Record Store Day
· 19 Abr 2012 · 23:50 ·
Chifre

Nascida em 2010, só foi lançada oficialmente no ano passado. Tempo mais do que suficiente para esta editora portuguesa começar a ganhar o seu espaço, pelo catálogo (que inclui as estreias a solo de Diego Armés e David Pires ou lançamentos de bandas como Capitão Fausto e TV Rural), pela filosofia de gestão muito própria e pelo cuidado que imprime nas edições e nos objectos de merchandise que comercializa. Fomos conversar com Vanda Noronha, que é – entre outras coisas – a responsável por toda a parte visual da Chifre e a identidade secreta da Amiga Chifre, que podem encontrar pelo Facebook.
A Chifre completa dois anos nesta Primavera. Podes fazer um balanço desta curta mas já recheada existência?
Como conceito, e como nome, estamos quase a fazer dois anos, mas como só tivemos o nosso lançamento oficial em Julho de 2011, a nossa existência é na realidade ainda mais curta! Honestamente, a nosso ver, tem corrido muito, muito bem. Ainda não temos grandes lucros mas também não temos dívidas, e desde o início que cumprimos os nossos principais objectivos: ser auto-financiáveis, só editar coisas incríveis, pagar justamente aos nossos artistas e provar que tudo isto é possível.
Um dos aspectos em que a Chifre se distingue é o cuidado que mostra na vertente visual, como a apresentação dos discos, a qualidade do merchandise ou mesmo no site oficial. Num tempo marcado pela desmaterialização e pirataria, esta poderá ser uma solução para as editoras marcarem a diferença e se manterem à tona?
É por aí. Primeiro, para nós pirataria é vender CDs e cassetes piratas na feira e coisas assim (ou seja, lucrar injustamente com o trabalho e talento dos outros), não é sacar música da net. Nunca nos passaria pela cabeça ir atrás de pessoas que partilham a música dos nossos artistas através da internet. O que nós queremos é que a música que editamos chegue ao máximo de pessoas possível, porque são essas pessoas que se tornam fãs, e a mostram a mais amigos, e vão a concertos, e às vezes, já com o álbum no Ipod, compram o CD na mesma quando passam pela banca. Distribuição digital à parte (que também temos), sempre quisemos criar edições físicas especiais que apeteça comprar, e merchandise que apetece ter e que valha por si própria, mesmo que nunca se tenha ouvido falar da banda. Não só temos muito cuidado com a vertente visual, como acreditamos que não é preciso, de todo, gastar rios de dinheiro a criar coisas originais e de qualidade. Nada do que vendemos é feito em fábrica - as capas dos CDs são feitas numa gráfica com um cortante próprio que desenhámos, os CDs são gravados e verificados por nós um a um, é tudo empacotado por nós, e a merchandise é toda feita à mão. Somos grandes defensores do DIY, mas bem feito. DIY não é igual a fazer as coisas à balda. Dá muito, muito trabalho, mas no fim fica tudo exactamente como queremos - e nem temos sequer fama de editora DIY porque ninguém dá por isso quando compra o CD.
Fala-me um pouco da forma como a Chifre distribui os lucros, entre si, os artistas e o fundo Chifre. Parece-me um “modelo de negócios” bastante interessante.
Isto remete também para a resposta anterior - passámos imenso tempo à procura de uma solução para as nossas edições que fosse única e de boa qualidade mas ao mesmo tempo o menos dispendiosa possível. Como assumimos quase o trabalho todo da produção física dos nossos CDs, o custo financeiro dos mesmos é bastante baixo. Isso, aliado ao facto que nos comprometermos a não lucrar mais com a arte do que quem a cria, leva ao nosso modelo de negócio - 50% dos lucros dos CDs e merchandise vai directamente para o artista. Dos outros 50%, metade vai para nós, metade para um fundo Chifre, que é utilizado para re-edições e outros custos necessários. Como também tratamos da distribuição, da promoção e do agenciamento, fica mais dinheiro em casa para distribuir entre toda a gente, já que não estamos a pagar a alguém para fazer isso separadamente. É uma trabalheira, mas é para nós a única maneira de trabalhar que faz sentido. Ah, e as masters pertencem aos artistas, também.
A Chifre não se limita a editar discos. Dedica-se também aos livros, filmes e design. O que têm feito nestes campos?
Por enquanto, ainda nada. Como fazemos questão de nos auto-financiar, ainda não tivemos liquidez para expandir a editora nesses campos. No entanto, filmes (curtas e documentários) e design são possibilidades a curto-médio prazo. Livros são mais complicados!
Podes revelar alguns dos projectos que a Chifre tem para este ano? É verdade que existem planos de expansão para o Brasil?
A nossa próxima edição será A Balada do Coiote, dos TV Rural que, já agora, está incrível. Sai a 12 de Maio. Temos mais umas quantas coisas na calha - há bandas que ainda temos de ver ao vivo para decidir, e há músicos que têm de se despachar e entrar mas é em estúdio! Quanto ao Brasil, é um mercado que faz sentido considerar quando (até agora) só temos bandas que cantam em português. Não há planos para abrir uma sucursal nem nada do género, mas andamos a recolher informação de como será a maneira mais lógica de tentar exportar a música que editamos.
Qual é a tua opinião sobre iniciativas como as do Record Store Day? Este ano a Chifre associa-se a este dia de alguma forma?
