 |
10: |
Tropa Macaca Marfim |
Ruby Red |
� um facto que o rock explorat�rio portugu�s teve nos �ltimos quatro anos um sopro interessant�ssimo de criatividade e energia. O movimento � global: por todo o mundo, muitos m�sicos reencontraram-se com uma certa no��o de liberdade. Portugal n�o foi excep��o. Passada a fase inicial, � agora necess�rio dar passos � frente - a edi��o de discos em formatos mais duradouros (al�m dos tradicionais CD-R) � um deles. Marfim, o primeiro LP deste duo de Santo Tirso, recupera pistas do krautrock de sintetizadores dos Cluster, da electr�nica enquanto elemento aglutinador de noise, rock e outras m�sicas (como fazem os Black Dice), da vis�o subversiva da m�sica de dan�a dos Excepter. Isto de forma original, n�o reverente. A ainda curta hist�ria do outrock portugu�s passa necessariamente por aqui. Pedro Rios
|
 |
9: |
Amélia Muge Não Sou Daqui |
Vachier & Associados |
N�o sou Daqui, maravilhosa indefini��o geogr�fica, tem de ser um dos regressos do ano. Anda aqui Am�lia Muge a saltar de fronteira em fronteira, a fazer da can��o um lugar deliciosamente livre e quem tem a ganhar com isso somos n�s. Este que � o primeiro cap�tulo de uma trilogia � tamb�m provavelmente o melhor disco de sempre de uma senhora que faz da can��o gato-sapato, confrontando-a consigo mesma, deixando-a seguir o seu rumo pr�prio no final. Tantos pa�ses, tantos cheiros, tantos sentidos. O destino destas can��es nunca esteve escrito; foi a liberdade que as construiu. S� se pode esperar o melhor dos dois restantes cap�tulos deste tr�ptico. Que venham o mais depressa poss�vel. Andr� Gomes
|
 |
8: |
Rodrigo Leão Portugal - Um Retrato Social |
Sony BMG |
Rodrigo Le�o nem hesitou quando lhe propuseram compor a banda sonora para a s�rie documental da autoria de Ant�nio Barreto. A identifica��o imediata com o projecto foi for�a catalisadora do empenho que dedicou a este desafio mesmo � sua medida. Chamado a revestir de m�sica os cen�rios visuais captados pela realizadora Joana Pontes, Rodrigo Le�o n�o desiludiu. Em pouco tempo surgiriam instrumentais afectos � sua prefer�ncia de conjugar teclados electr�nicos com cordas cl�ssicas, mas com a particularidade de remeterem facilmente para as imagens que o document�rio projecta. A harmonia conseguida na rela��o som/imagem � a virtude mor deste registo. Em Portugal - Um Retrato Social, as imagens cont�m sons e os sons cont�m imagens. E cont�m todo o talento de Rodrigo Le�o. Eug�nia Azevedo
|
 |
7: |
DJ Ride Turntable Food |
Loop Recordings |
Este � um exemplo de como a m�sica portuguesa conseguiu abolir fronterias no que diz respeito � fus�o de linguagens. Da cabine de djing � consagra��o como talento emergente da cena urbana nacional, o nome DJ Ride pontificar� sempre que se fa�am alus�es � m�sica que tem por base o manejo do gira-discos. Aqui, no entanto, esse instrumento t�o habitual da sua actividade de DJ, pela qual tem sido tamb�m muito agraciado, � somente a mat�ria-prima para Turntable Food. Aqui h�, e � mesmo verdade, can��es. As camadas de samples sucedem-se a bom ritmo fundindo a electr�nica experimental com o hip-hop num todo que vicia facilmente. �Come Take the Ride� conta com a participa��o de Margarida Pinto e � uim dos momentos mais inspirados de um disco que constitui uma das mais refrescantes surpresas do ano. Eugénia Azevedo
|
 |
6: |
João Paulo Memórias de Quem |
Clean Feed |
Se dúvidas houvesse, o disco a solo Memórias de Quem confirmou o pianista João Paulo como um dos mais notáveis improvisadores em território nacional. A sua identidade única, a capacidade de pegar em temas origem popular para magníficas revisões e o brilhantismo das composições/improvisações fazem dele um caso raro em Portugal. A intensidade que coloca na interpretação de cada melodia transborda as fronteiras do jazz ou da música improvisada e esta música afirma-se numa tocante universalidade. Magnífico. Nuno Catarino
|
 |
5: |
David Maranha Marches of the New World |
Grain of Sound |
