Love (bateria) - vem trabalhando uma m�sica improvisada de ra�z jazz�stica, muitas vezes tendo como base o rock. Quando foi anunciado o encontro do trio com a cantora Neneh Cherry (estrela pop dos early 90's, enteada de Don Cherry), fic�mos sem saber o que esperar, com medo que o resultado se aproximasse dos terrenos pantanosos do t�pico �jazz vocal�. Felizmente, o medo n�o se confirmou. O quarteto meteu-se entre material original e temas alheios e o disco abre com uma arrojada revis�o de uma can��o dos Suicide: com o trio a expandir a ess�ncia mel�dica do tema e a voz a explorar a letra como nunca se ouviu. Aten��o, ali pelo meio h� batota, al�m do quarteto surgem sopros adicionais, mas ningu�m se importa com isso. Se a ideia original do encontro era uma homenagem ao trompetista Don Cherry (objectivo conseguido), n�o se ficou por a�; Alan Vega e Martin Rev foram tamb�m homenageados com esta bel�ssima revis�o, que se estica quase at� aos nove minutos de dura��o.
2
"Bad Religion"
Frank Ocean
� hora de ponta, um tr�nsito do cara�as, Frank Ocean entra num taxi e faz do taxista o seu psic�logo. Um �rg�o de igreja d� a entrada solene para uma can��o onde Ocean discorre sobre a infelicidade que � �amar e n�o ser amado� (AKA dor de corno). Produ��o simples, can��o arrastada, em tempo lento, com a entrada das cordas a enfatizar a toada sentimental. Bem, j� todos pass�mos por isto, n�o � verdade?
3
"Flagrante"
Ant�nio Zambujo
Entre o fado e a can��o ligeira inteligente, Zambujo encontrou um espa�o/nicho muito seu. Com uma carreira em crescendo, este �Quinto� confirma-se como pico de popularidade e um dos destaques do �lbum passa pelo apelo desta quase-single �Flagrante�. A partir de uma letra divertida, esta can�oneta irresist�vel descreve o r�d�culo da situa��o de se ser apanhado em pleno acto. Bem, j� todos pass�mos por isto, n�o � verdade?
4
"Something Good"
Alt-J
Existem desde 2007, mas foi apenas este ano, com o lan�amento do �lbum de estreia An Awesome Wave, que ganharam visibilidade (e f�s e pr�mios e etc.). �Something Good� � um caleidosc�pico referencial - batida trepidante, pontual pianada em espiral, uma voz enjoadinha/estranha. Estranhamente, o resultado � viciante - editado pela Infectious Music, esta malha � um v�rus absolutamente infeccioso para os canais auditivos (desculpem, era irresist�vel).
5
"If Not I'll Just Die"
Lambchop
� verdade que os Lambchop nunca precisam de se esfor�ar muito para nos conquistar. Mas neste Mr. M Kurt Wagner volta a usar os trunfos todos e faz um incr�vel disco de can��es aveludadas do princ�pio ao fim. A excel�ncia do disco � espelhada nesta �If not I'll just die�: um t�tulo que arrepia, uma perfei��o dos arranjos, a voz imaculadamente imperfeita de Wagner. Herdeira de um classicismo l�mpido, isto n�o � deste tempo, � uma can��o desde sempre e para sempre.
6
"Medo do medo"
Capicua
�Ouve o que eu te digo, vou-te contar um segredo: � muito lucrativo que o mundo tenha medo.� � assim que arranca um dos grandes temas do disco de estreia da MC portuense Capicua (via Optimus Discos, de borla e legal). Numa altura em que a interven��o social e pol�tica � um dever c�vico, Capicua usa as palavras para transmitir uma mensagem fort�ssima, por cima dos beats certeiros de Ruas. Est� na altura de deixarmos de ter medo.
7
"Become Someone Else's"
Jens Lekman
Um dos mais adorados escritores de can��es vem da Su�cia e h� algum tempo que n�o dava not�cias... Jens Lekman sobreviveu ao H1N1 e volta agora a mostrar um conjunto de magn�ficas can��es indie-choninhas com as letras mais divertidas, ir�nicas e surreais. �Become Someone Else's� apresenta novas personagens numa conversa � volta do amor envoltas em arranjos sofisticados at� que se desagua naquele imenso refr�o repetido �become someone else's�.
