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10 |
Sei Miguel & Pedro Gomes
Turbina Anthem
No Business |
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Um disco que � mais do que a simples soma das partes. De um lado o trompete m�gico de Sei Miguel; do outro, as guitarras (el�ctrica e ac�stica) de Pedro Gomes. O resultado deste encontro ultrapassou qualquer expectativa. Miguel e Gomes navegam entre dois p�los distintos: ora envolvendo-se num lirismo raro, o trompete doce a flirtar com a guitarra ac�stica, Chet Baker e folk; ora entram em confronto tempestuoso, guitarra el�ctrica em choque com o trompete � convuls�o, dem�nios e chamas. Guitarra e trompete atravessam g�neros (jazz, rock, folk, etc.) interligando discursos, num fulgurante di�logo criativo. Neste disco, mais coerente do que aparenta � primeira vista, a vers�o el�ctrica � apenas o complemento da ac�stica, isto anda tudo ligado, tudo faz sentido. Sei Miguel e Pedro Gomes fizeram um pacto e gravaram um disco. Este � um bel�ssimo conjunto de emo��es intensas e ficar� como monumento da m�sica portuguesa contempor�nea. Nuno Catarino

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9 |
Gang Gang Dance
Eye Contact
4AD |
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Posso estar enganado (n�o seria a primeira nem a segunda vez), mas n�o me lembro de os disc os anteriores dos Gang Gang Dance serem t�o consistentes. Para usar uma express�o parva, por�m ver�dica, Eye Contact � uma s�lida colec��o de faixas do cara�as. Os interl�dios mais abstractos n�o distraem nem irritam, e as malhas partem loi�a naquela maneira ligeiramente fora em que os gajos (e a gaja) s�o mestres. "MindKilla"? Fogo, na minha cabe�a parte qualquer pista minimamente inteligente ao meio. N�o tenho o disco aqui ao lado e s� de pensar nessa faixa estou a come�ar a dan�ar ao de leve. E estou a escrever isto num autocarro. Mesmo que n�o haja o Tinchy Stryder a dizer "oh shit, Gang Gang", como havia no disco anterior, h� sempre a voz marada da Lizzie Bougatsos e o som dan�a-experimental-rock-mundo dos Gang Gang, que � do cara�as. E at� o Alexis Taylor dos Hot Chip anda l� em modo faixa calma, o que pelo menos para mim � sempre bom. Rodrigo Nogueira

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8 |
The Weeknd
House Of Balloons |
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Chamam-lhe mixtape mas at� lhe podiam chamar carro de bois, broche de por ao peito ou luz de presen�a. Independentemente da sua classifica��o, faixa et�ria ou estado civil, House Of Balloons � um dos documentos mais arriscados e brilhantes que 2011 quis parir por estas alturas de indecis�o e d�vida. No primeiro de duas colec��es de can��es que editou em 2011 (e vem uma terceira), Abel Tesfaye, puto de 21 anos ou perto, empurrou o RnB para o futuro � ou algo muito distante - com a classe e bom gosto acess�vel a poucos. F�-lo nem que para isso tivesse de se aproximar da coisa chamada p�s-dubstep, piratear os indies Beach House ou Siouxsie and the Banshees. F�-lo esculpindo uma produ��o maravilhosa que deu � luz maravilhas naturais como �High for this�, �What You Need�, �House of Balloons/Glass Table Girls� (n�o h� cora��o que aguente a passagem entre os dois momentos, 3:35, mais coisa menos coisa) ou �The Morning�, naquela que � certamente uma das mais fortes e misteriosas sequ�ncias de 2011. Uma estreia memor�vel. Se calhar, como tantas vezes acontece, s� mesmo em 2012 � que perceberemos realmente o que nos atingiu. André Gomes

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7 |
Halloween
A Árvore Kriminal
Sohiphop |
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Allen Halloween era um segredo que foi sendo transmitido de boca a boca por entre aqueles que tinham ouvido o anterior �Projecto Mary Witch�, e assistido a alguns dos seus concertos. Depois de �A �rvore Kriminal� deixou de ser um segredo e passou a ser uma voz indispens�vel � boa sa�de do hiphop em Portugal, capaz de aglutinar p�blicos e sensibilidades. Nomes de respeito como Wu-Tang Clan, Jeru The Damaja, Young Jeezy, ou o portuense Fuse passam-nos pela cabe�a ao ouvirmos este disco. Halloween � dotado de uma voz inconfund�vel e carism�tica, e de um flow que segue por montes e vales sem quebras de encadeamento, de uma capacidade de ser agressivo, contemplativo, soturno, empolgante, etc, faz com que muitos outros rappers pare�am demasiado...b�sicos. Presos a uma mon�tona afirma��o de credibilidade. Composto na totalidade por �ptimas can��es, convidados sempre certeiros, e produ��o que combina na perfei��o com as rimas e o ambiente que estas pedem, merece todo o destaque poss�vel. Nuno Proença

