Listas dos melhores 2007
· 10 Dez 2007 · 08:00 ·

Top álbuns 2007 · Top álbuns portugueses 2007 · Momentos 2007 · Tops ilustres

© Teresa

Numa época de alteração dos hábitos musicais, um disco ainda deve ter algum significado. Deve e tem. Não sabemos como será daqui a alguns anos - ou poucos, dependendo da velocidade destas coisas - mas agora percorrer um disco do inicio ao seu fim continua a ser uma das experiências mais intensas acessíveis ao Homem. É verdade que são os singles aqueles que andam na ribalta mas, regra geral, estes são filhos de pai-disco, aventura muitas vezes certeira retirada de um contexto mais importante. Talvez não seja ainda a altura certa para dizer se desde ano sairam discos que vão ficar para a história, mas na actualidade existem discos que se sobressaem. Nós temos 30. Uns dirão que são muitos, outros dirão que 30 discos é a dose para apenas uma semana, mas eles estão aqui - é a nossa história. De seguida mostram-se então as três dezenas de discos que abanaram com a "redacção" do Bodyspace neste querido 2007 que se aproxima do seu final. André Gomes


30: 
Justice
Ed Banger
† (Cross) é para muitos o mais pertinente registo a sair dos campos Elísios desde Homework. Antes mais recupera o espírito aventureiro e rebelde do disco de estreia dos Daft Punk. Depois devolve nesta década o charme do french-touch sem que realmente se preocupe com essa designação. † é festivo na mesma proporção que é inventivo na tentativa de construção de uma linguagem de autor. É electro, é funk, é house, é disco mas também uma simbólica ambição de ser um registo rock onde os sintetizadores substituem competentemente as guitarras. Será em última instância uma das poucas consequências positivas do malogrado electro-clash. Ou talvez não. Seja como for os Justice são os meninos bonitos da actual música francesa que uma vez mais se vê representada no mundo por dois jovens e ambiciosos produtores. Rafael Santos
29: 
Burning Star Core Operator Dead, Post Abandoned
No Quarter
Como se já não bastasse o iluminado Blood Lightning 2007 editado logo no início do ano, o projecto liderado por C. Spencer Yeh teve a audácia de fazer ainda melhor em 2007. Em Operator Dead...Post Abandoned, o drone já perfeccionado pelo seu mentor ao longo de uma respeitável carreira assume uma dimensão quase telúrica, e paradoxalmente mais próxima do Terra. Transportando para o seu código genético o músculo do rock e a expressividade do free jazz, liquidificados em magma incandescente e nunca estável (auto-destrutivo) . 2007 não é só o ano do porco, mais do que tudo é o ano de C. Spencer Yeh, e se tal entusiasmo pode parecer desmedido, a verdade é que desde Halve Maen dos Double Leopards nenhum disco de drone/noise/psych/whatever se revelou tão "completo" e, em última análise essencial. Bruno Silva
28: 
Lobster Sexually Transmitted Electricity
Bor Land
Um dos nomes mais respeitados de uma certa "música periférica portuguesa", sempre subsistiu no duo lisboeta um certo apego a formas mais tipificadas de rock, que, não sendo convencionais, sempre se pautaram por uma distensão muscular em headbanging compulsivo. Ou seja, relembramos as suas músicas ("Farewell Chewbaca" é um clássico moderno) e certamente já ensaiámos passos disconexos de quase-dança em devoção ao riff furioso e ao ritmo espasmódico. Sexually Transmitted Electricty é o depurar daquilo que tantos palcos temem, os fantasmas do stoner rock filtrados pela confontação do hardcore, apontamentos solistas a la Reign in Blood de braço dado com a expansividade do delay, e um eterno ruminar sobre o cansaço da explosão. Murros no estômago necessários para que este "rock" se volte a agitar. Bruno Silva
27: 
Mick Flower & Chris Corsano The Radiant Mirror
Textile
Se Chris Corsano já tinha deixado a sua marca neste 2007 com o disco A Glancing Blow (Clean Feed), em trio com o grande Evan Parker e John Edwards, esta gravação em duo com Mick Flower ("dos velhinhos e essenciais Vibracathedral Orchestra" © Pedro Rios) é a confirmação da sua imparável energia criativa. A acompanhar o estranho som dronado do banjo japonês de Flower, a meio caminho entre uma cítara e uma guitarra elétrica, a percussão de Corsano é sempre atenta e vibrante. Focados no som dos seus instrumentos, sem acrescentos desnecessários, Corsano e Flower constroem juntos um assombroso monumento de violenta hipnose. Nuno Catarino
26: 
Arcade Fire Neon Bible
Merge
