Topes 2009
· 07 Dez 2009 · 22:13 ·

Top 2009 · Top Portugueses 2009 · Topes Individuais · Momentos 2009 · Topes Ilustres

© Teresa Ribeiro


 

30

Junior Boys
Begone Dull Care
Domino

De quando em vez, Jeremy Greenspan e Matt Didemus dão-nos sexo; muito sexo e de várias formas. Devagarinho, com amor, à bruta, casual, altamente libidinoso, promíscuo, com brinquedos, quente, intenso. Já lá vão quatro; álbuns, entenda-se. Begone Dull Care é mais uma história de amor num affair que dura há 10 anos: tem mais um daqueles conjuntos de canções pop electrónicas que ficam na cabeça e ficam na cabeça e ficam na cabeça até parecer que nos pertencem há décadas. E de facto as canções dos Junior Boys pertencem pelo menos em parte aos anos 80 e em parte razoável aos dias de hoje; vivem naquele limbo delicioso entre o passado e o futuro. Provam, no mínimo, que aquilo que falhou na década de 80 não tem porque errar à lupa dos dias que correm. Begone Dull Care prova: dos Junior Boys só têm chegado coisas boas, muito boas. Haja libido para lhes permitir a entrada nas nossas vidas. AG

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29

Bat For Lashes
Two Suns
Parlophone /EMI

Ao segundo disco, Natasha Khan transcende-se e atira-nos com um trabalho que encontra antepassados em todas as cantoras que trouxeram transcendência, realidade aumentada, expressividade à pop, como Kate Bush (muito requisitada em 2009), Liz Fraser (Cocteau Twins) ou Mimi Goese (Hugo Largo). Natasha deu um passo adicional, e colocou-as em órbita de Saturno, numa redoma de vidro que absorve a poeira cósmica, transformando-a em sons sintéticos e orgânicos, sobretudo piano e percussões, carregados de romantismo, sensualidade e mistério. A explosão estratosférica de "Glass", a belíssima balada "Moon And Moon", a fabulosa pop etérea de "Daniel", "Pearl's Dream", o gospel de "Peace Of Mind", ou o dueto com Scott Walker que encerra o disco, "The Big Sleep", revelam uma cantora seguríssima de si, e com um talento notável para fazer grandes e transcendentes músicas . NP

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28

N.A.S.A.
The Spirit of Apollo
Anti- / Edel

Os N.A.S.A. (North America/South America) são Squeak E. Clean e DJ Zegon, mas este disco é muito mais do que o trabalho da dupla, resulta do contributo de uma enorme lista de convidados. De um lado estão figuras incontornáveis da pop: David Byrne, Tom Waits, Karen O (Yeah Yeah Yeahs), John Frusciante, Seu Jorge, George Clinton, Santogold e M.I.A. Do outro, um conjunto transgeracional de ícones do hip-hop: Chuck D, KRS-One, Gift of Gab, Kool Keith, Kanye West e vários membros família Wu Tang - Method Man, RZA, Ghostface Killah e Ol' Dirty Bastard. No papel de produtores, Clean e Zegon encaminham todas estas participações numa direcção comum, conduzindo um hip-hop maleável com incrível genica pop que explode em refrões irresistíveis. The Spirit of Apollo é uma verdadeira enciclopédia, é um disco imenso sem medo de explorar diferentes direcções em paralelo. E serve para confirmar uma nova verdade universal: discos com bolas de espelhos na capa são diamantes pop. NC

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27

Blakroc
Blakroc
V2 / Nuevos Medios

À partida, misturar rap e rock não seria lá muito complicado. Afinal, para parafrasear Kyp Malone dos TV On The Radio numa entrevista do Bodyspace há uns anos: "Haverá algo mais rock'n'roll que os Public Enemy?" A ideia do DJ como banda foi explorada em "Bring The Noise", uma das melhores malhas de sempre, mas a mistura entre o rap e o rock raramente deu bons resultados. E, quando deu, pendia sempre mais para um lado que para o outro. Por cada momento da época de ouro de Rick Rubin na Def Jam e malha dos Run DMC, Beastie Boys ou do LL Cool J há um disco do Jay-Z com os Linkin Park. Os exemplos são incontáveis. Os Sonic Youth tinham a "Kool Thing" com o Chuck D, os R.E.M. tinham a "Radio Song" com o KRS-One, mas raramente houve uma mistura tão incrível de rock bom e rap bom. O projecto dos Black Keys veio mudar essa merda totalmente. Foram anos para chegar a uma coisa assim: bom gosto, boas malhas, boas rimas, bons rappers, bom tudo. Até dubstep há. E tem as duas vertentes nas medidas certas. Não é um caso tipo Roots, em que uma banda toca hip-hop, é mesmo mesmo uma banda de rap-rock. Era algo que já devia existir há anos. E, felizmente, agora existe. RN

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26

The XX
XX
Young Turks / Popstock

Um grupo de jovens amigos que se junta sobre o mesmo propósito para dar voz a uma geração adolescente frustrada e semi-deprimida, e que olha para o amor de forma superficial – sem entender nunca como ele funciona – enquanto que os devaneios sexuais são tomados como essenciais na evolução das relações, é um grupo consciente da sociedade e da cultura urbana que os rodeia. E isso transmite-se no som que os The XX produzem. Um som despido de preconceitos, trajado de preto, com calças a meio do rabo que, apesar de facilmente reconhecido, tem uma aura new-wave e r&b própria cantada na primeira pessoa – ou não – desejosa de vida longa. Música espaçosa, minimal, repleta de canções de recorte exacto, que acompanham bem uma garrafa do mais fino whisky enquanto somos auscultados sobre o que nos dá prazer num dia cinzento e abatido. E por não serem exuberantes na forma como nos transmitem emoções simples, ficamos fascinados com tão pouco que nos trazem logo na primeira apresentação. RS