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6 |
Fleet Foxes
Helplessness Blues
Sub Pop |
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B-E-L-E-Z-A
Podia ter escrito todo o texto com essa palavra. O azar � ter um limite ao qual conv�m aproximar-me. Porque �Helplessness Blues� �, muito simplesmente, o disco mais estonteantemente belo de 2011. N�o se trata de admirar a t�cnica de harmoniza��o de vozes dos Fleet Foxes, embora Robin Pecknold tenha um voz t�o maravilhosa como o ar de uma montanha coberta de vegeta��o. Mas sim de reconhecer que aquilo que fazem com elas � criar can��es que serpenteiam por caminhos de melodias que estariam escondidas � vista de todos, fazendo-nos pensar como � que ningu�m encontrou algo t�o reluzente antes. A diferen�a para o seu disco de estreia n�o � desde logo �bvia, mas manifesta-se no formato insinuante de algumas das pe�as contidas em �Helplessness Blues�, na s�bia gest�o dos espa�os, da surdina e dos sil�ncios, ou na epicidade que est� logo ao virar da esquina. Os Fleet Foxes j� merecem um lugar na hist�ria pelos dois primeiros discos. � esse o destino dos m�gicos. Nuno Proença

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5 |
Destroyer
Kaputt
Merge Records |
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Daniel Bejar is the man. 2011 n�o pertenceu sen�o �quele que melhor conduziu as palavras no meio das melodias, can��es cheias de tudo, sem abandonar �Chinatown� no imagin�rio Noir de Polanski, ou que trouxe ao mundo �Suicide Demo For Kara Walker�, uma can��o enorme, intemporal. Kaputt, obra maior deste t�o feliz declamador, cantautor, o que lhe queiram chamar, � conceptualmente coesa, de f�cil digest�o. As can��es evoluem com uma simplicidade que lembra outros tempos, quando apenas uma guitarra � lareira bastava para que se erguesse um hino, ou se fizesse um filho, sem ainda assim se dar � ingenuidade de querer ser maior que a pr�pria vida. �Blue Eyes�, mais pr�xima do idealismo 80s, � a prova de como, com pouco, muito se faz pela humanidade. E o restante alinhamento n�o se afasta de tal premissa, descobrimos depois, em conson�ncia com aquilo que s�o as boas pr�ticas r�tmicas, mel�dicas e harm�nicas � falamos daquela bateria, sempre certeira, da dicotomia guitarra/sopros e, obviamente, de todo o cen�rio de fundo com o baixo no eixo da objectiva. � pura seda auditiva, que d� sede para mais. Se a fonte de Bejar desta genialidade tornar a jorrar, prometemos n�o nos deixar entediar. Simão Martins

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4 |
John Maus
We Must Become the Pitiless Censors of Ourselves
Ribbon Music / Upset The Rhythm / Flur |
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Personagem estranh�ssimo, este John Maus. Quem � que faz um disco assim, t�o copista e t�o idiossincr�tico ao mesmo tempo? Quem se exp�e desta forma, no limite do rid�culo, na vertigem da pompa (cantemos todos, de m�os dadas, "Pussy is not a matter of fact")? Quem � que se lembra de sorver do mais fabuloso-piroso material (Jan Hammer) e pilhar Joy Division ou os urbanos-depressivos? Tudo sem ponta de ironia. Numa entrevista ao site Self-Titled, definiu bem o seu lugar amb�guo: "N�o percebia que a m�sica que estava a fazer era especialmente estranha". E acrescentou: "Honestamente, pensei que estava a fazer coisas ao estilo do �top� 40. S� quando as pessoas me come�aram a dizer aquilo � que percebi que o meu trabalho � entendido como algo diferente da ideia que tinha". � neste limbo pop/n�o-pop que Maus caminha, como o amigo e c�mplice Ariel Pink (mas com uma paleta sonoro menos abrangente). E h� aqui uma grande can��o, "Quantum Leap", toda ela for�a propulsiva de baixo sacada ao p�s-punk e arrebatamento l�rico insuflado numa voz dram�tica e sintetizadores borbulhantes. Pedro Rios