É uma lei quase sem fuga possível: depois de uma estreia bombástica, dificilmente um segundo disco consegue a mesma aclamação da crítica e do público. Para conseguir o mesmo impacto de Funeral, os canadianos teriam de fazer Cristo descer à Terra. Como tal se revelou impossível, compraram uma igreja e gravaram nela um álbum com muitos bons momentos (como “Ocean of Noise” ou a springsteeniana “(Antichrist Television Blues)”), mas também algum cheiro a déjà vu. Exemplo disso é “No Cars Go”, simultaneamente o melhor e o pior de Neon Bible: é um tema incrivelmente apaixonado e épico (dos melhores da carreira da banda), mas a sua inclusão no disco (com ligeiríssimas alterações em relação à versão editada num EP em 2003) mostra alguma preguiça e muito oportunismo comercial. João Pedro Barros
25: 
Battles Mirrored
Warp / Vortex
Os Battles são provavelmente uma das bandas mais odiadas pelas pessoas que acompanham “o que de mais marginal se passa no rock” (uma das piores expressões de sempre). Os argumentos usados são sempre os de que o que eles fazem (hoje em dia, porque é sempre bom gostar dos EPs que foram lançados antes do álbum) é roubado de visionários como os Black Dice, os Lightning Bolt ou os Animal Collective. Se em parte isso é verdade, os Battles e Mirrored não soam mesmo como nenhuma dessas bandas. Guitarra numa mão, teclado noutra, bateria poderosíssima, vozes alteradas (não confundir com “irritantes” e ouvir “Atlas”, o mais gloriosamente estranho single pop do ano) e quase canções são os ingredientes. Math-rock do futuro, a provar que o género não morreu, com alguns dos "melhores músicos do rock recente" (outra expressão horrível). Rodrigo Nogueira
24: 
Norberto Lobo Mudar de Bina
Bor Land
A meio caminho entre o legado português (com Carlos Paredes como óbvia referência, já que o disco lhe é dedicado) e o legado americano (que terá em John Fahey o seu máximo expoente), Lobo explora em Mudar de Bina todo o potencial da guitarra acústica, num álbum quase 100 por cento a solo. A partir dessa abordagem, o músico criou um dos mais belos álbuns portugueses desta década, com tanto de simplicidade como de complexidade: as harmonias são por vezes intrincadas, mas nunca se perde o sentimento de um disco caseiro e lo-fi; a tranquilidade é dominante, mas o ouvinte não deixa de sentir momentos de energia e inquietação. Na sua estreia em disco, Norberto Lobo mostra uma técnica apurada na arte do dedilhar, mas o que mais impressiona é que consegue ser mais impressivo do que orquestras inteiras. João Pedro Barros
23: 
Laura Veirs Saltbreakers
Nonesuch
Ela é uma espécie de girl next door. Das crises existenciais ao curso de Geologia, vários são os indícios de uma potencial vida banal. E, no entanto, nem tudo o que parece é e nem tudo o que Laura Veirs faz é inconsequente. Prova disso é que Saltbreakers é já o sexto álbum de uma discografia toda ela recomendável. O travo pop-folk mantém-se firme, bem como a simplicidade convincente da prestação vocal de Veirs. E há a percussão a cargo de Tucker Martine, que conhecemos das colaborações com Sufjan Stevens ou The Decemberists. Se juntarmos ainda o facto de a faixa “Don’t lose yourself”, cartão de visita do disco, incluir uma frase retirada da obra “Ensaio Sobre a Cegueira” de Saramago, ficamos com mais certezas de que a banalidade não mora aqui. Eugénia Azevedo
22: 
Bill Callahan Woke on a Whaleheart
Drag City / Ananana
Bill Callahan não sabe fazer discos maus. Em 2007, pausou o alter ego Smog e assinou o seu primeiro disco em nome próprio, que se junta a discos incríveis como Knock Knock (1999) e Supper (2003). Com a ajuda de Neil Hagerty (ex-Royal Trux, Howling Hex) e mais convidados, Callahan faz nove impecáveis canções de travo clássico. Alguns destaques (quase aleatórios): "From the rivers to the ocean" e "Diamond dancer", com as cordas a agraciar o embalo grave da voz de Bill; as guitarras desalinhadas e os coros femininos de "Footprints"; e, claro, "Sycamore" (melhor canção para o amor do ano?). Pedro Rios
21: 
Deerhoof Friend Opportunity
Kill Rock Stars / Tomlab / Flur
Friend Opportunity não é um disco de rock’n’roll normal, mas é o mais perto que os Deerhoof chegarão disso. Pode ser confundido com vender-se e tornar o som deles acessíveis, mas é um sinal de maturidade, tanta maturidade quanto uma banda que tem uma japonesa adorável a dizer que se fosse um homem e nós um cão nos atiraria um pau. E, como sempre nos Deerhoof, o inesperado acontece. Depois de um disco inteiro de canções curtas, pop, com melodias cantaroláveis, baterias estranhas, guitarras Deerhooficas e a voz doce de Satomi Matsuzaki, para além de uma parafrenália de novos elementos nas canções, 11 minutos e tal (o que num disco de 36 minutos não é nada normal) de experimentação. Rodrigo Nogueira

30-21 | 20-11 | 10-1


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