8
"Going Home"
Leonard Cohen
Mais um dos grandes que est� de volta e em grande. Neste novo Old Ideas o velho Cohen sussurra aos nossos ouvidos como quem seduz a Janis Joplin num corredor do Chelsea Hotel. A can��o come�a com Cohen a sair para fora da sua personagem: �I love to speak with Leonard, he's a sportsman and a shepherd, he's a lazy bastard living in a suit�. Esta apresenta��o ir�nica basta para sabermos que estamos perante o melhor Cohen, que aqui d� a voz a Deus, que diz ao cantor que deve ir para casa sem m�goas. L� ter� raz�o, j� que depois de todos os discos e de todas estas can��es, j� estar� na altura de descansar. Mais uma grande can��o, dentro de um grande disco, que n�o fica mal ao lado dos cl�ssicos.
9
"Myth"
Beach House
Quando chega um novo disco dos Beach House pensamos sempre �ah, ok, mais um disco...�. Mas assim que se carrega no bot�o do play somos absorvidos para dentro de um universo especial qualquer e ficamos l� suspensos, completamente vidrados por aquela ambi�ncia po�tica juvenil, de onde n�o conseguimos sair at� que o disco acabe. � um fen�meno inexplic�vel, que deve ter a ver com as guitarras espaciais, ou os teclados sonhadores, ou o charme burg�s de Victoria Legrand ou...
10
"The Coast No Man Can Tell"
Bill Fay
O songwriter regressado ao activo, com o apoio de Jeff Tweedy e amigos, tem neste tema um final perfeito para encerrar o �lbum, depois do grandioso �Cosmic Concerto (Life is people)�: �it's time to leave, to say goodbye�. O piano � a base simples sobre a qual a voz gasta de Fay alimenta esta pequena can��o, de emo��o - at� a respira��o faz arrepiar. Despedida perfeita, pois claro.

Nuno Leal
1
"Cosmo Concerto (Life is People)"
Bill Fay
Os regressos s�o sempre dif�ceis. Mas o belo est� nisso, no regressar e constatar o que mudou, o que passou, em rever e se ainda der tempo, refazer, recome�ar. Bill Fay deve saber disso tudo bem mais do que n�s, j� est� entradote como se diz, e longe v�o os tempos em que deixou uns gr�os de areia no oceano da m�sica, gr�os esses que deram praias formid�veis a quem as procurou. Bill confessou algures que foi o pai que o inspirou, porque sempre lhe dizia, era ele um mi�do, que a vida s�o pessoas. E canta isso de uma maneira que faz um eremita sair a correr para a cidade e abra�ar a multid�o.
2
"Hatch The Plan"
Andy Stott
Dois minutos iniciais de t�nel industrial at� chegar a voz da professora de m�sica de Manchester (o pr�prio Stott o confessou), reciclada aqui como anjo n�o de Charlie, mas de Andy, e apesar deste DJ cada vez mais um m�sico contempor�neo berlinense de esp�rito, apesar de ser da cidade dos Joy Division, New Order, Smiths e Stone Roses e 808 State, onde nunca faltou cinzento, f�bricas, nem pop nem eletr�nica, mas os discos de Andy s�o ich bin ein berliner como este tema: fazem mesmo lembrar a entrada da m�tica discoteca Berghain, a.k.a Panorama, o efeito do tal t�nel de som que l� � uma escadaria, at� ao c�u do minimal, a pista central onde o techno � assim, sujo, industrial, ventoso, sensual mas com tara por m�quinas.
3
"Walk Like A Giant"
Neil Young with Crazy Horse
Poucos poderiam cantar isto como Neil Young, 16 minutos de Grateful Alive com a sua banda de sempre a acompanhar o seu passo de GIGANTE, porque o �, dos maiores de sempre da hist�ria do rock, sendo Neil um dos poucos, quase nenhuns, que � medida que envelhece, permanece, absolutamente inc�lume, como se hoje ainda fosse ontem. Ironia justiceira do destino, o sobrenome de Neil Percival at� � Young, e bem poderia ser Younger Than Yesterday de seu nome completo, como diziam os The Byrds. E no fim falo-vos do fim deste �pico: p�ra tudo e fica a distor��o a falar com o sil�ncio durante minutos. GIGANTE.