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3 |
James Blake
James Blake
Atlas |
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Este ano n�o seria o mesmo sem James Blake e o seu hom�nimo disco de estreia. Portanto, nada de estranho no facto de ocupar esta dign�ssima posi��o merecedora da mais reluzente medalha de bronze. Blake escreve e comp�e, e muito. Mas f�-lo, antes de mais, para si mesmo, para gozo pr�prio, limitando-se a deixar a porta do quarto entreaberta para que os curiosos entrem e apreciem o que produz com afinco. Assim se cria intimismo entre o autor e o ouvinte. Em comunh�o, descobrimos uma for�a an�mica que possui uma qu�mica que nos deixa tranquilos e apaixonados. Pelo meio h� murm�rios, h� sil�ncios, h� ru�dos engenhosos onde deveriam estar notas musicais. H� pop envolta em possantes linhas de baixo. H� soul embrulhada em cad�ncias reminiscentes do dubstep. H� uma beleza pura, simples que s� podia ser primog�nita da melancolia. Como j� antes nestas p�ginas foi referido, James Blake � um prontu�rio de can��es caseiras e certeiras, can��es de recorte irregular, can��es que mal come�am e j� nos est�o a despachar, incentivando o loop para que possamos sentir e ressentir as minud�ncias penduradas no tempo e no espa�o. James Blake confirma uma vez mais uma teoria que soa, ami�de, simplista e banal: dos trabalhos mais simples nascem os prazeres mais genu�nos. Uma teoria trivial, pois �. Mas o disco, apesar da produ��o modesta, de trivial nada tem. Rafael Santos

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2 |
PJ Harvey
Let England Shake
Vagrant |
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Se � verdade que Inglaterra sempre esteve, de alguma forma, presente nos discos de PJ Harvey, talvez nunca o tenha estado como neste seu �ltimo, e fant�stico, disco. Com uma tem�tica que alude a guerras e conflitos passados, mas sem nunca usar m�o pesada e pompa despropositada (al� Cranberries). Por �Let England Shake� passa a ambi�ncia dos velhos �moors�, onde PJ, apoiada na auto-harpa, e em arranjos parcimoniosos dos seus comparsas, usa a voz de maneira mais contida do que o que estamos habituados, mas, tal como em �White Chalk�, tem um poder evocativo tremendo. Recorre-se igualmente a refer�ncias e samples de m�sicas de autores como Eddie Cochran ou Niney The Observer, sabendo como integr�-los perfeitamente na sua m�sica. N�o vale a pena falar em �regresso � boa forma�. Quem disser isso n�o ouviu �White Chalk�. O que vale a pena � aplaudir Harvey por t�o perfeita concretiza��o de um conceito. �Let England Shake� � um monte de vendavais p�s-cat�strofe em forma de bel�ssima can��o! Nuno Proença

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1 |
Panda Bear
Tomboy
Paw Tracks / Flur |
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Logo na primeira faixa Panda Bear garante que podemos contar com ele. E as hipot�ticas d�vidas � � dif�cil guardar reservas quando falamos de algu�m que nos tem dado alguma da melhor m�sica dos �ltimos anos, tanto a solo como nos Animal Collective � desfazem-se � medida que vamos mergulhando em Tomboy. Se a maior parte dos discos n�o resiste a audi��es consecutivas, este como que cresce a cada viagem pelas suas onze faixas, de que �Slow Motion� ou �Last Night At The Jetty� ser�o paradigmas de excel�ncia: m�sica na vanguarda, sem se deixar enredar por modas fugazes, e que nos transporta para outras dimens�es. As harmonias vocais envoltas em eco e as m�ltiplas camadas sonoras transmitem carradas de sensa��es, tanto nos fazendo dan�ar como elevar acima das ondas (em �Surfer�s Hymn�), cantar ou orar, na mais introspectiva �Scheherazade�. J� t�nhamos apontado o n�mero de temas do disco: onze, tantos quantos os jogadores que formam uma equipa de futebol, como a do Glorioso clube de que Noah Lennox � adepto confesso. �Benfica� encerra Tomboy como um golo dourado decide uma partida. E mesmo quem n�o liga a futebol se emocionar� com o apote�tico clamor do Est�dio, em vagas de louvor � vit�ria que, no final de contas, � o que todos ambicionamos e aquilo que Panda Bear mais uma vez consegue com este disco. Hugo Rocha Pereira
