Topes 2011
· 12 Dez 2011 · 22:00 ·

Top 2011 · Top Portugueses 2011 · Topes Individuais · Momentos 2011 · Topes Ilustres

© Sofia Miranda


 

10

You Can’t Win, Charlie Brown
Chromatic
Pataca Discos


Feliz a hora em que este sexteto se juntou para compor Chromatic. Os You Can’t Win Charlie Brown – de agora em diante apresentados como YCWCB, a bem das dimensões textuais editorialmente toleradas, e que com esta explicação já foram com o caralho – são mais um reflexo do que se vai fazendo em prol da conjugação da folk com a pop. E bem, diga-se. Não são só mais uns Grizzly Bear portugueses que figuram nos topes por isso. Souberam conjugar influências, discursos e, com algumas guitarras acústicas, uns sintetizadores manhosos do arsenal do Noiserv e harmonias vocais que trazem as fulanas dos Dirty Projectors à memória, construíram um disco de belas canções. Podemos até dizer que Chromatic, enquanto título, descreve na perfeição as camadas que se vão sobrepondo ao longo do alinhamento, quer vocais, quer instrumentais. A alternância entre vocalistas é também um condimento essencial para assegurar a dinâmica do disco, que parece não ter início nem fim, podendo descrever-se como uma história contínua em que a viagem é determinada pelo ouvinte (para tal, recomendamos uma escuta em modo random ou shuffle, dependendo dos casos). Chromatic é, também por isso, um dos álbuns provenientes de lusas terras que mais prazer nos deu escutar nos últimos tempos. Feliz a hora, repetimos. Simão Martins

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9

Norberto Lobo
Fala Mansa
Mbari Música


Talvez devesse ir para a lista dos momentos do ano, mas foi uma surpresa para mim ver Norberto Lobo com Tigrala, a fazerem juntos a banda sonora de um filme de Murnau. Não conhecia aqueles gestos do guitarrista. Aquele arrojo. Confesso que Pata Lenta foi uma desilusão. Aborrecido e perdido. Fala Mansa devolveu-me a adoração por Norberto Lobo, a tal que já vinha de Mudar de Bina. Por entre homenagens (a Jack Rose e Lhasa de Sela, por exemplo), ambas extraordinárias, será o “Requiem para as Abelhas” que mais nos toca, talvez. Ou o “Haiku para Mike”. Não importa. Cada um sabe de si. Sem querer plagiar o “Aconchego Solar” que se encontra a meio de Fala Mansa, há algo de aconchegante em Norberto Lobo. Mesmo no facto de não falar muito, de ser tímido, de sorrir muito e de forma completamente desligada de quem o rodeia, como se o mundo fosse todo ele uma grande 'private joke', mesmo nisso se encontra um aconchego. Não é duro, não é difícil, não é doloroso. É esperançoso e faz com que se acredite. Eu acredito no Norberto. Tiago Dias

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8

B Fachada
Deus Pátria e Família
Mbari Música


Portugal continua muito marcado por dois triunviratos: o “Deus, Pátria e Família” que dá nome a este EP e os “Três FFF” – Fado, Futebol e Fátima, aos quais se voltou a juntar o malfadado FMI, num ano que foi tudo menos fácil. E 2012, insistem em tom de ameaça, vai ser ainda bem pior. Sendo assim, o que B Fachada aqui canta soa cada vez mais acertado, entre uma revisão da matéria dada, a premonição de «Portugal está para acabar» / Portugal vai rebentar» e a captação do ar dos tempos. Sublima-se uma realidade negra (trocado por miúdos: torna-se a merda em algo belo) através do cacarejar de galinhas, do piano – que começa fúnebre para animar passado um tempo, como uma ave que estrebucha depois de lhe cortarem a cabeça – e da voz, que dispara rimas em fachadês contra a «piça do poder» e apela ao boicote do sistema, pois já não chega a mera abstenção. E quando suspende o ataque às idiossincrasias da pátria, naquele ritmo incendiário, B Fachada debruça-se sobre o que lhe é mais querido e familiar – a abrir e a fechar a segunda parte canta coisas íntimas, numa toada lenta e melosa. São “apenas” 20 minutos, mas dizem muito sobre nós. Hugo Rocha Pereira