4
"Balada dos que j� nascem mortos"
Tropa Macaca
Lado B de um disco que o tempo dir� como absolutamente essencial na hist�ria da m�sica portuguesa, um colosso de ru�do manipulado que os levou por esse mundo fora numa onda de boas cr�ticas, isto apesar do mon�logo portugu�s que nos leva a brincar com o est�reo questionando outras coisas, automaticamente a caminho para paragens psicoabs�nticas, se � que existe esse adjetivo. Se n�o h�, n�o importa, o que interessa � que como dizem os mais s�niores, os jovens de hoje deviam � ir � tropa. Sublinho, sim, v�o � Tropa. Macaca. Experimentem.
5
"Never Leave"
XXYYXX
Tem 17 anos. Tem 17 anos. Tem 17 anos. Tem 17 anos. � imposs�vel ouvir esta faixa do seu disco hom�nimo misteriosamente com o s�mbolo dos Illuminati na capa e n�o pensar na idade de Marcel Everett, tal � a mestria com que domina, baralha e d� cartas numa sucess�o de portentosos temas a la 2012, ou seja, apenas dispon�veis em mp3, nada de f�sico, apenas uma imensa qu�mica imediata que o leva a ter milhares de downloads pagos no bandcamp e milh�es de views no youtube apesar de ter apenas um video oficial e todas as outras can��es surgirem no youtube ilustradas por fotos de mulheres t�o apetec�veis como este p�s-dubstep, cold-soul-chillwave, whateverdelic intensamente viciante.
6
"Epizootics!"
Scott Walker
Poucos conhecem t�o bem outro lado espelho como o espantoso Scott Walker. Nele tudo evoluiu de uma forma invulgar e provavelmente sem paralelo. A sua m�sica outrora entre a pop perfeita e a obsess�o por Brel, entrou num vaudeville David Lynchiano de emo��es e experi�ncias que aos poucos descolou como nave espacial num universo pr�prio, �nico e inquestionavelmente surpreendente. Epizootics! � uma esp�cie de ponta deste icebergue, amostra de um disco maior, parte de uma obra imensa.
7
"Dance for You"
Dirty Projectors
Vem de um disco que merece palmas do princ�pio ao fim, come�a com palmas como outra can��o g�mea que podia ser a que vos falo - Just from Chevron - a escolha foi dif�cil, obriga ao castigo de as ouvir dezenas e dezenas de vezes at� decidir, oh castigo doce, e palmas para Dance for You. A forma como brinca com a melodia, a intera��o entre palmas, voz, guitarras e cordas assumem a condi��o de can��o pop perfeita que num mundo perfeito deveria dar em todas as r�dios de manh�zinha, ecoando There is an answer, but I haven�t found it, but I will keep dancing till I do uh uh uh dance for you pela porra da vida fora.
8
"Oblivion"
Grimes
De Vancouver para Montreal e da� para o mundo com Halfaxa e agora da� para o universo com Visions , na editora mais que certa, 4AD, esta mi�da algures entre a vocalista dos Cranes a cantar algo ssopinha de masssa nos Cocteau Twins vers�o Seefeel remix, d�-lhe mas d�-lhe - passe a express�o - � empiricamente contagiante e n�o h� rem�dio que nos cure.
9
"N.E.W."
Actress
Acreditem ou n�o se o falecido Neil Armstrong esteve l�, na verdade isso n�o interessa. O que importa � saber e reconhecer como e quando Richard D. James chegou l�, esteve l�. Onde? Ao outro lado, de onde j� n�o se v� a Terra azul. Se calhar foi o primeiro a chegar l�. Este �N.E.W.� � o vaiv�m espacial que levou a bordo Actress at� �s pisadas do g�meo Aphex. Eletr�nica quase sem toque humano, a beleza fria s� poss�vel com temperaturas extraterrenas, a can��o de embalar do marciano turista.
10
"Better"
Teen
Grupo da a caminho de ser m�tica Carpark, editora que lan�ou por exemplo os Beach House, lan�aram um disco interessante mas que n�o est� � altura deste single que tem a varinha de cond�o que emprega magia a umas notas simples e um refr�o igualmente simples, mas que num ano como 2012 entra como faca na manteiga fora do frigor�fico: I�ll do it better, better than anybody else ah! merece ser hino de uma claque, no m�nimo. Obrigado mi�das, vou tentar seguir o conselho.

