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De quando em vez, Jeremy Greenspan e Matt Didemus d�o-nos sexo; muito sexo e de v�rias formas. Devagarinho, com amor, � bruta, casual, altamente libidinoso, prom�scuo, com brinquedos, quente, intenso. J� l� v�o quatro; �lbuns, entenda-se. Begone Dull Care � mais uma hist�ria de amor num affair que dura h� 10 anos: tem mais um daqueles conjuntos de can��es pop electr�nicas que ficam na cabe�a e ficam na cabe�a e ficam na cabe�a at� parecer que nos pertencem h� d�cadas. E de facto as can��es dos Junior Boys pertencem pelo menos em parte aos anos 80 e em parte razo�vel aos dias de hoje; vivem naquele limbo delicioso entre o passado e o futuro. Provam, no m�nimo, que aquilo que falhou na d�cada de 80 n�o tem porque errar � lupa dos dias que correm. Begone Dull Care prova: dos Junior Boys s� t�m chegado coisas boas, muito boas. Haja libido para lhes permitir a entrada nas nossas vidas. AG
Ao segundo disco, Natasha Khan transcende-se e atira-nos com um trabalho que encontra antepassados em todas as cantoras que trouxeram transcend�ncia, realidade aumentada, expressividade � pop, como Kate Bush (muito requisitada em 2009), Liz Fraser (Cocteau Twins) ou Mimi Goese (Hugo Largo). Natasha deu um passo adicional, e colocou-as em �rbita de Saturno, numa redoma de vidro que absorve a poeira c�smica, transformando-a em sons sint�ticos e org�nicos, sobretudo piano e percuss�es, carregados de romantismo, sensualidade e mist�rio. A explos�o estratosf�rica de "Glass", a bel�ssima balada "Moon And Moon", a fabulosa pop et�rea de "Daniel", "Pearl's Dream", o gospel de "Peace Of Mind", ou o dueto com Scott Walker que encerra o disco, "The Big Sleep", revelam uma cantora segur�ssima de si, e com um talento not�vel para fazer grandes e transcendentes m�sicas . NP
Os N.A.S.A. (North America/South America) s�o Squeak E. Clean e DJ Zegon, mas este disco � muito mais do que o trabalho da dupla, resulta do contributo de uma enorme lista de convidados. De um lado est�o figuras incontorn�veis da pop: David Byrne, Tom Waits, Karen O (Yeah Yeah Yeahs), John Frusciante, Seu Jorge, George Clinton, Santogold e M.I.A. Do outro, um conjunto transgeracional de �cones do hip-hop: Chuck D, KRS-One, Gift of Gab, Kool Keith, Kanye West e v�rios membros fam�lia Wu Tang - Method Man, RZA, Ghostface Killah e Ol' Dirty Bastard. No papel de produtores, Clean e Zegon encaminham todas estas participa��es numa direc��o comum, conduzindo um hip-hop male�vel com incr�vel genica pop que explode em refr�es irresist�veis. The Spirit of Apollo � uma verdadeira enciclop�dia, � um disco imenso sem medo de explorar diferentes direc��es em paralelo. E serve para confirmar uma nova verdade universal: discos com bolas de espelhos na capa s�o diamantes pop. NC
� partida, misturar rap e rock n�o seria l� muito complicado. Afinal, para parafrasear Kyp Malone dos TV On The Radio numa entrevista do Bodyspace h� uns anos: "Haver� algo mais rock'n'roll que os Public Enemy?" A ideia do DJ como banda foi explorada em "Bring The Noise", uma das melhores malhas de sempre, mas a mistura entre o rap e o rock raramente deu bons resultados. E, quando deu, pendia sempre mais para um lado que para o outro. Por cada momento da �poca de ouro de Rick Rubin na Def Jam e malha dos Run DMC, Beastie Boys ou do LL Cool J h� um disco do Jay-Z com os Linkin Park. Os exemplos s�o incont�veis. Os Sonic Youth tinham a "Kool Thing" com o Chuck D, os R.E.M. tinham a "Radio Song" com o KRS-One, mas raramente houve uma mistura t�o incr�vel de rock bom e rap bom. O projecto dos Black Keys veio mudar essa merda totalmente. Foram anos para chegar a uma coisa assim: bom gosto, boas malhas, boas rimas, bons rappers, bom tudo. At� dubstep h�. E tem as duas vertentes nas medidas certas. N�o � um caso tipo Roots, em que uma banda toca hip-hop, � mesmo mesmo uma banda de rap-rock. Era algo que j� devia existir h� anos. E, felizmente, agora existe. RN
Um grupo de jovens amigos que se junta sobre o mesmo prop�sito para dar voz a uma gera��o adolescente frustrada e semi-deprimida, e que olha para o amor de forma superficial � sem entender nunca como ele funciona � enquanto que os devaneios sexuais s�o tomados como essenciais na evolu��o das rela��es, � um grupo consciente da sociedade e da cultura urbana que os rodeia. E isso transmite-se no som que os The XX produzem. Um som despido de preconceitos, trajado de preto, com cal�as a meio do rabo que, apesar de facilmente reconhecido, tem uma aura new-wave e r&b pr�pria cantada na primeira pessoa � ou n�o � desejosa de vida longa. M�sica espa�osa, minimal, repleta de can��es de recorte exacto, que acompanham bem uma garrafa do mais fino whisky enquanto somos auscultados sobre o que nos d� prazer num dia cinzento e abatido. E por n�o serem exuberantes na forma como nos transmitem emo��es simples, ficamos fascinados com t�o pouco que nos trazem logo na primeira apresenta��o. RS
