Topes 2011
· 12 Dez 2011 · 22:00 ·

Top 2011 · Top Portugueses 2011 · Topes Individuais · Momentos 2011 · Topes Ilustres

© Sofia Miranda


 

30

Dirty Beaches
Badlands
Zoo


Ainda se lembram do que fizeram no Ver�o de h� dois anos? Aquele disco dos Wavves a girar incessantemente, entre a boa onda dos Beach Boys e a adrenalina dos Pixies, juntando os nost�lgicos das longboards e os putos dos skates num mesmo espa�o-tempo de conflu�ncia sonora? O que � bom acaba depressa mas surgiu uma nova cena em efervesc�ncia para mais um Ver�o escaldante � Spike Lee: d� pelo nome de Dirty Beaches e passa bem no velhinho auto-r�dio a caminho de uma qualquer praia deserta. Dirty Beaches � Alex Zhang Hungtai � um m�sico nascido em Taiwan � desde cedo imigrado no Canad� � baseado Montreal. Ao ouvi-lo cantar imaginamos Elvis Presley nos anos 50, ou embarcamos no Mystery Train (1989) de Jim Jarmusch, com alguma melancolia � Wong Kar-Wai pelo meio da viagem. Hungtai n�o passa de uma alegoria p�s-moderna. Um museu de cera ambulante. E �Badlands� um disco que flui com inusitada frescura, faixa ap�s faixa, tudo no s�tio certo, das distor��es �s pianadas, em toada lo-fi. Curto e incisivo, directo ao peito e � anca, como os grandes cl�ssicos do g�nero. Gustavo Sampaio

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29

Rangers
Pan Am Stories
Not Not Fun


E logo ao segundo �lbum (sem contar com lan�amentos mais subterr�neos em fita) Joe Knight abandona os sub�rbios que ilustrou de modo brilhante em Suburban Tours, para explorar o mundo atrav�s de um filtro caleidosc�pico. Dada a ambi��o da empreitada, Pan Am Stories aterra sob a forma de um longo livro de viagem algo incoerente e, em �ltima an�lise, menos memor�vel do que o seu predecessor. Um risco necess�rio para n�o entorpecer num lifestyle rotineiro. Sequ�ncia low-cost de cl�ssicos �esfarrapados� como Exile on Main St., Sign O' the Times ou Something / Anything, Pan Am Stories reinventa a velha hist�ria do �lbum duplo como meio para digress�es e desvios em torno de um conceptualismo vago e perme�vel � l�gica de tentativa e erro. Neste caso, e tendo em conta os resultados, a metodologia funcionou ao ponto de conseguir que a colagem �pica de �Zeke's Dream� tenha o mesmo valor expressivo de uma can��o como �Bronze Casket�, sem qualquer vest�gio de pretensiosismo balofo ou justaposi��es a martelo. Um esfor�o admir�vel que tem ainda a capacidade de nos deixar com algumas das melhores melodias de guitarra poss�veis em baixa resolu��o. Bruno Silva

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28

Hype Williams
One Nation
Hippos In Tanks


Portanto, todas aquelas fotos "promocionais" baratas e a campanha viral lan�ada no Youtube por interm�dio de v�deos quase cr�pticos no seu autismo/patetice drogada, n�o deixam de ser apenas meras coordenadas sem grande contexto ideol�gico, quando todo esse simbolismo herm�tico acaba por ser o espelho difuso daquilo que as can��es de One Nation revelam. Ou seja, por mais refer�ncias � cultura popular que pairem por aqui e apesar da dimens�o l�dica transversal a toda a cria��o Hype Williams, estes dois potheads armados de sintetizadores, caixas de ritmos e pedais de efeitos n�o t�m o m�nimo de respeito para com a realidade. Ou pensam sequer em reconvert�-la numa nova. Limitam-se a pairar sobre toda essa confus�o benigna, sem quaisquer conceptualismos ou agendas culturais, aproveitando os seus destro�os para da� construir malhas t�o hipn�ticas quanto �Ital� ou �William, Shotgun Prayer� com tanto de vestigial como de obra feita nessa mesma incerteza. No fundo, � um mundo de trivia que permite reconhecer �Your Girl Smell Likes Chung When She Wears Dior� como uma frase do Wiley, apesar de samplar a Cassie na �Addiction� do Ryan Leslie ao ponto de a tornar ainda mais s�frega. Ou que �Untitled� se serve de um discurso de auto-ajuda como linha condutora para uma paran�ia muito Geogaddi. Descobrir esses rastos � apenas um pouco da divers�o. No final, os Hype Williams chegam ao seu terceiro �lbum embalados num hype mais do que justificado somente pela perseveran�a da sua m�sica. E esta continua a ser t�o fascinante e intrigante como sempre o foi. Bruno Silva