Paulo Cec�lio
1
"Akon"
Pega Monstro
Sim, quem mais sen�o a juventude, a �nica fatia da popula��o mundial que leva as emo��es - ou seja, aquilo que nos distingue dos animais - aos p�los tal qual um baloi�o vai e vem para nos relembrar o que � importante? Que as Pega Monstro s�o do que mais vital se fez nos �ltimos anos n�o haja d�vidas. Que continuar�o a trilhar um caminho de sucesso por entre as sombras e o lixo do �dio est�pido e sem sentido (gajos do nunca ouvi mas odeio Pega Monstro, estou a olhar para voc�s) haver�o menos. Que "Akon" � a puta da melhor can��o do �lbum de estreia das manas lisboetas, mesmo com a forte concorr�ncia das gajas que gostam de levar na boca e da valente escarra na cara das m�s-l�nguas que � "Suggah" (deixem-me, deixem-me confessar, eu sorrio que nem um ni�o de cada vez que ou�o a Maria cantar este refr�o), nunca existiram d�vidas sequer. O agradecimento � todo meu por terem-na tocado das duas vezes que a pedi, juntamente com malta que sabe tanto daquilo que � gostar de Pega quanto eu (ol�, Ricardo Santos!). O agradecimento � todo meu por poder ouvir esta guitarra, esta maravilhosa guitarra cyan, sempre que posso. O agradecimento � meu por poder gritar a plenos pulm�es EU J� N�O QUERO IR MAIS � ESCOLA � SEMPRE A MESMA MERDA sem me sentir o tolo que sou. O agradecimento � meu mas � igualmente de tantos outros que n�o pensavam ser poss�vel encontrar algo t�o grandioso em tempos de cinismo. Tal como a malha: uma puta de v�nia �s Pega Monstro, se faz favor.
2
"Ay Shawty: THE SHREKONING!!!! (feat. Dankte)"
Kitty Pryde
Lembram-se daquele par�grafo sobre os mi�dos a fazer m�sica que j� come�am a irritar severamente? Pois, equivoquei-me. Ainda existe a Kitty Pryde, esse h�brido de Powerpuff Girl, geek do ciberespa�o e ruiva petrarquista, que apareceu assim do quase nada (como aparecem todos aqueles que come�am pela Internet) para brincar ao rap como se fosse gente grande. O que se destaca em "Ay Shawty" � sobretudo este beat escandalosamente belo e estranhamente drogado, uma nuvem de poeira que se instala no cora��o - n�o na cabe�a - e um sussurro rom�ntico que s� uma mi�da desta idade consegue ter - � medida que se cresce o amor parece que deixa de fazer sentido. Ah, quem mais sen�o a juventude para nos relembrar aquilo que � realmente importante? Meu Deus, sinto-me velho.
3
"A"
Black Bombaim
N�o h� palavras para descrever esta can��o. Apenas o riff, o sentimento c�smico oriundo desta guitarra como se Barcelos fosse o centro espiritual do globo terrestre e de planetas por imaginar, e a voz do �nico senhor capaz de arrebatar o trof�u "melhor vocalista portugu�s de sempre". Tit�nico. Simplesmente tit�nico.
4
"Start"
C(u)ore & Colours
Todas as listas precisam da certa credibilidade indie que lhes confira um estatuto especial; no caso desta, essa credibilidade n�o provir� tanto dos BnP como dos C(u)ore & Colours, duo de Lamego que anda h� dez meses para responder a uma entrevista - esperemos que de demasiado ocupados a compor mais malhas como esta. "Start" parte de um sample dos enormes Can para criar uma can��o demasiado bonita para existir apenas num EP. Tem de andar pela r�dio, pelas bocas num assobio, por cadernos escrita por Bics adolescentes. N�o pode ficar confinada �quele "disco porreiro que se ouviu um par de vezes". Tem de ir pelo mundo, come�ar um novo mundo. Tem de ficar em quarto lugar, infelizmente - mas se serve de consolo andou pelo primeiro durante bastante tempo. A malta de Lamego que comece j� a pensar em novas aventuras ou iremos ficar muito chateados.
5
"Ashtray Wasp"
Burial
Com Kindred Burial voltou a reinventar-se - o que � uma excelente not�cia e um ponto contra quem acusa a "cena actual", seja l� o que isso for, de j� n�o conter em si qualquer tipo de originalidade. Isto, sim, cyberpunk na acep��o liter�ria da palavra, evocativo de futuros dist�picos onde o ser humano e a m�quina encontraram uma forma de procriar - e uma verdadeira sinfonia dubstep vinda de um dos melhores produtores dos �ltimos anos. Merece ser sobretudo escutada em vinil, por causa dos graves. Ou num comboio perdido rumo ao apartamento chato de sub�rbio. Ou seja como for; n�o perder doze minutos a apreciar esta p�rola � n�o gostar de m�sica.