Achamos, obviamente, que é uma excelente iniciativa, e que mercearias musicais dão a oportunidade a bandas e editoras mais pequenas e independentes de vender os seus formatos físicos com maior facilidade. Não vamos participar como Chifre, mas individualmente devemos ir dar uma volta às lojas de Lisboa para ver o que se passa.
Por Hugo Rocha Pereira
A Chifre completa dois anos nesta Primavera. Podes fazer um balanço desta curta mas já recheada existência?
Como conceito, e como nome, estamos quase a fazer dois anos, mas como só tivemos o nosso lançamento oficial em Julho de 2011, a nossa existência é na realidade ainda mais curta! Honestamente, a nosso ver, tem corrido muito, muito bem. Ainda não temos grandes lucros mas também não temos dívidas, e desde o início que cumprimos os nossos principais objectivos: ser auto-financiáveis, só editar coisas incríveis, pagar justamente aos nossos artistas e provar que tudo isto é possível.
Um dos aspectos em que a Chifre se distingue é o cuidado que mostra na vertente visual, como a apresentação dos discos, a qualidade do merchandise ou mesmo no site oficial. Num tempo marcado pela desmaterialização e pirataria, esta poderá ser uma solução para as editoras marcarem a diferença e se manterem à tona?
É por aí. Primeiro, para nós pirataria é vender CDs e cassetes piratas na feira e coisas assim (ou seja, lucrar injustamente com o trabalho e talento dos outros), não é sacar música da net. Nunca nos passaria pela cabeça ir atrás de pessoas que partilham a música dos nossos artistas através da internet. O que nós queremos é que a música que editamos chegue ao máximo de pessoas possível, porque são essas pessoas que se tornam fãs, e a mostram a mais amigos, e vão a concertos, e às vezes, já com o álbum no Ipod, compram o CD na mesma quando passam pela banca. Distribuição digital à parte (que também temos), sempre quisemos criar edições físicas especiais que apeteça comprar, e merchandise que apetece ter e que valha por si própria, mesmo que nunca se tenha ouvido falar da banda. Não só temos muito cuidado com a vertente visual, como acreditamos que não é preciso, de todo, gastar rios de dinheiro a criar coisas originais e de qualidade. Nada do que vendemos é feito em fábrica - as capas dos CDs são feitas numa gráfica com um cortante próprio que desenhámos, os CDs são gravados e verificados por nós um a um, é tudo empacotado por nós, e a merchandise é toda feita à mão. Somos grandes defensores do DIY, mas bem feito. DIY não é igual a fazer as coisas à balda. Dá muito, muito trabalho, mas no fim fica tudo exactamente como queremos - e nem temos sequer fama de editora DIY porque ninguém dá por isso quando compra o CD.
Fala-me um pouco da forma como a Chifre distribui os lucros, entre si, os artistas e o fundo Chifre. Parece-me um “modelo de negócios” bastante interessante.
Isto remete também para a resposta anterior - passámos imenso tempo à procura de uma solução para as nossas edições que fosse única e de boa qualidade mas ao mesmo tempo o menos dispendiosa possível. Como assumimos quase o trabalho todo da produção física dos nossos CDs, o custo financeiro dos mesmos é bastante baixo. Isso, aliado ao facto que nos comprometermos a não lucrar mais com a arte do que quem a cria, leva ao nosso modelo de negócio - 50% dos lucros dos CDs e merchandise vai directamente para o artista. Dos outros 50%, metade vai para nós, metade para um fundo Chifre, que é utilizado para re-edições e outros custos necessários. Como também tratamos da distribuição, da promoção e do agenciamento, fica mais dinheiro em casa para distribuir entre toda a gente, já que não estamos a pagar a alguém para fazer isso separadamente. É uma trabalheira, mas é para nós a única maneira de trabalhar que faz sentido. Ah, e as masters pertencem aos artistas, também.
A Chifre não se limita a editar discos. Dedica-se também aos livros, filmes e design. O que têm feito nestes campos?
Por enquanto, ainda nada. Como fazemos questão de nos auto-financiar, ainda não tivemos liquidez para expandir a editora nesses campos. No entanto, filmes (curtas e documentários) e design são possibilidades a curto-médio prazo. Livros são mais complicados!
Podes revelar alguns dos projectos que a Chifre tem para este ano? É verdade que existem planos de expansão para o Brasil?
A nossa próxima edição será A Balada do Coiote, dos TV Rural que, já agora, está incrível. Sai a 12 de Maio. Temos mais umas quantas coisas na calha - há bandas que ainda temos de ver ao vivo para decidir, e há músicos que têm de se despachar e entrar mas é em estúdio! Quanto ao Brasil, é um mercado que faz sentido considerar quando (até agora) só temos bandas que cantam em português. Não há planos para abrir uma sucursal nem nada do género, mas andamos a recolher informação de como será a maneira mais lógica de tentar exportar a música que editamos.
Qual é a tua opinião sobre iniciativas como as do Record Store Day? Este ano a Chifre associa-se a este dia de alguma forma?
Achamos, obviamente, que é uma excelente iniciativa, e que mercearias musicais dão a oportunidade a bandas e editoras mais pequenas e independentes de vender os seus formatos físicos com maior facilidade. Não vamos participar como Chifre, mas individualmente devemos ir dar uma volta às lojas de Lisboa para ver o que se passa.
Por Hugo Rocha Pereira