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27

Anna Calvi
Anna Calvi
Domino


Chegou aparentemente j� pronta em termos de imagem � uma combina��o de vermelho e preto, as cores do mist�rio e da carnalidade � e, arriscamos dizer, de som. Anna Calvi, incensada por gente como Brian Eno, surgiu armada de uma guitarra venenosa e de uma voz de grandeza teatral, perfeita para enredar os mais incautos, deixando-os indefesos perante as suas can��es. Calvi parece descolar do ch�o e julgar aqueles sem os seus poderes, instando as nuvens a acinzentarem-se e a criarem espect�culos de luz e cor. Descendente de �lbuns onde a agressividade se expressa pelo agitar de todas as articula��es, como �From Her To Eternity�, de Nick Cave & The Bad Seeds, ou das declama��es mais vincadas dos �lbuns de Patti Smith, o disco de estreia de Calvi procura n�o deixar pedra sobre pedra, sem, no entanto, deixar de lado uma rela��o saud�vel com a melodia. No fundo, imaginemos �Anna Calvi� como um Mon Cheri invertido, em que o doce s� � revelado a quem trincar fortemente o exterior �cido. Nuno Proença

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26

Dead Combo
Lisboa Mulata
Universal Music


Ser�, talvez, o �lbum mais maduro do duo e n�o apenas porque est�o, de facto, mais maduros. � consistente onde os outros n�o foram, � de uma beleza sublime onde os anteriores eram mais expostos, menos trabalhados e mais brutos. Belos na mesma, note-se. A primeira metade n�o desilude, mas n�o anuncia aquilo que a segunda parte do �lbum nos traz. �Esse olhar que era s� teu� era realmente s� teu. S� teu. S� teu. S� meu. E se eu s� �Ouvi o texto muito ao longe�, a culpa n�o foi de ningu�m sen�o minha, porque, se queres que te diga, espero ainda vir a ver a �Aurora em Lisboa�, uma �Lisboa Mulata� que � de mil e uma cores e que deixa a sensa��o de que h� e haver� sempre algo mais para ver e para ouvir e para cheirar. �Lisboa Mulata� � o meu �lbum favorito do duo T� Trips e Pedro Gon�alves e deixa um aug�rio muito positivo para o que se pode esperar do futuro. A cidade que � mais do que uma cidade, que � uma mulher, aguarda. Tiago Dias

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25

Bill Callahan
Apocalypse
Drag City / Flur


Neste terceiro disco p�s-Smog (descontado o �live� Rough Travel for a Rare Thing) Bill Challahan mant�m-se fiel ao seu caminho bem definido. Folk rendilhada, melodias desesperadamente certeiras e �aquela� voz, que acrescenta um outro n�vel de intensidade a qualquer can��o. Sendo inevit�vel a compara��o com o brilhante antecessor Sometimes I Wish We Were an Eagle, este Apocalypse fica em desvantagem, j� que n�o s� n�o consegue aglomerar tantas can��es memor�veis, mas perde tamb�m pela quantidade (este disco re�ne apenas sete temas). Ainda assim, h� pelo menos uma can��o que fica para sempre: �Riding for the Feeling�, com uma gravidade emocional ao n�vel do melhor Callahan (em conclus�o: �leaving is easy when you've got some place you need to be�). Al�m deste destaque natural h� ainda duas outras grandes can��es, �Baby's breath� (regresso ao desgosto de amor, �she was not a weed, she was a flower�) e �America!� (algo at�pica, ironicamente patri�tica: �I watch David Letterman in Australia, Oh America! You are so grand and gold, golden, I wish I was on the next flight to America�). Mais ningu�m canta como ele aquela intimidade (� falsa, mas n�s preferimos fingir que � verdade). A dada altura Bill canta �Oh I am a helpless man, so help me�. Ignorem, ele n�o precisa de ajuda, n�s � que precisamos que ele nos ajude, precisamos de m�sicas destas como de p�o para a boca. Nuno Catarino

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24

Aquaparque
Pintura Moderna
Mbari / Aquaboogie


Em � isso a� tive muitas d�vidas acerca da voz. Adepto da m�sica, sem d�vida, mas da voz? N�o sei, n�o. Onde j� v�o essas retic�ncias, que agora s�o meros pontos difusos, distantes? A pessoa que os ouve ter� mudado e Andr� Abel e Pedro Magina tamb�m, certamente. Um dia disseram-me que para deixar de fumar n�o havia melhor rem�dio do que meter um Portugu�s Suave dos amarelos ao bolso. Nunca percebi bem qual a raz�o. Logo a mim que tinha tamanha paix�o por aqueles pacotes. E pelos filtros. Em �Ultra Suave� h� algo desse falso conselho. Uma das can��es do ano, uma das can��es portuguesas da d�cada, de sempre, que, em repeti��o permanente, definiu os meus dias de 2011. O �Se tu quiseres entrar no corpo de outra pessoa tens de aproveitar a saliva que magoa� � o �Vou ao fundo do mar no corpo de uma mulher bonita� da nossa gera��o, da nossa era. � o �lbum que eu n�o entendo e do qual gosto por n�o conseguir encaixar � ainda � todas as pe�as. � a incompreens�o que me alimenta a vontade de querer perceber o que se passa ali. Tiago Dias