6
"Bodies In The Dunes"
Pop. 1280
Se a can��o dos BnP nos faz querer gritar que queremos matar pessoas, "Bodies In The Dunes" amea�a levar-nos ao acto. Rock de ponta e mola, escandalosamente assassino e experimental ao estilo Sacred Bones. Eles chamam-lhe cyberpunk, eu prefiro pensar que � uma maneira de acabar na pris�o por tempo indeterminado, ap�s sermos encontrados de faca na m�o junto a um corpo nu e sangrento pendurado num v�o de escada. Ainda que o restante de The Horror, tirando um ou outro momento, n�o tenha aquecido nem arrefecido a l�mina. Patrick Bateman � capaz de gostar disto.
7
"The Apostate"
Swans
Swans � Swans. Vivos ou mortos. Industriais ou de abordagem mais tranquila. Com discos de quarenta minutos ou duas horas. The Seer, apesar da sua ambi��o - da sua salutar ambi��o - ficou uns furos abaixo daquilo que havia sido o regresso da banda em 2010, mas de um longo disco retira-se uma enorme faixa: aquela inspirada pelo dem�nio interior de Lady Gaga, aquela que o encerra em modo p�s-rock-fim-do-mundo, esse mesmo que a� vem, e se for esta a banda-sonora que venha ent�o rapidamente, morramos mas morramos com os olhos no c�u a fitar a corda que de l� desce. GET OUT! GET OUT! GET OUT! Caro Michael Gira, Ben Frost � que o disse melhor. N�s amamos-te.
8
"The Fever (Aye Aye)"
Death Grips
Punk ou rap, n�o faz diferen�a - at� porque quando os Clash lan�aram a magn�fica (eh) "The Magnificent Seven" ningu�m se preocupou em rotul�-la num g�nero espec�fico. Entre mixtapes que correram meio mundo indie e confus�es com editoras mainstream os Death Grips lan�aram The Money Store, um disco "a s�rio" ap�s a primeira experi�ncia com Exmilitary, no qual se contava esta "The Fever"; ritmo louco, cuspidela atr�s de cuspidela, e um dos melhores ganchos que se ouviram em 2012. Ter� existido muito pouca gente imune e percebe-se o porqu�.
9
"Cleanliness"
BnP
Do outro lado do mundo existe o punk. Niilista, agressivo q.b., e, ao mesmo tempo, fantasticamente slacker na sua execu��o: s�o os BnP, ora pois, banda Neo-Zelandesa que poucos ouviram, tal como em '77 ningu�m ouvia as bandas de garagem que interessavam e que esquecidas est�o agora pelo tempo. "Cleanliness", minuto e meio de rosnado, primeira faixa do EP de estreia, e dona de um verso que apetece gritar oh-tantas-vezes: I just gotta kill some people!. Se � isto a mediocridade - e se somos todos med�ocres, que o somos - abracemo-la sem receios.
10
"About You"
XXYYXX
Tal como in�meros outros g�neros provenientes do mundo indie, a electr�nica de semblante carregado e sorvedora do r&b e do dubstep atingiu rapidamente um ponto sem retorno de satura��o - o que mais se ouve e o que mais se nota fazer mover a m�quina do hype � o n�mero infind�vel de projectos sa�dos da penumbra de um quarto de apartamento para a Internet, e, quanto mais novos os seus intervenientes e qu�o mais h�beis no manejar do Fruity Loops, melhor. XXYYXX, para mal dos nossos pecados, � isto tudo - bastava ter estado num Lounge a abarrotar de crian�ada sedenta de sangue, numa certa noite de Setembro de 2012, para o compreender. No entanto, pese a banalidade que foi a sua apresenta��o, h� que dar o ouvido a torcer: "About You" � l�nguida, sensual, e tristemente amarga, tal como o r&b, parece-me, deve ser. De tal forma que merece entrar aqui � frente dos novos mestres nesse campo. Desculpa, Miguel.

Pedro Rios
1
"EFX"
Teengirl Fantasy
Uma desconhecida Kekela ajuda a fazer de �EFX� o melhor momento de Tracer e uma can��o que sintetiza muitas ideias contempor�neas (Laurel Halo, Fatima Al Qadiri, Ferraro). � um exerc�cio R&B futurista com um maravilhoso refr�o e um instrumental cheio de ideias. Maravilhoso jogo entre vozes sintetizadas e teclados, rumo ao futuro.