Marches of the New World insinua no seu t�tulo desde logo a no��o de movimento. Nome mais do que acertado para um �lbum cujo �mago reside exactamente naquele ponto onde este � n�o um meio mas um fim em si mesmo. � neste movimento quase-devocial que se descobre o tal "novo" mundo do mentor dos Osso Ex�tico, longo p�riplo por entre texturas lamacentas e passadas pesarosas. Poderia comparar-se a uma prociss�o, que lenta e compassadamente se ritualiza no seu pr�prio movimento, estando o acto devocional inerente a todo este caminho e n�o numa suposta conclus�o. E Marches of the New World nunca se conclui, alimenta-se ad infinitum nas suas pr�prias espirais, descartadas de qualquer simbolismo terreno, para se confinar (temporariamente) ao seu pr�prio movimento, enquanto lentamente se erguem lajes a um Velho Mundo. Bruno Silva
|
 |
4: |
JP Simões 1970 |
Nortesul |
O JP Sim�es de 1970 n�o � aquele que v�amos a virar hamburgers em 1998 no v�deo de �Sunset Boulevard� dos Belle Chase Hotel. N�o. Para j�, fez o bigode h� cerca de tr�s anos e deixou o ingl�s para tr�s. A evolu��o de bo�mio adepto do �lcool para trovador respeit�vel deu-se com este disco. O portugu�s j� aparecia nos Belle Chase Hotel, mas era com um sotaque brasileiro que n�o deixava nada para a imagina��o em termos da compara��o com Chico Buarque, o seu her�i de sempre. Depois apareceu no projecto p�s-Belle Chase Quinteto Tati. E foi a� que Sim�es come�ou a tratar a L�ngua Portuguesa por tu. Agora, em 1970, est� em pleno dom�nio dela. Bossanova em portugu�s como Jos� Cid nunca esperou quando, diz ele, foi a primeira pessoa a cant�-la no sotaque de Cam�es. Um triunfo. Rodrigo Nogueira
|
 |
3: |
Old Jerusalem The Temple Bell |
Bor Land |
� sempre de mansinho. Os �lbuns de Old Jerusalem chegam sem fazer grande alarido e atingem-nos com a mesma subtileza. O mais recente, The Temple Bell, n�o � excep��o: faz-se de epis�dios di�rios de uma suposta hist�ria de amor que decorre por entre pilhas de CDs, enquanto l� fora, solto ao vento, um len�o expressa uma vontade indeterminada. S�o epis�dios que se transformam em can��es, que nelas s�o cantados e, sobretudo, descortinados pela parte que, nestes casos, se costuma julgar omnisciente. Francisco Silva, o homem por detr�s da m�scara, tem uma voz � altura dos acontecimentos; os textos continuam t�o bons como no �lbum anterior, Twice the Humbling Sun; e o ambiente continua a ser o de um lugar onde entramos e imediatamente nos sentimos confort�veis - talvez pretensamente confort�veis, talvez ilusoriamente afortunados. Samuel Pereira
|
 |
2: |
Lobster Sexually Transmitted Electricity |
Bor Land |
Um dos nomes mais respeitados de uma certa "m�sica perif�rica portuguesa", sempre subsistiu no duo lisboeta um certo apego a formas mais tipificadas de rock, que, n�o sendo convencionais, sempre se pautaram por uma distens�o muscular em headbanging compulsivo. Ou seja, relembramos as suas m�sicas ("Farewell Chewbaca" � um cl�ssico moderno) e certamente j� ensai�mos passos disconexos de quase-dan�a em devo��o ao riff furioso e ao ritmo espasm�dico. Sexually Transmitted Electricty � o depurar daquilo que tantos palcos temem, os fantasmas do stoner rock filtrados pela confonta��o do hardcore, apontamentos solistas a la Reign in Blood de bra�o dado com a expansividade do delay, e um eterno ruminar sobre o cansa�o da explos�o. Murros no est�mago necess�rios para que este "rock" se volte a agitar. Bruno Silva
|
 |
1: |
Norberto Lobo Mudar de Bina |
Bor Land |
A meio caminho entre o legado portugu�s (com Carlos Paredes como �bvia refer�ncia, j� que o disco lhe � dedicado) e o legado americano (que ter� em John Fahey o seu m�ximo expoente), Lobo explora em Mudar de Bina todo o potencial da guitarra ac�stica, num �lbum quase 100 por cento a solo. A partir dessa abordagem, o m�sico criou um dos mais belos �lbuns portugueses desta d�cada, com tanto de simplicidade como de complexidade: as harmonias s�o por vezes intrincadas, mas nunca se perde o sentimento de um disco caseiro e lo-fi; a tranquilidade � dominante, mas o ouvinte n�o deixa de sentir momentos de energia e inquieta��o. Na sua estreia em disco, Norberto Lobo mostra uma t�cnica apurada na arte do dedilhar, mas o que mais impressiona � que consegue ser mais impressivo do que orquestras inteiras. Jo�o Pedro Barros |