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23

The Glockenwise
Building Waves
Lovers & Lollypops / Vice / Popstock


Barcelos � uma cidade bonita. Quer dizer, basta ser a casa do melhor festival do Minho e arredores. Contudo, diz quem l� mora que � igualmente aborrecida; e que � sobretudo isso que motiva toda a cena rock que, nos dias que correm, a coloca no mapa. Entram em cena os Glockenwise e a energia, os riffs, as can��es dos quatro scumbags que comp�em a banda. Se h� quem lhe chame os Black Lips portugueses sem perceber que isso � ao mesmo tempo elogio e insulto (para qu� perder tempo a comparar o que tem tanta qualidade?), outros preferem ouvir ad nauseam a bomba que � Building Waves e todas as can��es que nele se encontram. Sem art�fices. Sem manhas. SEM MERDAS. S� guitarras, um baixo e uma bateria, uma dose imensa de divers�o, um rasgo de anti-pretensiosismo, e alguma falta de controlo. E n�o � preciso mais. Agora que est�o num hiato mais ou menos for�ado o disco faz cada vez mais sentido. N�o nos podemos esquecer, nunca, de que o rock n�o morre. H� e haver� sempre quem o retire dos esgotos em que por vezes se encontra. E, nesse aspecto, os Glockenwise s�o os melhores canalizadores de 2011. Um grande bem-haja. Em 2012, you better watch out! Paulo Cecílio

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22

Real Estate
Days
Domino


A capa remete de imediato para um disco brilhante de h� uma d�zia de anos atr�s: Oui dos The Sea and Cake. Remete apenas numa quest�o de design. O conte�do � outra coisa. Apesar de igualmente brilhante e viciante, est� a milhas das melodias de guitarra trabalhadas sobre a propuls�o r�tmica de John McEntire, com laivos de krautrock e Brasil. Partilha a suave brisa da melodia em propor��es de a��car id�nticas, mas numa base mais "jangle", mais Pavement quando eles pr�prios est�o numa de The Byrds, num "feeling" muito The Feelies, perdoem a redund�ncia. Estes �ltimos s�o ali�s seus conterr�neos de New Jersey (sim NJ n�o � s� italo-stronzos tipo Jersey Shore). E nessas mesmas estradas dos The Feelies temos novos dias de m�sica de longos percursos, milhas de auto-estradas do Midwest em velocidade de cruzeiro, Matthew Mondanile como novo Roger McGuinn superando o seu pr�prio disco de Ducktails, cereja se calhar deste bolo. Days � para ouvir de manh� � noite, da rega matinal do condom�nio ao n�on intermitente dos mot�is, � tamb�m o fruto Days do segundo dos Televison de Tom Verlaine a ecoar-nos sumarento e insistentemente, a relembrar-nos que h� sempre espa�o para grandes can��es. Can��es perfeitas. Um disco inteiro delas. Nuno Leal

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21

Toro Y Moi
Underneath The Pine
Carpark / Flur


E que tal levar o chillwave daqui para outro lado qualquer? � verdade que Chad Bundick se iniciou em Causers Of This, que n�o � brilhante, e que desde cedo nos foi habituando a situ�-lo num universo muito espec�fico e, parece-nos, com horizontes cada vez mais reduzidos. Mas como primeira impress�o s� h� uma, que tal esquecer o passado e levar tudo isto para um s�tio mais fixe? Foi isso que Toro Y Moi quis, e conseguiu. Underneath The Pine � mais cool em todo o seu desenrolar, sem esquecer o chillwave nem sequer todo aquele imagin�rio baseado no side chain e compress�es mil. Vai mais al�m, divertindo-se por entre novas linguagens e instrumentos, o que � de louvar, dado o historial do bicho. Depois de �Blessa�, um dos momentos mais felizes de 2010, Bundick parece ter piscado o olho a Dan Snaith, ou Caribou, como quem exprime um consciente topei essa, meu. Embrulha-se agora em novos len��is, pop fresca e at� funky, como em �New Beat� ou �Still Sound�. Dir�amos, dum modo propositadamente exagerado, que para Toro Y Moi tudo se resume ao potencial r�tmico e ao aproveitamento que faz destas novas regras de comunica��o. O que est� para tr�s passou, o que a� vem � seguramente mais fixe. E agora o chillwave vai passar a ter que mostrar B.I. � entrada. Simão Martins

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