2
"Dean Blunt"
The Narcissist ft. Inga Copeland
P�s-dubstep devia ser isto, balan�o narc�tico quase descarnado de ritmo, fumo, fumo, fumo, uma voz fr�gil (a de Inga, companheira de Dean nos Hype Williams) e outra negra, profunda (a de Dean). Mas isto n�o � p�s-dubstep: � mais uma pe�a no universo fascinante e que recusa r�tulos de Dean Blunt e Inga Copeland.
3
"Como Calha"
B Fachada
Levados pelo sintetizador que glorifica o piroso e pela batida de �rg�o de feira, gingamos com cada palavra cantada por B Fachada, que em Cri�lo tem mais um portento.
4
"Carlos T"
B Fachada
N�o resistimos � dobradinha fachadesca. Cantiga de g�nio: pianinho insistente, sintetizadores a entrar de rompante como nos oitentas, Bernardo numa das suas melhores letras (�assentar at� talvez casar/aquecer na cama o teu lugar/� espera de te ver chegar�).
5
"Nothing That Has Happened So Far Has Been Anything We Could Control"
Tame Impala
Escolho esta, mas � quase pim-pam-pum: Lonerism � rico em can��es do ano. Espantoso monumento de sintetizadores dolentes, uma cantoria digna do cancioneiro dourado dos anos 60. O melhor argumento a favor do rockism em muito tempo (ou n�o ser� antes �Elephant�? Ou �Feels Like We Only Go Backwards�?).
6
"House"
Kindness
Ah, dan�ar juntinho; ah, melancolia na pista� Batida seca, teclados suaves, sugest�es de m�sica de dan�a que n�o se concretizam e um refr�o lind�ssimo (�I can't give you all that you need / but I'll give you all I can feel�).
7
"Only In My Dreams"
Ariel Pink
Mature Themes n�o nos convenceu por inteiro, mas guarda suficientes m�ritos para fazer roer de inveja qualquer tipo que se decida a fazer can��es pop. �Only In My Dreams� � particularmente incr�vel: guitarras em filigrana ao jeito dos Byrds, Ariel impec�vel na cantoria, incr�vel jogo de vozes que demonstra conhecimento elevado do artif�cio pop. A arte da cantiga.
8
"Work"
The 2 Bears
Um disco sobre discos. Em ano de Hot Chip, o outro projecto de Joe Goddard passou relativamente despercebido. N�o devia, sobretudo por culpa de uma m�o cheia de can��es. �Work� � previs�vel na forma como se apropria das f�rmulas house-pop, mas � contagiante e confiante como poucas can��es s�o em 2012. Totalmente n�o ir�nica, grande carta de amor � pista.
9
"Flutes"
Hot Chip
Sinto que n�o prestei demasiada aten��o ao �lbum dos Hot Chip, mas 2013 tamb�m � ano. Cantiga incr�vel que volta a ligar pop � m�sica da dan�a como ningu�m est� a fazer (batota: �Night and Day�, do mesmo disco, tamb�m devia estar aqui s� por causa do seu refr�o).
10
"Akon"
Pega Monstro
O �lbum das Pega � tudo aquilo que o rock portugu�s precisava � se bem que, se lhe dissermos isso, elas s�o capazes de se rir na nossa cara (e bem: o rock n�o precisa de nada, o rock quer-se tocado, ressuscitado de cada vez que um puto percebe que uma guitarra � um portal para o perigo). Mas �Akon� � particularmente incr�vel (e sabemos que j� usamos esta formula��o neste texto) quando Maria liga o fuzz e nos estarrece e estremece.

Rodrigo Nogueira
1
"Sorry"
T.I. feat. Andre 3000
� medida que uma pessoa cresce � e ter� havido no mundo algu�m que tenha crescido realmente? � percebe quando errou � e, convenhamos, estamos todos errados 99,9% do tempo � e tenta pedir desculpa ou emendar as coisas. Mas isso � �bvio. O importante, aqui, � que isto � o Andre 3000 em excelente forma (e o T.I. possibilita isso com a parte dele, claro, nunca o menosprezemos), numa presta��o que ainda vamos estar a analisar daqui a uns anos.
