Como sair do “casuloâ€
· 14 Abr 2003 · 08:00 ·
Muito se tem falado da qualidade da música portuguesa e, em particular, das novas bandas. Critica-se o IVA, a falta de salas, de espaço de antena nas rádios, da pouca atenção dos media especializados e muitas outras coisas. Mas nunca, ou raramente, se criticam os próprios músicos e o seu papel em todo o processo de maturidade e expansão das novas sonoridades lusitanas.

Nós podemos dividir todo o universo musical em três partes. A dos que fazem a música, a dos que a promovem (e aqui podemos incluir as editoras, gestores de carreiras, agências de espectáculos, jornalistas, etc.) e, finalmente, a dos que a consomem. Cada uma destas partes é constituída por várias fases e todos os seus intervenientes têm um papel a desempenhar.

E como é no meio que dizem estar a virtude, é por lá que vamos começar. Todos os intervenientes que se incluem nesta “parte†são os responsáveis pela ponte entre o criador e o consumidor. O seu papel é conhecer e dar a conhecer. Sem a sua participação e as bandas dificilmente sairiam das salas de ensaio, a não ser que fizessem tudo pelos seus próprios meios, como é o caso de muitas. Os The Gift e os Zöe são algumas excepções à regra. A realidade é que a maioria das bandas necessita de atingir um fim com a ajuda de terceiros que, e no meu ver, têm um papel fundamental em todo o processo musical. Há quem o faça bem e mal. Mas sobre isto já se gastou muita saliva e muita tinta. Não há nada de novo a acrescentar.

Quanto à parte que dá sustento a toda a indústria musical, ou seja, o consumidor, é a ele que cabe a última palavra. Tudo se rege pelos seus gostos. E, nesse sentido, tem todo o direito de exigir qualidade. É neste aspecto que as bandas se devem centrar. Não basta criar tendo por base um suposto talento. É preciso faze-lo com qualidade. E o objectivo é atingir um determinado segmento de mercado ou, como sucede em muitos casos, vários ao mesmo tempo. Daí os constantes rótulos musicais e definições de estilos. Porém, e para que este processo funcione, e salvo as excepções mencionadas anteriormente, as bandas têm que saber usar a parte do “meio†da melhor forma.

Mas será que todas as bandas o sabem fazer? Não. Uns por acharem que têm que ser descobertos e não dar-se a descobrir. Outros por desleixo. Alguns por não terem tempo para pensar. E muitos porque ninguém lhes liga, talvez por não terem sido talhados para a música. Quanto a estes não há nada a fazer.

A mim interessa-me falar dos três primeiros e em relação aos jornalistas. Quando uma banda edita um disco deve promove-lo, isto se quer que ele chegue às pessoas. “Olhe, nós temos um disco. Não quer escrever sobre ele?â€. Talvez, mas primeiro é preciso que eles cheguem às nossas mãos. Pior ainda são aqueles que têm as oportunidades e não as sabem aproveitar. “Eu envio-lhe o cd amanhãâ€. Chega um mês depois, se chegar. “Mandem-me um e-mail e depois acertamos as coisasâ€. Nunca mais ouvimos falar deles. E muitas mais situações que por vezes nos deixam atónitos.

Este tipo de ocorrências são frequentes. Mas felizmente a grande maioria não é assim. No entanto, e como muitos dos músicos andam distraídos ou vivem num “casulo†musical intocável, ou seja, aquilo que fazem é genial e acaba por ser descoberto (quase como que por obra do “espírito santoâ€), deixo aqui alguns passos importantes para uma boa gestão de carreira:

1. Gostar de Música – É fundamental para quem quer ter uma banda. Óbvio...
2. Encontrar pessoas onde haja empatia musical. Não é necessário que tenham os mesmos gostos, mas sim que a vejam da mesma forma.
3. Definir o que se quer fazer e encontrar uma sonoridade.
4. Ensaiar até à exaustão.
5. Tocar ao vivo. Só assim se consegue saber como soa aquilo que se anda a fazer. E sempre se sente a reacção da audiência (os amigos não contam).
6. Gravar maqueta.
7. Pedir comentários aos entendidos (os amigos são sempre simpáticos).
8. Encarar as críticas como um apontar dos erros a corrigir.
9. Tocar em concursos.
10. Gravar uma maqueta em formato pré-single.
11. Preparar um texto de apresentação resumido. Coisas longas quase ninguém lê. E nunca, mas nunca colocar referências. A isto chama-se auto-rotulação.
12. Esperar pelas reacções. Se forem positivas enviar o mesmo material para as editoras (portuguesas ou estrangeiras) mas com cópias dos artigos publicados nos media. Se forem negativas procurar melhorar e preparar nova ofensiva, mas a médio e longo prazo.
13. Se nunca houver resposta (em ambas as situações), não desistir.
Jorge Baldaia

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