Entre outras indica��es positivas, Yesterday and Today veio confirmar The Field como o Guilherme Tell da electr�nica aberta � utiliza��o da mat�ria pendurada na �rvore da nostalgia. Com um crit�rio acutilante como ponta da flecha e a frac��o de segundo no lugar da ma��, Alex Willner precisou apenas de samplar a m�nima parte de can��es predilectas para abrir portas sobre est�ncias � parte, que todavia n�o deixam de estar ancoradas no original que lhes d� forma. � assim que o esplendor pop de �Everybody�s got to learn sometime�, o �xito dos Korgis datado de 1980, passa a ser a reverbera��o de um agrad�vel arrepio sexual. De igual modo, � esta a ci�ncia que transfere o peda�o exacto de �xtase na voz de Elizabeth Fraser, em �Lorelei� dos Cocteau Twins, para o cerne minimalista de �The More That I do�, momento de gratifica��o pura que apetece dan�ar at� amanhecer. Chegamos ao sol com Alex Willner e ainda fica tanto por dizer sobre os m�ritos de Yesterday and Today. MA
A esperan�a, essa, estava sempre l�. Afinal, � Wu-Tang Clan Mas no fundo deviam haver poucos que acreditassem que Raekwon poderia igualar a sua hist�rica estreia a solo 14 anos depois. New Wu, House Of Flying Daggers e 10 Bricks foram acendalhas certeiras que avivaram o lume da expectativa a n�veis elevad�ssimos. E agora, com o disco nas m�os, � hora de cantar os louvores. Raekwon, e o seu principal parceiro de aventuras, Ghostface Killah, s�o absolutos virtuosos das palavras, criando hist�rias e cen�rios de um detalhe que nos deixa estupefactos, com uma t�cnica de MCing estonteante. Ajudado por uma equipa de produtores que reproduz o sopro gelado dos melhores momentos Wu-Tang, o Chef fez mais uma obra-prima que promete novas revela��es a cada audi��o. NP
Vale a pena reparar que Choral � o mais discreto dos dois discos do ano com um padr�o (vagamente psicad�lico) na capa. Al�m disso, a capa de Choral pouco revela sobre o mundo que vai l� dentro e menos ainda sobre a variedade de climas ao alcance da electro-ac�stica dos Mountains: tropical, quando o feeback e o som da chuva caem consonantes, no seguimento do primeiro andamento de quase-valsa de �Telescope�; ameno, sempre que a guitarra discursa para dentro. Na precisa altura em que se fala da viragem da m�sica out no sentido da �vida� e do �nascimento�, depois de tantos anos m�rbidos � sombra do noise, os Mountains partem na frente dessa renova��o com alguma da m�sica mais fecunda e radiante feita actualmente. Choral sacia-nos hoje e cria muita sede para amanh�. MA
Imerso num estado gasoso ambient repleto de pequenas part�culas dub, Vertical Ascent � um dos supremos momentos da electr�nica deste ano, n�o s� pela inesperada uni�o de alguns dos mais influentes estetas do mais sofisticado techno, mas tamb�m pela peculiar pervers�o dos ensinamentos que o pr�prio Moritz Von Oswald protagonizou h� mais de uma d�cada. Juntando ao composto base � erguidas de sumptuosas e inteligentes manipula��es sonoras � melodias hipn�ticas imersas numa surreal e gelatinada subst�ncia com invulgares comportamentos free-jazz e os del�rios r�tmicos nervosos, mas exactos, este � um disco �nico que marca a uni�o de Max Loderbauer (NSI) e Sasu Ripatti (Vladislav Delay ou Luomo, como quiserem) em torno do grande idealista do techno dub, e homem detr�s da enorme institui��o Basic Channel, o senhor Moritz Von Oswald, personagem suspeita, a manter (sempre) sobre apertada vigil�ncia radar. RS
Foi necess�rio meio mundo desviar a aten��o dos Black Lips, ao ponto de trat�-los como aquela piada porreira de 2007, para que, sorrateiramente, os rapazes chegassem ao disco que mais solu��es encontra para uma palete limitada como deve ser a do rock de compreens�o f�cil. Isolado no seu campeonato, 200 Million Thousand estilha�a o espelho pop do anterior Good Bat Not Evil e, como castigo, colhe quinze can��es indisciplinadas e negras sobre fluidos masculinos e encontros com Deus nas traseiras de uma esta��o de servi�o. Fez-lhes bem a proximidade com as supersti��es do M�xico para que colocassem em pr�tica um rock de vampiro atra�do por temas de mau gosto (o monstro Josef Fritzl, em �Trapped in a basement�) e pelo pesco�o da Am�rica que tem no riff a sua bandeira. Qual n�o � ent�o a nossa alegria, quando 200 Million Thousand n�o tem um, mas sim dois dos riffs do ano. MA |
Topes 2009
· 07 Dez 2009 · 22:13 ·