2
"Chum"
Earl Sweatshirt
� tipo a biografia, a vida toda do Earl resumida numa can��o tocante, mais tocante do que seria de esperar de algo sa�do da malta de Odd Future. N�o que a sinceridade seja o indicador supremo para julgar m�sica, mas acho que prefiro estar a ouvir sobre a vida dele do que os colegas a falarem sobre violar raparigas.
3
"Swimming Pools (Drank)"
Kendrick Lamar
Crescer num mundo, rodeado de uma cultura pouco ou nada saud�vel, mas n�o fazer parte dela? Observ�-la � dist�ncia, envolvendo-se aqui e ali com ela, mas sempre de longe? S�o cenas que me dizem mesmo muito, e esta � capaz de ser a melhor can��o do good kid, m.A.A.d city para incluir numa lista delas, mesmo que n�o seja a melhor.
4
"Losing You"
Solange
Tal como pessoas de quem gostas se metem em coisas horr�veis (Jay-Z, estou a olhar para ti e para o teu disco com os Linkin Park, al�m de 40% do que gravaste na vida), gente de quem n�o gostas pode fazer algo que te diga muito. � algo que tens de aprender ao longo da vida. Se tentasse muito, n�o me lembraria de uma can��o de Test Icycles ou de Lightspeed Champion, os dois projectos anteriores do Dev Hynes, s� me lembro de que odiei o que ouvi, mas lembro-me disto. Mesmo n�o sendo perfeita � e isso h�-de ser mais culpa dele que da Solange �, � �ptima.
5
"Everything is Embarrassing"
Sky Ferreira
Esta e a anterior t�m muito em comum, ou n�o tivesse o dedo do Dev Hynes (cuja voz tamb�m aparece no refr�o, ou pelo menos ache que sim). O que me ensinou � estou a brincar, j� tinha aprendido h� uns tempos � que n�o podemos riscar pessoas para sempre. Um dia o Seth MacFarlane poder� fazer algo de jeito (estou a brincar, isso nunca vai acontecer).
6
"The Don"
Nas
H� uma s�rie de an�ncios da GAP em que o Nas aparece abra�ado ao Olu Dara, o pai dele. S�o os melhores, a s�rio. Isso n�o tem nada a ver com a "The Don", mas apeteceu-me mencion�-los. que, apesar de n�o trazer nada de particularmente ao novo, � um daqueles hinos nova-iorquinos incr�veis, em especial para um gajo que nunca saiu da Europa.
7
"This Summer"
Superchunk
Malha essencial que aparece em duas das compila��es que andam em rota��o constante no carro da minha namorada, banda sonora para viagens � praia e a Barcelos. E o Jon Wurster, baterista deles, continua a ser a melhor pessoa de sempre. 'nough said.
8
"Ecce Homo"
Titus Andronicus
N�o h� nada que eu possa dizer sobre isto que se compare ao que o Patrick Stickles diz no in�cio desta cantiga: "OK, by now I think we've established everything is inherently worthless and there's nothing in the universe with any kind of objective purpose." Cabe-nos a n�s, portanto, criar e encontrar esse valor. Acho eu.
9
"The Boys"
Nicki Minaj feat. Cassie
Melhor v�deo de sempre? Uma orgia de cor e luz e magia e um ambiente cartoonesco? Um festival disso tudo? A melhor m�quina donde tirar GIFs animados do mundo? � isso que � "The Boys", e a can��o, sacarina at� ao tutano, mas com espa�o para a persona Nicki Minaj roubada ao melhor do Busta Rhymes, tamb�m rende muito.
10
"Fuckin' Problems"
A$AP Rocky feat. Drake, 2 Chainz & Kendrick Lamar
Aquilo que eu disse sobre pessoas de quem n�o gostamos minimamente fazerem algo decente? � outra vez verdade, neste caso para o Noah "40" Shebib. Podemos finalmente admitir que n�o � s� o facto de o Drake ter uma das vozes mais irritantes de sempre que faz com que a m�sica dele seja m�? E que o 40 n�o �, tirando excep��es como esta, grande fazedor de instrumentais? Felizmente h� excep��es � regra.

