10 Girls Album Eskimo / Ultima

O lo-fi pegou e (ainda) bem. Fez-nos acreditar de novo que a pop pode e deve ser alvo de imperfei��es, magoar o ouvido e instalar e deixar no ar a d�vida entre uma op��o est�tica e um �prego�. Os Girls gostam pouco de perfei��es e de r�gua e esquadro, a n�o ser quando estamos a falar de chico-espertismo pop (elogio) e composi��o certeira. Sim, apareceram do nada mas ficaram no ouvido: Album � coisa pegajosa, que apetece abrir e usar v�rias vezes ao dia, um disco para todas as esta��es do ano, do metro, do autocarro e de comboios. � um disco de partidas e de chegadas, com um tempo e um espa�o ainda por definir. Album gasta o dinheiro todo em viagens aos anos 70 e de volta. E leva porrada quando chega a casa. Uma can��o como �Lust for Life� pode n�o salvar vidas mas pode e deve salvar dias. Em 2009, um �lbum como Album (desculpem), mesmo perdido na cronologia, soa verdadeiramente refrescante. AG

9 Doom Born Like This Lex

Carta aberta a Daniel Dumille (DOOM):
Eu adoro-te, claro. Mas a verdade � que tu �s demasiado prol�fico. Devias parar para pensar de vez em quando. Tens coisas incr�veis, mas tens demasiado �lbuns. Se calhar a culpa � do Madlib, que tamb�m faz a mesma coisa. Quando voc�s se juntam fazem magia, normalmente, a n�o ser que estejam a ser demasiado auto-indulgentes. O teu Born Like This n�o � um cl�ssico enorme ao n�vel de um Madvillainy ou um The Mouse and the Mask � n�o � � toa que as tuas melhores cenas s�o colaborativas �, mas � bom. Bons beats, teus, do Dilla, do Madlib e do Jake One � respons�vel por um dos melhores beats da d�cada que ainda por cima teve direito a verso teu: "Rock Co.Kane Flow" dos De La Soul �, samples de E.S.G. e colabora��es com o Ghostface ("The Mask" j� era um cl�ssico, mas "Angelz" tamb�m � enorme). E o Raekwon? Tu �s quase sempre bom, mas obrigado por te teres esfor�ado desta vez. Nota-se.
Abra�o,
Rodrigo. RN

8 B Fachada Um Fim-de-Semana no Pónei Dourado Flor Caveira / Mbari

Se se atribu�sse a B Fachada um lugar na actualidade nacional, o Jornal da Noite teria contado, durante 2009, com not�cias de abertura como �jovem cantautor de Cascais diverte plateias�, �Bernardo Fachada transforma Lisboa num campo de batalha de opini�es� ou �novo disco pela Flor Caveira converte centenas de indecisos�. Com sorte (ou azar), o seu dom para provocar e emocionar valer-lhe-ia um convite do Bloco de Esquerda, mas foi Um Fim-de-Semana no P�nei Dourado quem desencadeou todas as reac��es noticiadas. �Quem�, sim, porque o P�nei � um disco com vida pr�pria: condensa a inspira��o de meses numa sess�o de meros quatro dias, transforma standards passados em standards futuros - e ainda tem tempo para recuperar epis�dios e personagens de outros tempos, que nos ajudam a entender melhor as sexualidades e os afectos de hoje. B Fachada atreveu-se a cantar a vida off-line, mandando � merda a anglo-superficialidade habitual. Nem toda a fruteira tem espa�o para tamanhos tomates, � verdade, mas nem isso trava o Pon�i Dourado. MA

7 Wavves Wavvves De Stijl / Nuevos Medios

Depois de um primeiro �lbum hom�nimo, acrescentou-se um terceiro �v� a Wavves e pumba, rebentou como uma onda de maremoto noise na bolha da cara do adolescente �vido de distor��o. Isto j� n�o � �punk� porque o �punk� tamb�m j� n�o � de agora, mas tem a ess�ncia do movimento, na sua base crua, DIY, feroz e descomprometida. A esta agressividade por vezes visceral, que percorre com rapidez todas as auto-estradas e trilhos 4x4 do rock de poucos acordes e bateria amadora, de Ramones a The Jesus & The Mary Chain, junta-se todo um esp�rito Lo-fi t�o em voga neste ano que finda com laivos de electr�nica de quarto �s tantas. Assim temos um disco electrizante, ruidoso, defeituoso, maravilhoso. Com potenciais hinos geracionais com o �So Bored�, Nathan Williams, sempre � beira do seu pr�prio abismo, traz-nos sobretudo a �garage e surf-music� dos nossos tempos, mais numa de rejuvenescimento do que revivalismo, verdadeira �piece-de-resistance� de uma San Diego solarenta na era do Aquecimento Global, repleta de praias que trocaram os Beach Boys e Dick Dale por hip-hop e chachadas MTV. Venham mais �v� aos Wavves. NL

6 Bill Callahan Sometimes I Wish We Were An Eagle Drag City / Flur

Ao segundo disco assinado com o nome de baptismo, Bill Callahan volta ao seu melhor n�vel. Com uma produ��o impecavelmente seca, o ex-Smog apresenta um conjunto de melodias certeiras. Num disco muito homog�neo e, arrisquemos, quase perfeito, ser� dif�cil destacar temas individualmente, mas poderemos tentar destacar duas: a abrir, na bel�ssima �Jim Cain�, Callahan confessa o regresso �s trevas (�I used to be darker, then I got lighter, then I got dark again�); a fechar o disco, com a sumptuosa �Faith/Void�, Callahan suplanta Saramago no debate ateu (�It's time to put God away�). Se Woke on a Whaleheart lan�ava a carreira de Callahan a solo (e j� era um disco bem bom), este Sometimes I Wish We Were An Eagle - t�tulo do ano, sem conota��o benfiquista - � ainda melhor, intenso at� ao osso. NC