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7

Dead Combo
Lisboa Mulata
Universal Music


Será, talvez, o álbum mais maduro do duo e não apenas porque estão, de facto, mais maduros. É consistente onde os outros não foram, é de uma beleza sublime onde os anteriores eram mais expostos, menos trabalhados e mais brutos. Belos na mesma, note-se. A primeira metade não desilude, mas não anuncia aquilo que a segunda parte do álbum nos traz. “Esse olhar que era só teu” era realmente só teu. Só teu. Só teu. Só meu. E se eu só “Ouvi o texto muito ao longe”, a culpa não foi de ninguém senão minha, porque, se queres que te diga, espero ainda vir a ver a “Aurora em Lisboa”, uma “Lisboa Mulata” que é de mil e uma cores e que deixa a sensação de que há e haverá sempre algo mais para ver e para ouvir e para cheirar. “Lisboa Mulata” é o meu álbum favorito do duo Tó Trips e Pedro Gonçalves e deixa um augúrio muito positivo para o que se pode esperar do futuro. A cidade que é mais do que uma cidade, que é uma mulher, aguarda. Tiago Dias

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6

Aquaparque
Pintura Moderna
Mbari / Aquaboogie


Em É isso aí tive muitas dúvidas acerca da voz. Adepto da música, sem dúvida, mas da voz? Não sei, não. Onde já vão essas reticências, que agora são meros pontos difusos, distantes? A pessoa que os ouve terá mudado e André Abel e Pedro Magina também, certamente. Um dia disseram-me que para deixar de fumar não havia melhor remédio do que meter um Português Suave dos amarelos ao bolso. Nunca percebi bem qual a razão. Logo a mim que tinha tamanha paixão por aqueles pacotes. E pelos filtros. Em “Ultra Suave” há algo desse falso conselho. Uma das canções do ano, uma das canções portuguesas da década, de sempre, que, em repetição permanente, definiu os meus dias de 2011. O “Se tu quiseres entrar no corpo de outra pessoa tens de aproveitar a saliva que magoa” é o “Vou ao fundo do mar no corpo de uma mulher bonita” da nossa geração, da nossa era. É o álbum que eu não entendo e do qual gosto por não conseguir encaixar – ainda – todas as peças. É a incompreensão que me alimenta a vontade de querer perceber o que se passa ali. Tiago Dias

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5

The Glockenwise
Building Waves
Lovers & Lollypops / Vice / Popstock


Barcelos é uma cidade bonita. Quer dizer, basta ser a casa do melhor festival do Minho e arredores. Contudo, diz quem lá mora que é igualmente aborrecida; e que é sobretudo isso que motiva toda a cena rock que, nos dias que correm, a coloca no mapa. Entram em cena os Glockenwise e a energia, os riffs, as canções dos quatro scumbags que compõem a banda. Se há quem lhe chame os Black Lips portugueses sem perceber que isso é ao mesmo tempo elogio e insulto (para quê perder tempo a comparar o que tem tanta qualidade?), outros preferem ouvir ad nauseam a bomba que é Building Waves e todas as canções que nele se encontram. Sem artífices. Sem manhas. SEM MERDAS. Só guitarras, um baixo e uma bateria, uma dose imensa de diversão, um rasgo de anti-pretensiosismo, e alguma falta de controlo. E não é preciso mais. Agora que estão num hiato mais ou menos forçado o disco faz cada vez mais sentido. Não nos podemos esquecer, nunca, de que o rock não morre. Há e haverá sempre quem o retire dos esgotos em que por vezes se encontra. E, nesse aspecto, os Glockenwise são os melhores canalizadores de 2011. Um grande bem-haja. Em 2012, you better watch out! Paulo Cecílio