Tiago Dias
1
"$4 Vic / FTL (Me and You)"
El-P
Sempre fui perme�vel a um certo hip-hop norte-americano que ter� tido um pico aquando da explos�o da Anticon. �Cancer for Cure� de El-P � um dos �lbuns do ano e a can��o que o encerra um �pico para l� dos oito minutos que � a cereja no topo do bolo. �There are ghosts here, There's a presence there's a power, For the tightrope over tank with the piranhas, For the frazzled it's a moment it's a promise, To be broke down to be lowdown to be honest�. H� algo de religioso nisto. Algo de justi�a b�blica do Novo Testamento. �I've always had the cancer for the cure. That's what the fuck I am�.
2
"To Carry the Flame"
Old Man Gloom
No estar� a par de qualquer outro �lbum que possa ser dos meus registos favoritos do ano. Confesso-me pouco impressionado pelos trabalhos anteriores da �nica superbanda a quem reconhe�o m�rito. No ser� a despedida perfeita da Hydrahead, que este ano anunciou que tinha falido. � como as cr�ticas a um vinho de qualidade: denso, complexo, expansivo no nariz, mas s� mostra verdadeiramente o que vale na boca.
3
"Mladic"
Godspeed You ! Black Emperor
Durante anos andei a ouvir a maldita �Albanian� sem saber bem definir os meus sentimentos para com ela. Toda essa confus�o se desfez quando a ouvir integrada e redesignada por �Mladic� no novo de Godspeed. Aquele excerto paraquedista parece mais �rabe do que balc�nico, mas, ainda assim, foi a melhor forma de acolher o regresso dos GY!BE.
4
"Cherokee (Nicolas Jaar Remix)"
Cat Power
O �lbum ouve-se, mas esta vers�o do grande Nicholas Jaar � que vale realmente a pena. � a can��o de amor do ano, com os desequil�brios de Cat Power compensados pela electr�nica do norte-americano. N�o tenho muito a escrever sobre a m�sica. � estranhamente surpreendente.
5
"Sun on Earth"
Dodsengel
Por falar em black metal, a melhor can��o do ano vem de uma dupla habituada a grandes feitos. Norugueses comme il faut, h� muito que produzem das coisas mais interessantes do meio e s�o, naturalmente, rec�nditos. O �lbum de onde �Sun on Earth� sai � um duplo (!), ligeiramente conceptual, e esta malha tem a curiosidade de ter a dura��o de um single. Em repeti��o durante semanas c� por casa.
6
"I Fade Away"
Downfall of Gaia
No ano passado a honra do �lbum mais raivoso do ano coube aos italianos The Secret. Apesar de terem tentado repetir a proeza com um esfor�o abaixo do n�vel de Solve et Coagula, em 2012 o t�tulo vai para uns alem�es de nome Downfall of Gaia. Ao come�o ainda pensei que eram rapazolas de emos e coisas afins. A f�rmula que mistura algo mel�dico que cheira a emo com black metal continua a render (saudades dos espanh�is Ekkaia) e continua a ser das melhores bandas sonoras para anos miser�veis como 2012.
7
" Be Above It"
Tame Impala
Podia escolher muitas outras de Lonerism, mas n�o h� can��o que me fa�a querer voltar a ela como a abertura. N�o me importa que seja apenas uma introdu��o. N�o quero saber. � l� que ou�o as vozes mais beatlescas do �lbum, � l� que mais me apetece dan�ar, � l� a prepara��o para tudo o resto. �Elephant� pode ser a �Seven Nation Army� de Tame Impala, mas esta � a minha p�rola pessoal.
8
"Yet Again"
Grizzly Bear
Escrever sobre �Yet Again� em Dezembro j� implica algum desgaste, mas a escolha da can��o, depois de algum tempo em escuta, mostra a resist�ncia e a sua for�a. Um crescimento de Grizzly Bear, uma mudan�a da banda que fez a banda sonora de Blue Valentine para uma vida diferente ap�s a rutura.
9
"Nations / Never Enough"
Gallows
O empurr�o do ano na saudade de um bom mosh. Aquela voz rasgada, um arranque s�lido, mas que inspira d�vida, seguido da transi��o que assegura que tudo vai correr bem. Depois l� vem o t�o esperado riff, aquele momento em que os empurr�es se suspendem e o movimento fica mais lento, os tr�s minutos que parecem parados e quando chega o sil�ncio questionamos para onde foi o resto?
10
"Avatar"
Swans
� incr�vel. Como s�o muitas outras de The Seer. Venham mais, que pelo que se ouviu das in�ditas, v�o ser t�o boas ou melhores. Swans em crescendo. J� estou farto de vos moer os olhos e os ouvidos com Swans.

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