5 The Very Best Warm Heart of Africa Moshi Moshi Records / Nuevos Medios

�frica. �frica minha, nossa, vossa, deles. M�e �frica, de todos, deles, vossa e do mundo ocidentalizado. Esau Mwamwaya � o maestro que conseguiu unir o continente africano com a costela indie que se d� bem com o rock, m�sica electr�nica e linguagens concubinas. E o resultado � no m�nimo excitante. Em prol�fica parceria com os produtores Johan Karlberg e Etienne Tron (Radioclit), Esau Mwamwaya faz vingar em The Very Best aquilo que o seu nome indica: Warm Heart of Africa explora o melhor de dois mundos e devolve experi�ncias extra sensoriais muito apreci�veis. A proposta � t�o irrecus�vel que at� M.I.A. e Ezra Koenig (o senhor dos Vampire Weekend) quiseram tomar parte desta ponte entre a Europa, a �frica e o Estados Unidos. D� vontade de voltar aqui sempre e quando a mesti�agem for uma op��o para lavar os ouvidos de alguma m�sica mais formatada. AG

4 Fever Ray Fever Ray Rabid / Nuevos Medios

Para quem escreve estas linhas, o disco hom�nimo de Fever Ray mant�m-se como o melhor do ano desde que saiu, em Mar�o de 2009. Trata-se da estreia a solo da metade feminina do duo sueco The Knife, que Karin Dreijer Andersson partilha com o irm�o Olof. Can��es como "If I Had a Heart", "When I Grow Up" ou "Keep the Streets Empty for Me" � ilustradas, j� agora, por excelentes v�deos � s�o vultos el�ctricos, a rebentar de ansiedade e a ro�ar o macabro. Ouvir o disco de uma ponta � outra � uma experi�ncia de quase-sonambulismo, um terror surdo que se vai desenrolando lentamente e que, na verdade, n�o passa da sugest�o. Pelo caminho, h� palpita��es africanas a furar o manto de electropop. A posi��o abaixo da linha do p�dio na lista final � meramente indicativa do valor relativo destas coisas. HG

3 Grizzly Bear Veckatimest Warp

2009 deu-nos a surpresa da confirma��o. Em Horn of Plenty mas sobretudo em Yellow House j� haviam largos ind�cios da qualidade desta (mais uma) banda de Brooklyn. Contudo, este conjunto de can��es com C mai�sculo deu, ainda assim, o algo supreendente passo definitivo para que pudessem subir em apenas 3 discos ao pedestal das grandes bandas. Os Grizzly Bear prometiam, � verdade, mas superaram-se totalmente. Fizeram um enorme disco de alma e cora��o. N�o � � toa, que uma super-editora de electr�nica faz um excep��o e os tem no cat�logo, ou que por exemplo, Johnny Greenwood, guitarrista dos Radiohead, confessou ser esta a sua banda preferida. A rara grande can��o no seu sentido mais cl�ssico, que ningu�m resiste, omnipresente, intemporal, a bordo dos acordes simples, dos coros, da super-melodia, encontra-se aqui e h� v�rias, s�o inacreditavelmente abundantes. �While You Wait For The Others�, �Two Weeks� e a soberba ao cubo �Cheerleader�, por exemplo, s�o caixinhas de m�sica que poderiam ter marcado o mundo em 60�s, 70�s, 80�s, 90�s, mas vieram s� agora e ainda muito a tempo de ficar na jukebox de todo o sempre. NL

2 SUNN O))) Monoliths & Dimensions Southern Lord

"A" banda de tudo quanto se pode chamar drone, doom, p�s, ou qualquer coisa metal do nosso s�culo cumpriu em 2009 o seu melhor e mais ambicioso �lbum at� � data, deixando qualquer mel�mano capaz de ultrapassar a estranheza inicial de queixo ca�do. Monoliths & Dimensions � perfeito na din�mica de filme de terror que cria, na incorpora��o da voz de Attila Csihar, da guitarra de Oren Ambarchi, da viola d'arco de Eyvind Kang, nos sons de igreja, de cordas, de conchas, trompetes, trombones, moogs, etc, com a turbul�ncia �nica dos drones de Stephen O'Malley e Greg Anderson.. O disco acaba com "Alice" onde ouvimos uma harpa. Monoliths & Dimensions � a bofetada de luva negra que mereciam todos quanto acharam que o som dos SunnO))) era limitado logo � partida. NP

1 Animal Collective Merriweather Post Pavilion Domino / Edel

Muitos tentaram rivaliz�-lo e ainda bem, alguns quase conseguiram e ainda bem, mas quase todos sab�amos que seria imposs�vel Merriweather Post Pavilion n�o ser o �lbum do ano. � um disco totalmente de agora, contagiante � primeira audi��o, viciante eterno, a Pop reformulada da Era da Informa��o, mescla de tudo o que j� se fez em caldeir�o de renova��o futurista, quase acess�vel ao mainstream sem nunca o ser, ainda para mais cuja expectativa criada em volta j� remontava a 2008. E como em todas as obras-primas houve alguma divis�o: para alguns, este era o melhor AC de sempre, para outros, mais do mesmo, nada de novo, etc. e tal. � o que faz os discos dos AC serem t�o bons. Mas como em todos os Pet Sounds e O.K. Computer da nossa vida, quanto mais dias passam, mais gente se rende e esse � poder desta imensa obra-prima, at� agora talvez o maior momento musical do s�culo XXI. Os Animal Collective est�o cada vez melhores, e a melhor not�cia � que n�o est�o parados e em 2010 prometem, novamente e muito. Conseguir�o eles pr�prios superar-se? NL