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4

Buraka Som Sistema
Komba
Enchufada


Sabes quando as pessoas são fixes e têm mérito e trabalham bem e ainda por cima depois são recompensadas por isso? É muito raro, sim, especialmente em Portugal, mas os Buraka Som Sistema são um desses casos únicos. Não é para dizer "eu estive lá", mas eu estive literalmente lá quando eles tocaram no Mini-Mercado, para aí no segundo ou terceiro concerto deles, e foi incrível. Ainda mais incrível, desta feita mesmo no sentido de "inacreditável", é eles terem chegado onde chegaram e terem um segundo álbum do caraças. É meio conceptual, o que se calhar ajuda à coesão e a que cada cantiga seja uma bomba (e juro que não queria rimar com "komba"). OK, há um ou outro momento que podia ser mais curto, e ainda hoje, e apesar de gostar dela, não sei se a Sara Tavares fica muito bem ali, mas fogo... E como se não bastasse, ao vivo continuam a ser uma cena indescritível de tão boa, tão dançável que põem qualquer pessoa, como foi o meu caso no Coliseu, a suar em bica quando está um frio de rachar lá fora. Não é para todos, é só para eles. Rodrigo Nogueira

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3

PAUS
PAUS
Arthouse / Valentim de Carvalho


Poderia voltar a descrever o entrosamento entre Hélio e Albergaria (os bateristas-siameses de serviço), que roça a perfeição; a grandeza diabólica do baixo manipulado por Makoto; as sensações transmitidas pelos teclados de “Shela”; as palavras, que permanecem um instrumento mas ganham um protagonismo maior e contornos mais nítidos; ou a forma como tudo isto se agiganta em palco, na troca de fluidos com o público. Mas já estamos fartos dessas conversas – dos trocadilhos com o nome da banda, então, nem vale a pena falar. É melhor, então, concentrarmo-nos na música: Música não linear / Música para dançar / Música para tripar / Música para malhar / Música para queimar / Música para saltar / Música para transpirar / Música para gritar / Música para contemplar / Música para escutar / Música para descruzar / Música para explorar / Música para tocar / Música para inspirar / Música para voar / Música para desmaiar / Música para hipnotizar / Música para iluminar / Música para viajar / Música para acordar / Música para mergulhar / Música para libertar / Música para vaguear / Música para Pausar… Upss! Hugo Rocha Pereira

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2

Sei Miguel & Pedro Gomes
Turbina Anthem
No Business


Um disco que é mais do que a simples soma das partes. De um lado o trompete mágico de Sei Miguel; do outro, as guitarras (eléctrica e acústica) de Pedro Gomes. O resultado deste encontro ultrapassou qualquer expectativa. Miguel e Gomes navegam entre dois pólos distintos: ora envolvendo-se num lirismo raro, o trompete doce a flirtar com a guitarra acústica, Chet Baker e folk; ora entram em confronto tempestuoso, guitarra eléctrica em choque com o trompete – convulsão, demónios e chamas. Guitarra e trompete atravessam géneros (jazz, rock, folk, etc.) interligando discursos, num fulgurante diálogo criativo. Neste disco, mais coerente do que aparenta à primeira vista, a versão eléctrica é apenas o complemento da acústica, isto anda tudo ligado, tudo faz sentido. Sei Miguel e Pedro Gomes fizeram um pacto e gravaram um disco. Este é um belíssimo conjunto emoções intensas e ficará como monumento da música portuguesa contemporânea. Nuno Catarino

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1

Halloween
A Árvore Kriminal
Sohiphop


Allen Halloween era um segredo que foi sendo transmitido de boca a boca por entre aqueles que tinham ouvido o anterior “Projecto Mary Witch”, e assistido a alguns dos seus concertos. Depois de “A Árvore Kriminal” deixou de ser um segredo e passou a ser uma voz indispensável à boa saúde do hiphop em Portugal, capaz de aglutinar públicos e sensibilidades. Nomes de respeito como Wu-Tang Clan, Jeru The Damaja, Young Jeezy, ou o portuense Fuse passam-nos pela cabeça ao ouvirmos este disco. Halloween é dotado de uma voz inconfundível e carismática, e de um flow que segue por montes e vales sem quebras de encadeamento, de uma capacidade de ser agressivo, contemplativo, soturno, empolgante, etc, faz com que muitos outros rappers pareçam demasiado...básicos. Presos a uma monótona afirmação de credibilidade. Composto na totalidade por óptimas canções, convidados sempre certeiros, e produção que combina na perfeição com as rimas e o ambiente que estas pedem, merece todo o destaque possível. Nuno Proença

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