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25

The Field
Yesterday and Today
Kompakt / Flur

Entre outras indicações positivas, Yesterday and Today veio confirmar The Field como o Guilherme Tell da electrónica aberta à utilização da matéria pendurada na árvore da nostalgia. Com um critério acutilante como ponta da flecha e a fracção de segundo no lugar da maçã, Alex Willner precisou apenas de samplar a mínima parte de canções predilectas para abrir portas sobre estâncias à parte, que todavia não deixam de estar ancoradas no original que lhes dá forma. É assim que o esplendor pop de “Everybody’s got to learn sometime”, o êxito dos Korgis datado de 1980, passa a ser a reverberação de um agradável arrepio sexual. De igual modo, é esta a ciência que transfere o pedaço exacto de êxtase na voz de Elizabeth Fraser, em “Lorelei” dos Cocteau Twins, para o cerne minimalista de “The More That I do”, momento de gratificação pura que apetece dançar até amanhecer. Chegamos ao sol com Alex Willner e ainda fica tanto por dizer sobre os méritos de Yesterday and Today. MA

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24

Raekwon
Only Built 4 Cuban Linx Part 2
EMI

A esperança, essa, estava sempre lá. Afinal, é Wu-Tang Clan Mas no fundo deviam haver poucos que acreditassem que Raekwon poderia igualar a sua histórica estreia a solo 14 anos depois. New Wu, House Of Flying Daggers e 10 Bricks foram acendalhas certeiras que avivaram o lume da expectativa a níveis elevadíssimos. E agora, com o disco nas mãos, é hora de cantar os louvores. Raekwon, e o seu principal parceiro de aventuras, Ghostface Killah, são absolutos virtuosos das palavras, criando histórias e cenários de um detalhe que nos deixa estupefactos, com uma técnica de MCing estonteante. Ajudado por uma equipa de produtores que reproduz o sopro gelado dos melhores momentos Wu-Tang, o Chef fez mais uma obra-prima que promete novas revelações a cada audição. NP

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23

Mountains
Choral
Thrill Jockey / Mbari

Vale a pena reparar que Choral é o mais discreto dos dois discos do ano com um padrão (vagamente psicadélico) na capa. Além disso, a capa de Choral pouco revela sobre o mundo que vai lá dentro e menos ainda sobre a variedade de climas ao alcance da electro-acústica dos Mountains: tropical, quando o feeback e o som da chuva caem consonantes, no seguimento do primeiro andamento de quase-valsa de “Telescope”; ameno, sempre que a guitarra discursa para dentro. Na precisa altura em que se fala da viragem da música out no sentido da “vida” e do “nascimento”, depois de tantos anos mórbidos à sombra do noise, os Mountains partem na frente dessa renovação com alguma da música mais fecunda e radiante feita actualmente. Choral sacia-nos hoje e cria muita sede para amanhã. MA

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22

Moritz Von Oswald Trio
Vertical Ascent
Honest Jon's / Flur

Imerso num estado gasoso ambient repleto de pequenas partículas dub, Vertical Ascent é um dos supremos momentos da electrónica deste ano, não só pela inesperada união de alguns dos mais influentes estetas do mais sofisticado techno, mas também pela peculiar perversão dos ensinamentos que o próprio Moritz Von Oswald protagonizou há mais de uma década. Juntando ao composto base – erguidas de sumptuosas e inteligentes manipulações sonoras – melodias hipnóticas imersas numa surreal e gelatinada substância com invulgares comportamentos free-jazz e os delírios rítmicos nervosos, mas exactos, este é um disco único que marca a união de Max Loderbauer (NSI) e Sasu Ripatti (Vladislav Delay ou Luomo, como quiserem) em torno do grande idealista do techno dub, e homem detrás da enorme instituição Basic Channel, o senhor Moritz Von Oswald, personagem suspeita, a manter (sempre) sobre apertada vigilância radar. RS

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21

Black Lips
200 Million Thousand
Vice / Edel

Foi necessário meio mundo desviar a atenção dos Black Lips, ao ponto de tratá-los como aquela piada porreira de 2007, para que, sorrateiramente, os rapazes chegassem ao disco que mais soluções encontra para uma palete limitada como deve ser a do rock de compreensão fácil. Isolado no seu campeonato, 200 Million Thousand estilhaça o espelho pop do anterior Good Bat Not Evil e, como castigo, colhe quinze canções indisciplinadas e negras sobre fluidos masculinos e encontros com Deus nas traseiras de uma estação de serviço. Fez-lhes bem a proximidade com as superstições do México para que colocassem em prática um rock de vampiro atraído por temas de mau gosto (o monstro Josef Fritzl, em “Trapped in a basement”) e pelo pescoço da América que tem no riff a sua bandeira. Qual não é então a nossa alegria, quando 200 Million Thousand não tem um, mas sim dois dos riffs do ano. MA

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30-21 | 20-11 | 10-1


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